Com os votos de boas festas, os meus e os de minha esposa e os de minha família, em homenagem à aldeia de Campo de Jales, freguesia de Vreia de Jales, concelho de Vila Pouca de Aguiar. Ali existiram as Minas de Jales, empresa em que meu pai trabalhou desde os 19 anos até se aposentar. Minha mãe era de Raiz do Monte. Meus pais casaram em 1951. Nascemos ali os 9 filhos, ainda que a primeira filha tenha sido dada à luz na clínica Bissaia Barreto em Vila Real. Ali fizemos todos a quarta classe. Ali voltamos a cada passo, ali temos as nossas memórias mais intensas e marcantes. Minha mãe nasceu em 1924 e faleceu em 2013; meu pai nasceu em 1927, está ainda de boa saúde e com boa memória dos acontecimentos. Vive em Lisboa com a filha São e tem por perto mais quatro filhos, a Lai, o João, a Bibita e a Zeza, Por Braga estou eu e o Tó, o Fernando está no Porto e a Paula em Santa Maria da Feira.
O Natal da catequese
A catequese em Jales, na
empresa,
Não era igual à dada na
capela,
Tinha outro mistério,
outra leveza
Por ser outra senhora a
falar dela.
Na casa do Senhor da minha
aldeia,
Dizíamos de cor toda a
doutrina,
Em cadências de voz, marcada e cheia,
Dessa pressa infantil tão
genuína.
Na casa da empresa, sem
igual,
A D. Margarida era em
ternura,
De voz e de presença natural,
O anjo anunciador da
escritura.
Tão nova, tão bonita e tão
intensa,
Falava-nos da bíblia com
imagens;
A gente enamorava-se,
suspensa,
Dos casos, das acções, das
personagens.
A aldeia era o seu povo escolhido,
E a mina era um viveiro de
visões:
Três turnos de trabalho
extractivo,
Num rol das mais diversas
profissões.
Havia ali os ricos e os
pobres,
Famílias numerosas a criar;
Famílias numerosas a criar;
Ela viu nos mais novos os
mais nobres
A quem se dedicou sem
hesitar.
Uma vez, o presépio foi
projecto:
Pediu-nos um à nossa
dimensão,
Cada qual que fizesse um
objecto
E mostrasse ao Menino a
sua acção.
(Então, no refeitório dos mineiros,
Ao fundo, onde o teatro se fazia,
Com musgo e ramagens de pinheiros
Um enorme presépio se exibia.)
Passei então a projectar a
história
Da Sagrada Família em toda
a gente;
E a Mina era a gruta da
vitória,
Nunca de Herodes vista
claramente.
Eu via por romanos,
capatazes,
Sabia dos pastores, dos
carpinteiros;
Judeus, via os mineiros
mais audazes,
E por Reis Magos via os
engenheiros.
As mães faziam todas de
Maria;
Josés, havia muitos e
calados;
E o Raul Toca-o-fole e
companhia
Bem chegavam por músicos
azados
Por Jesus, os meninos não
faltavam,
Em todos os degraus do
crescimento;
Do Pito, vários machos
carregavam
As prendas para o Santo Nascimento.
O Lucas fez a cama prò
Menino,
Com a forma de burra para
a lenha;
E trouxe palha e feno com
destino
Às reses que lá havia e
que Deus tenha.
Mas na maior figura do
Natal,
O anjo anunciador de tanta
vida,
O rosto, a voz, o colo
maternal,
Eu via sempre a D.
Margarida.
José Machado / 2016-2017
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