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segunda-feira, novembro 28, 2022

Postal de Natal de 2022


Na expressão da solidariedade com a Ucrânia, dedico o meu poema de Natal 2022 aos que resistem na trincheira da palavra e com ela esperam alcançar a paz. (Uso a imagem de uma escultura de Helder de Carvalho, que foi exposta nas ruas de Braga, concretamente no Largo Carlos Amarante).





Guião para auto de Natal 

 

A mãe já deu à luz! Está tudo bem!

Siga o caso nas redes sociais:

Imagens da criança com seus pais

E gente a visitá-los, saiba quem!

 

[nas ruas há festa * e a publicidade *

 com drones atesta * a felicidade]

 

A história tem contornos que ninguém 

Previa que saíssem nos jornais…

As últimas notícias são virais:

A família fugiu! Livre ou refém?

 

[numa estrela rara * a palavra paz *

o drone dispara * por pouco a desfaz]

 

Suspensa a emissão, mas retomada.

A tal perseguição reivindicada

Faz a guerra chegar à nossa porta.

 

Quereis ver que da criança que nasceu

Já quase toda a Rede se esqueceu

Tornando a sua estrela letra morta?

 

[nos arquivos falta * a notícia dada *

dizem que era falsa * e foi apagada]

 

José Hermínio da Costa Machado

Braga 2022: com este guião,

feliz Natal e boas festas.


quarta-feira, novembro 16, 2022

Crónicas na Rádio Francisco Sanches 2022/2023

 

As palavras têm asas – crónicas do professor José Machado, aposentado da Escola Francisco Sanches e colaborador da Rádio (Passou em 5 de Novembro de 2022 na Rádio Antena Minho)

Assim o creio, têm asas e voam, pousam aqui e ali e logo se vão para outros horizontes. Uma vez ditas e ouvidas, ou uma vez escritas e lidas, adquirem a capacidade de voar, as palavras, sim, as palavras, que é delas que estou a falar. Ouvidas pelas pessoas ou mesmo pelas paredes, toda a gente sabe como estas ouvem, as palavras ganham vida nova nas vozes e nos olhos de outros. Toda a gente já pôs palavras a voar: tu disseste, a mãe falou, o pai mandou dizer, ouvi na Televisão, ouvi na Rádio, li no telemóvel, escrevi no email, disseram-me, contaram-me, lê-se nas paredes e em todo o lado, está escrito nos jornais… e não dou mais exemplos que estes chegam para vos mostrar como vós sois treinadores de voo para as palavras sobreviverem. E mesmo que pareçam paradas nos livros ou nos cadernos, mesmo que fiquem esquecidas nos voice-mails, mesmo que pareçam mortas em papéis ou em paredes, mesmo que vivam nos museus mais intrigantes, as palavras estão prontas a voar. A escola é o maior centro de treino de palavras voadoras. Palavras, leva-as o vento, diz-se, mas no que toca à escola devia dizer-se, palavras leva-as a escola para onde ninguém calcula que possam ir. É verdade, nós havemos de morrer um dia e as palavras que pusemos a voar ainda andarão por aí a viver… Este ano escolar de 2022-2023 que agora vai voar na Rádio Francisco Sanches terá palavras minhas que já vêm com muitas horas de voo e eu espero que lhes acheis graça e as façais voar um pouco mais. Chamei à minha colaboração «As palavras têm asas», que vos hei-de explicar a razão de ser. Por agora vou fazer levantar voo o poema que vos enviei para começo deste novo ano lectivo:

De cara aberta

De cara aberta, sem medos,

Vamos voltar à escola

Que a vida requer vigor

Os saberes são os novelos

Que o ensino desenrola

Com arte, estudo e rigor,

Nos olhos, na voz, nos dedos,

Todo o esforço consola

E acrescenta mais valor.

 

Ora entra lá então

Toma o teu lugar

Pratica atenção

E aprende a gostar

Toda a novidade

Há-de entusiasmar

E em qualquer idade

Te pode ajudar

 

A nossa vida escolar

Na sua diversidade

Tem rotinas valiosas

Que importa considerar

Com essa civilidade

De pessoas generosas

A escola é o lugar

Onde ganham mais verdade

Nossas vidas preciosas

 

José Machado/ Braga / 2022