O Amílcar enviou-me um poema de Sergei Yesenin:
Não tenho amigos entre as pessoas,
Sou leal a um reino diferente.
Estou pronto para colocar minha melhor gravata
No pescoço de qualquer cão.
O Amílcar enviou-me um poema de Sergei Yesenin:
Não tenho amigos entre as pessoas,
Sou leal a um reino diferente.
Estou pronto para colocar minha melhor gravata
No pescoço de qualquer cão.
Yasunari Kawabata - sobre o erotismo na metafísica da finitude
Li agora e ao mais é de há muito e eu desconhecia. O autor foi prémio Nobel em 1968. O livro, em PDF foi-me enviado pelo meu amigo Amílcar Augusto Rodrigues, psiquiatra com quem me alivio espiritualmente em questões de leituras e de comentários e de quem sou visita breve à sua morada transmontana, minha terra de nascimento, Jales. Eu e o Amílcar fomos vizinhos, casa com casa, na minha infância e na sua juventude, uma distância breve de idades que foi maior e agora não se nota. Cheguei a receber explicações dele em matéria de estudos primários, foi na casa de seus pais que vi pela primeira vez televisão. A sua mãe, A D. Leonor, era de Carrazedo do Alvão e o seu pai, Maximiano Rodrigues, era das Pedras Salgadas; foram morar para Jales quando o pai foi trabalhar para as Minas de Jales; antes trabalhara nos hotéis das Pedras Salgadas e eu já li histórias imprescindíveis que o Amílcar escreveu sobre esse tempo de vida de seu pai. Desde então, aguardo que o Amílcar publique para surpresa de quantos o conhecemos. Como médico psiquiatra, o Amílcar influenciou a minha filosofia de abordagem dos alunos. Uma palavra com ele e os horizontse da serra da Presa ou da de Quintã reconfiguram-se como símbolos. Vamos ao livro enviado que li de rajada e com o qual fiquei surpreendido: desconhecia que houvesse no Japão semelhante oferta de serviços aos homens velhos, velhos com mais de 60 anos, não sei se o critério hoje mudaria. Mas que serviço? O de poderem passar a noite dormindo com uma jovem em estado de nudez e de adormecimento controlado, narcotizado, ou seja, sem reacçoes de movimento ou de conversa conscientes com o cliente. Quem procura tal serviço sabe ao que vai e como se avia do mesmo é coisa que ficará com ele, já que o narrador deixa sobre isso a dúvida sistemática de que haja satisfação efectiva de actos sexuais. A história contada deixou-me ressonâncias de outras leituras que eu fizera e que associavam o cumprimento da velhice à ideia de satisfação plena de imaginário erótico, numa ânsia de procura de juventude ou numa ânsia de metafísica erótica como prenúncio de felicidade eterna. Que o cliente, o velho Eguchi aproveitou as vezes e as noites para nos revelar toda a sua vida e para nos inquietar sobre os nossos recalcamentos masculinos, chegando a aproximar o erotismo da violência extrema que é o desejo de ser senhor da morte do outro, isso deu para ler bem, embora sempre naquela expectativa de novidade que excitasse o imaginário, mas isso foi coisa que fica a esperar por outro género de histórias. Em algumas frases, tiro duas citações, a coisa parece andar rente a experiências de fuga à ideia de morte ou de acabamento físico pela perda da juventude, mas também à ideia de regresso às sensações primárias da beleza feminina ou do regresso aos braços da mãe criadora ou da recuperação de energias eróticas para aguentar o quotidiano.«Quando se deitavam em contato com a nudez da jovem mulher, os sentimentos que ressurgiam do fundo dos seus âmagos talvez não fossem apenas o medo da morte que se aproximava ou o lamento pela juventude perdida.»
Não sei bem, mas assim me parece. Assuntos não faltam, é certo, mas os actos de escrita não dependem só deles, dependem mais de provocações e estas não andam a par de quem me digo, ou porque ninguém me queira incomodar, ou porque não se veja nisso utilidade imediata, ou porque a coisa até resultaria e quem a não faz, sabe-o bem.
Mas tambem não direi que não haja provocações, que as há, irritantes e continuadas, mas são do foro da oralidade e requerem o embate imediato de comentário ou de conversa telefónica. O mais das vezes, são reacações de sensibilidade. Por exemplo: tudo quanto me provoca, na teia dos amigos da rede virtual, sobre sermos um país de acomodados, sobre o estarmos a pagar o que não queremos mudar, como o de aceitarmos naturalmente a corrupção dos modos de governação, como a de termos o Marcelo e o Costa e o Medina e os outros todos que são quem são e já sabemos que o são...
Pois, aceito, mas não me ralo, fiz a opção de não reagir para lhes não dar valor, convencido que de pouco me adiantaria. Outro exemplo, o eu não tomar posição sobre amigos que estão nos antípodas de mim em matéria de pensar o conflito entre a Ucrânia e a Rússia, ou entre Israel e a Palestina... Pois, mas esses amigos estão comigo noutros assuntos e se neste não estamos juntos, o debate acabará por acontecer... O mesmo se diga para a não condenação dos EUA, ou a não condenação da Europa, ou a não condenação da Igreja... Pois, as coisas acabarão por se saber.
Que estou à espera de ser o último a falar? Que estou com medo de errar? Que tomo o silêncio como bom caminho? Ora, ora. Se calhar...