Esta
semana foi declarada a greve dos professores por descontentamento com o
processo de congelação das carreiras e mais ainda por rejeição do apagamento de
anos na progressão das carreiras, medida que o Governo quereria fixar em
orçamento para este ano, dando assim início a um apagão na contagem do tempo de
serviço dos professores.
Não sei de onde brotam semelhantes ideias e tais
medidas, mas se é do Governo que acha que não tem dinheiro para pagar aos professores, de acordo com o que está estabelecido legalmente, então faz-me espécie que
tenham sido as forças apoiantes deste governo a promoverem o dia de greve, que
não fiz evidentemente por esta estupefacção que acabo de anunciar.
Como é
possível que sindicatos afectos aos partidos que constituem este modo de
governar que popularmente se diz geringonça tenham mobilizado os professores
para a greve, quando são esses mesmos partidos e forças sindicais a sustentar as políticas
governamentais de congelamento de carreiras e de apagamento de tempo de
serviço?
Eu aceito, como cidadão, que o mal dos cortes orçamentais se distribua
equitativamente por toda a função pública, mas toda mesmo, não é por uns em
detrimento de outros ou por poucos em detrimento de muitos. Ou há moralidade, ou
comem todos, assim diz o ditado de sabedoria proverbial. À parte estas
considerações, tenho para mim que a ilegalidade de corte de tempo nas carreiras
de quem quer que seja não é solução que se valide facilmente em democracia.
Quanto à questão subjacente a este problema bicudo de corte de massa salarial, para efeitos de orçamentação da despesa pública, que é a questão de se suspeitar
continuadamente da avaliação dos professores, voltamos sempre ao mesmo
rémeréme: os professores estão a ser avaliados como o Estado quer e determina, portanto não fica bem ao governo invocar esta
desculpa de um problema para o qual não adiantou outra solução que não fosse
apagar os anos de serviço.
As greves nada resolvem e, no caso das que são feitas
nos serviços da educação, apenas contribuem para o alastrar das representações
negativas que os alunos fazem da classe: na quarta-feira os alunos estavam
desejosos de que os professores fizessem greve e mais nada, apenas porque tal
situação é a que decorre do estado geral e quotidiano da educação: quanto pior,
melhor.
No meio da coisa deu-se a curiosidade de o ministro ser hospitalizado
por motivos de perda de equilíbrio, ao que li e percebi. Ou seja, tudo se
configurou para o dia ficar simbolicamente ligado à doençaa, à perda de rumo,
ao desnorte de quem nos governa. Quando representamos a tragédia nos sinais do
tempo, ela tende a confirmar-se nos caminhos da vida.
Não deixa também de ter sido
simbolicamente aproximada a verba avançada para uma hipotética futura criação de
empresa estatal de gestão das florestas ardidas e a verba, quase a mesma, necessária para reposicionar os professores nas carreiras, os tais 650 milhões
mais ou menos. Ambas as realidades ardidas, a floresta e a educação, ambas a precisarem de uma injecção
de capital, ambas a requererem um socorro. Vão as árvores merecê-la, a verba, e
vão os professores vê-la por um canudo. Que ao menos se visse uma humildade de
gestão no apontar dos números, que ao menos se visse um avançar humilde de
soluções. Mas não se vê e agora restará aos vivos clamarem sobre a sorte dos
mortos que estes, ao menos, se vêem acompanhados de festança e abastança em horas de soberba bazófia
de grandeza perdida.
Nota: acabei de escrever esta crónica e apareceu-me no rodapé da página, do jornal ECO online « Governo cede aos professores: tempo de serviço vai contar».
Mais me convenci da manipulação que foi este dia de greve...
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