
O Natal da catequese
A catequese em Jales, na
empresa,
Não era igual à dada na
capela,
Tinha outro mistério,
outra leveza
Por ser outra senhora a
falar dela.
Na casa do Senhor da minha
aldeia,
Dizíamos de cor toda a
doutrina,
Em cadências de voz, marcada e cheia,
Dessa pressa infantil tão
genuína.
Na casa da empresa, sem
igual,
A D. Margarida era em
ternura,
De voz e de presença natural,
O anjo anunciador da
escritura.
Tão nova, tão bonita e tão
intensa,
Falava-nos da bíblia com
imagens;
A gente enamorava-se,
suspensa,
Dos casos, das acções, das
personagens.
A aldeia era o seu povo escolhido,
E a mina era um viveiro de
visões:
Três turnos de trabalho
extractivo,
Num rol das mais diversas
profissões.
Havia ali os ricos e os
pobres,
Famílias numerosas a criar;
Famílias numerosas a criar;
Ela viu nos mais novos os
mais nobres
A quem se dedicou sem
hesitar.
Uma vez, o presépio foi
projecto:
Pediu-nos um à nossa
dimensão,
Cada qual que fizesse um
objecto
E mostrasse ao Menino a
sua acção.
(Então, no refeitório dos mineiros,
Ao fundo, onde o teatro se fazia,
Com musgo e ramagens de pinheiros
Um enorme presépio se exibia.)
Passei então a projectar a
história
Da Sagrada Família em toda
a gente;
E a Mina era a gruta da
vitória,
Nunca de Herodes vista
claramente.
Eu via por romanos,
capatazes,
Sabia dos pastores, dos
carpinteiros;
Judeus, via os mineiros
mais audazes,
E por Reis Magos via os
engenheiros.
As mães faziam todas de
Maria;
Josés, havia muitos e
calados;
E o Raul Toca-o-fole e
companhia
Bem chegavam por músicos
azados
Por Jesus, os meninos não
faltavam,
Em todos os degraus do
crescimento;
Do Pito, vários machos
carregavam
As prendas para o Santo Nascimento.
O Lucas fez a cama prò
Menino,
Com a forma de burra para
a lenha;
E trouxe palha e feno com
destino
Às reses que lá havia e
que Deus tenha.
Mas na maior figura do
Natal,
O anjo anunciador de tanta
vida,
O rosto, a voz, o colo
maternal,
Eu via sempre a D.
Margarida.
José Machado / 2016-2017
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