
domingo, dezembro 30, 2007
Próximos do ano novo

sábado, dezembro 22, 2007
O novo modelo de gestão das escolas
Vamos finalmente ficar em minoria, vamos finalmente ficar livres para fazermos o que mais nos interessa: ensinar os alunos, viver com eles a construção dos saberes. Só é pena que ainda se conserve na cabeça dos governantes essa ideia peregrina de que tem de ser um professor a gerir a escola! Que pena. Depois de descobrirem que os professores devem ficar em minoria no conselho geral, esqueceram-se de aplicar a dedução aos conselhos executivos. Foi pena! Só espero que ninguém lhes estrague a festa. É agora a nossa vez de perguntarmos como é que querem as coisas, é agora a nossa vez de pormos os membros da comunidade a esclarecer-nos as dúvidas. E quanto à avaliação? Ó colegas, nós devemos entregar todos os nossos dados aos pais ou aos membros da comunidade que não sejam docentes e deixá-los decidir a nota para cada aluno. Finalmente nós vamos poder fazer o que melhor sabemos. Os de fora que digam como querem. Mas por que carga de água se levou tanto tempo a descobrir este ovo?
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Coisas que não mudam como a gente quer

Por que mandamentos da lei dos homens se fizeram os mais novitos, estes que estão entre os 10 e os 15, tão barulhentos e indisciplinados? Quem lhes ensinou a entrar para uma sala todos ao magote e a espremerem-se no arco da porta? Quem lhes ensinou a pedir ao professor que saia da frente do quadro quando o professor está a realizar o acto de escrita no mesmo? Quem lhes pediu para deitarem ao chão tudo o que não querem? Quem os habituou ao tumulto da palavra inc? Quem os mergulhou no rio do esquecimento?
Fui eu? ....................................................................................................................... Às tantas!
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Considerações sobre os dias menos felizes

A imagem é de antes, mas ilustra a ideia geral do que pretendo dizer: somos menos e cada vez mais numa perspectiva de curiosidade sobre quem pode estar a chegar. Porque, apesar de tudo, achamos que alguém vai chegar, pensamos que é quase certo, mais tarde ou mais cedo, chegar alguém. Estaremos todos mais velhos e os novos não aparecem ou estão-se a demorar. A Casa também não pode mudar para a gaiteirice das novidades, ainda que o quisesse fazer, porque os recursos são muito limitados. Mas resiste-se e este movimento de resistência precisa de persistências. A Ceia de Natal foi um desses momentos. Éramos 33, crescemos até aos 38 e fizemos a ceia. E lá mostrámos os nossos modos de ser e de estar: curiosos, observadores do que se come e bebe, conversadores, pegulhentos e impliquentos nos apartes, corrosivos em relação aos ausentes, perdoadores dos esquecidos, enfim, de bem com todos. Por muitos anos que tenhamos de cidade, o melhor e o pior de nós é como água nos campos, corre para lá e rega. Este ano encomendámos as batatas com o bacalhau ao restaurante vizinho, não tivemos quem cozinhasse, desculpámo-nos com a idade e com as dores de costas e com o sermos poucos, mas sentimos a falta dos cuidados que só temos quando as panelas nos queimam os dedos. Nos outros dias, a sueca ocupa as mesas e nem sempre enche as disponíveis. Os panos verdes estão a precisar de arejo.
Actuações do Grupo Folclórico - Fomos no dia 8 de Dezembro a Barrada, Reguengos de Monsaraz, Évora. Pelo terceiro ano, com intervenção na missa, na procissão e no baile. Este ano levámos um canto «alentejano» e resolvemos adaptá-lo, mas saiu-nos apressado e nós que o cantámos lento, lento, O padre, a seguir, entoou-o à moda da terra e deu-se mal com a nossa pressa. A lentidão até como andamento musical precisa de passar pelo corpo para sair na voz, precisa de muita vida, fora os ensaios. Valeu pela experiência da adaptação, coisa de somenos, mas significativa sob o ponto de vista cultural e religioso. Um Grupo precisa de cantares ou então repete os que sabe. É suposto que os repita, porque é suposto que o repertório de um Grupo Folclórico seja limitado. Mas é suposto, quando a memória de três anos se parece com a de três dias, que alguma coisa se desloque e é aqui que pode estar a graça. A tempo a encontrarei. Em Barrada vive-se a festa com um prazer de comunidade. A aldeia é pequena e parece não ter a gente que faz a missa ou a procissão, mas dá-se o caso que cresce para lá dos seus limites e o povo vê-se. Depois sume-se outra vez e volta à noite para o baile. Os novos são poucos, mas os mais velhos são entusiasmados. É mais um espelho do que somos e de como estamos, mas a Banda dos Bombeiros do Alvito tem muitos jovens, ensaia-se com arranjos de novidade e empenha-se. A comida foi de encher e o chá de limão esteve a queimar.
Outras intervenções: leituras e histórias - Voltar a Torga implica mergulhar no nosso presente. Andei por escolas a recontar os contos, alguns, e convenci-me do que já estava certo: requer-se uma aproximação de Torga ao imaginário contemporâneo, que tem os mesmos sarilhos e problemas do tempo dele, agora com outras exigências de luz: ler é interpretar e interpretar é recriar e recriar é ouvir a linguagem: as palavras de Torga requerem a semântica dos dias que passam. Aproximo Torga de Tarantino e acho que resulta: há em Torga a mesma urgência de compreneder a violência social, há em Torga um apelo cinéfilo ao fluir dos problemas humanos, há em Torga uma tipificação metafórica de casos humanos. Aproximo os problemas de hoje aos que Torga encheu de narratividade: leiam o repouso e o caçador e o Natal e digam-me onde é que se pode meter a violência urbana, a gestão dos afectos e os caminhos dos sem-abrigo, se as palavras de Torga não forem alavanca de serviço? Problematizar Torga sem problematizar o que vemos, ouvimos e lemos e não podemos ignorar, é entediar a literatura!
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Um assunto de consoada

(Fotografia de Miguel Louro, da série Sente-se. É um banco nos Jardins de Belém, ali na Praça do Império, em frente aos Jerónimos. Um banco propício)
Esta primeira quinzena de Dezembro trouxe-nos mais que falar, foi prenda de Natal que nos chegou antecipadamente, oferecida de mão beijada pelo senhor Primeiro-Ministro, em sede de Parlamento, mas levitada pelos meios da comunicação social para todo país, país que ficou a saber que as escolas vão passar a ter lideranças fortes, personalizadas, sujeitas ao escrutínio de um corpo eleitoral formado pelas forças vivas da comunidade escolar, professores e pais, certamente também alunos e funcionários, mais que certo também os representantes das forças económicas e culturais e autárquicas e espirituais, que todos são bem precisos para dar ao acto da candidatura e ao acto da escolha um ritual de participação inusitada, de esperança no futuro. Vamos passar a ter nas escolas uma liderança com programa, com currículo, com perfil, com definição de objectivos, alguém que se candidata para poder escolher livremente uma equipa de trabalho, alguém que se candidata a um poder e a um salário que o farão ser exigente de compromissos e de resultados. Ah, Jorge, anda agora ver o meu país de marinheiros que finalmente vai sair para o mar com capitão a bordo! É desta surpresa que se faz espectáculo, é deste prometer que se faz colheita, é deste falar que se faz conversa. Já dizem uns que vai ser uma política de regresso à autoridade, de regresso a compadrios subliminares, de regresso a jogadas de bastidores, de regresso a tempos de autoritarismo policial e policidado. Há sempre quem veja o velho onde aparece o novo e há sempre quem veja o medo antes de ver a vinha. Já dizem outros que agora é que vai ser a mudança que não foi, mas que esteve quase para ser. Já dizem outros que vai ficar tudo na mesma e eu sou desses. Tem a democracia parido bons líderes como os tem dado à luz com destravo de senso e de jeito, tem a democracia de uns feito o desconsolo de outros, tem havido lideranças para todos os gostos e feitios. A conclusão que se tem tirado é que o sistema educativo custa a mobilizar para melhores resultados, mas que mesmo assim tem havido progressos em algumas áreas. Aliás quando é para discutir resultados esquecem-se as lideranças e quando é para falar destas esquecem-se aqueles. Todavia, governar é reformar e a reformar é que se ganha vida e se faz ganhar a quem precisa de viver. Recordo-me da minha vida escolar no ensino primário: eu via chegar a professora e depois o professor e sempre pensava que eles eram senhores do seu próprio nariz, que estavam ali para ensinar e que eram eles que mandavam neles e que toda a vida da escola começava ali e terminava ali, certamente com um salário que alguém lhes pagaria, mas que eu nunca vira entregar
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sexta-feira, dezembro 07, 2007
Boas Festas e Bom Ano Novo
Outra Infância
Quer seja na abundância descarada,
Quer seja na carência atribulada,
O Natal expõe-se,
Tem sempre um rosto, uma expressão, um som.
Quer passe intensa a febre construtiva,
Quer fique a pele em causa restritiva,
O Natal impõe-se,
Tem sempre um ventre, um coração, um dom.
Sobrem lixos ou luxos dos ofícios,
Variem os prazeres ou os sacrifícios,
O Natal provoca,
Implica a história, o caso, a circunstância.
Por entre guerras loucas de razão,
Por sobre reis e réus de opinião,
O Natal convoca
A nossa humanidade a Outra Infância.
Com os votos de Boas Festas e Próspero Ano Novo.
José Machado e Albertina Fernandes
Braga, 2007
quinta-feira, novembro 29, 2007
Indisciplina e aprendizagem
Volto à ideia da desconexão da aprendizagem com a disciplina, o que significa dizer que volto a uma questão que a Sra Ministra deixou pendurada na sua grande entrevista na TV há uns dias atrás. O problema que ela formulou foi o de se separarem as questões do comportamento e da assiduidade das questões da aprendizagem, dito por outras palavras, numa frase disjuntiva, trata-se de saber e de verificar se o aluno sabe ou não sabe, independentemente do modo como se comporta na escola.
Como se sabe o comportamento do aluno tem várias dimensões de observação, as mais importantes das quais são: a assiduidade de frequência, a pontualidade, a participação em aula, o cumprimento dos trabalhos de casa ou de outras tarefas escolares pós-aula, o cumprimento das regras escolares nos espaços e no horário escolares. Destas dimensões, vistas sob o ponto de vista comportamental, aquela que mais de perto se relaciona com as situações de aprendizagem, é a participação nas aulas, entendendo-se por participação a prática de comportamentos de civismo e de colaboração: ser educado, respeitar os colegas, obedecer aos professores, falar na sua vez, ser disciplinado em termos verbais, gestuais e corporais. Estou a falar de comportamentos em si, não estou a falar de comportamentos mobilizados para a aprendizagem.
Uma pergunta que se pode colocar com legitimidade é esta: mas haverá alunos que sejam indisciplinados, mal comportados e que saibam? Ou seja, haverá alunos que faltam às aulas, que não justificam a impontualidade, que brincam e falam a despropósito, que desobedecem aos professores, e que sabem? Nunca os vi, mas aceito que os haja por aí. De um modo geral tenho constatado que aluno indisciplinado é aluno que não sabe, ou que sabe o mínimo, sempre em gestão calculista da sua posição escolar. Também tenho constatado que o aluno que não quer aprender quanto mais se faz por ele, mais ele nos manda à fava e mais indisciplinado se torna.
Os alunos são descontínuos, isto é, têm momentos melhores e momentos piores, nem todos são uns santinhos, nem importa que o sejam, nem todos são sempre cidadãos exemplares, logo, aprendem depressa a tirar partido dos estilos e das gramáticas docentes e vão conjugando o comportamento e a aprendizagem com um interesse manifesto de afirmação, para o bem e para o mal. Ou seja, por outras palavras, eu tenho a prática da impossibilidade de separarmos as águas da disciplina e da aprendizagem, mas se o tiver de fazer julgo que sei por onde se deve ir:
a) De imediato, separando o comportamento disciplinar da aprendizagem, importa que a sala de aula volte a ser, e só, o espaço daqueles que querem aprender, logo, a prática de expulsão da sala dos insurrectos ou incumpridores deve implementar-se automaticamente;
b) Depois, separando o comportamento disciplinar da aprendizagem, importa que a escala de avaliação possa reflectir a diferença: não é esta escala colectivista de 1 a 5, ou de 2 a 5, que dá conta das distinções efectivas entre quem sabe e quem não quer saber;
c) Depois há que introduzir práticas pedagógicas de intensidade sobre a aprendizagem, e voltamos aos exames como chave da questão, porque é ainda aos testes e aos exames que todos nos referimos quando falamos num meio prático de saber se se sabe ou não se sabe alguma coisa;
d) A seguir, bom a seguir, tem de se mudar a Lei de Bases (e a Constituição) e onde se diz ensino básico universal, obrigatório e gratuito, tem de se dizer ensino livre, pessoal e com custos para o consumidor.
Mas perguntarão: a escola deve ou não deve recuperar os alunos indisciplinados? Deve e pode fazê-lo e fá-lo, é este o sistema que praticamos, mas sem separar o comportamento disciplinar da aprendizagem, porque um é a muleta do outro. Essa ideia de recuperar alunos indisciplinados com programas específicos, ou seja, dentro de programas que prevêem apenas aspectos comportamentais, não funciona, é como querer recuperar um trabalhador sem o pôr a trabalhar.
Como se sabe o comportamento do aluno tem várias dimensões de observação, as mais importantes das quais são: a assiduidade de frequência, a pontualidade, a participação em aula, o cumprimento dos trabalhos de casa ou de outras tarefas escolares pós-aula, o cumprimento das regras escolares nos espaços e no horário escolares. Destas dimensões, vistas sob o ponto de vista comportamental, aquela que mais de perto se relaciona com as situações de aprendizagem, é a participação nas aulas, entendendo-se por participação a prática de comportamentos de civismo e de colaboração: ser educado, respeitar os colegas, obedecer aos professores, falar na sua vez, ser disciplinado em termos verbais, gestuais e corporais. Estou a falar de comportamentos em si, não estou a falar de comportamentos mobilizados para a aprendizagem.
Uma pergunta que se pode colocar com legitimidade é esta: mas haverá alunos que sejam indisciplinados, mal comportados e que saibam? Ou seja, haverá alunos que faltam às aulas, que não justificam a impontualidade, que brincam e falam a despropósito, que desobedecem aos professores, e que sabem? Nunca os vi, mas aceito que os haja por aí. De um modo geral tenho constatado que aluno indisciplinado é aluno que não sabe, ou que sabe o mínimo, sempre em gestão calculista da sua posição escolar. Também tenho constatado que o aluno que não quer aprender quanto mais se faz por ele, mais ele nos manda à fava e mais indisciplinado se torna.
Os alunos são descontínuos, isto é, têm momentos melhores e momentos piores, nem todos são uns santinhos, nem importa que o sejam, nem todos são sempre cidadãos exemplares, logo, aprendem depressa a tirar partido dos estilos e das gramáticas docentes e vão conjugando o comportamento e a aprendizagem com um interesse manifesto de afirmação, para o bem e para o mal. Ou seja, por outras palavras, eu tenho a prática da impossibilidade de separarmos as águas da disciplina e da aprendizagem, mas se o tiver de fazer julgo que sei por onde se deve ir:
a) De imediato, separando o comportamento disciplinar da aprendizagem, importa que a sala de aula volte a ser, e só, o espaço daqueles que querem aprender, logo, a prática de expulsão da sala dos insurrectos ou incumpridores deve implementar-se automaticamente;
b) Depois, separando o comportamento disciplinar da aprendizagem, importa que a escala de avaliação possa reflectir a diferença: não é esta escala colectivista de 1 a 5, ou de 2 a 5, que dá conta das distinções efectivas entre quem sabe e quem não quer saber;
c) Depois há que introduzir práticas pedagógicas de intensidade sobre a aprendizagem, e voltamos aos exames como chave da questão, porque é ainda aos testes e aos exames que todos nos referimos quando falamos num meio prático de saber se se sabe ou não se sabe alguma coisa;
d) A seguir, bom a seguir, tem de se mudar a Lei de Bases (e a Constituição) e onde se diz ensino básico universal, obrigatório e gratuito, tem de se dizer ensino livre, pessoal e com custos para o consumidor.
Mas perguntarão: a escola deve ou não deve recuperar os alunos indisciplinados? Deve e pode fazê-lo e fá-lo, é este o sistema que praticamos, mas sem separar o comportamento disciplinar da aprendizagem, porque um é a muleta do outro. Essa ideia de recuperar alunos indisciplinados com programas específicos, ou seja, dentro de programas que prevêem apenas aspectos comportamentais, não funciona, é como querer recuperar um trabalhador sem o pôr a trabalhar.
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sexta-feira, novembro 23, 2007
A graça dos frutos e as palavras do amigo
"Aos doentes fazia-se a vi(gi)ta que, para além da presença reconfortante, desejava-se, do próprio, constava de acúcar, uma bola de queijo, café (cevada) , uma galinha e o mais que a bolsa do visitante permitisse. Agora, resolve-se com uma mensagem e muita imaginação para construir o "ar" do
Caro amigo espero que melhores e te recomponhas pois fazes falta, mas devo
Hoje vou a Bragança apresentar as Memórias, estou de saída.
domingo, novembro 18, 2007
Trabalho em curso: escrever sobre o TC

sábado, novembro 03, 2007
Em Carvalho de Rei: as idades da música


sexta-feira, novembro 02, 2007
Ouvi-a e penso que
Ouvi ontem, dia 1 de Novembro, na TV em «grande entrevista», a Senhora Ministra da Educação. Penso que ela continua a revelar pouco à vontade com a comunicação social e que continua a dificultar-nos o entendimento das suas políticas, quer em termos de simpatia exterior, quer em termos de assertividade discursiva, quer em termos de relação com os parceiros sociais. De qualquer maneira, de quanto disse e de como o disse, face ao estilo do questionário e da questionadora, saliento:
a) A questão de querer passar para as escolas públicas a regulamentação da assiduidade e da disciplina. O país é pequeno e a escola pública fala muitas línguas, pelo que a autonomia aparece como solução de quem não sabe o que se deve fazer ou o que se pode fazer! Vamos então ver até onde irá a panóplia das soluções locais, se é que vai poder haver soluções locais, do género, esta escola faz assim e aquela faz assado, esta expulsa os faltosos, aquela obriga-os a exames, esta impõe-lhes multas, aquela desculpa-os.
b) A questão de querer desconectar a disciplina comportamental da avaliação, questão que se prende com a anterior, mas que pode ter uma visão global. Será possível? E se for possível é desejável? Seja, admito, mas a ser possível e desejável só com exames e então tudo bem: o aluno falta, que se prepare em casa para exames; o aluno porta-se mal e não modifica os seus comportamentos, que se prepare para exames. De outra forma, a burocracia ocupará o território com silvas e matos e ratos e outros parasitas de lixeira.
c) A questão dos rankings. Se é a Ministra quem neles não se inspira para tomar quaisquer decisões de política educativa, quem sou eu para lhes dar importância. Mas que não os aproveite para falar como falou do ensino particular: o despeito e o jacobinismo quando se associam fazem má figura.
d) A questão do ensino profissional em escolas públicas ditas «normais», ou seja, a inclusão do específico em regime de frequência gratuita, universal e obrigatória: persiste numa ideia que é de reduzida ou nula eficácia: quanto mais e melhor for qualificada uma escola, para a especificidade da sua oferta educativa, melhor funcionará; com esta inclusão de cefs e outros cursos congéneres na escola básica, não se vai a lado nenhum, mas se ela acredita, a fé a leve.
e) A questão das relações de trabalho preferenciais com os conselhos executivos: as comunidades escolares que se previnam, mas onde faltar a presença dos parceiros sociais, a democracia sai fragilizada e o autoritarismo tende a crescer.
a) A questão de querer passar para as escolas públicas a regulamentação da assiduidade e da disciplina. O país é pequeno e a escola pública fala muitas línguas, pelo que a autonomia aparece como solução de quem não sabe o que se deve fazer ou o que se pode fazer! Vamos então ver até onde irá a panóplia das soluções locais, se é que vai poder haver soluções locais, do género, esta escola faz assim e aquela faz assado, esta expulsa os faltosos, aquela obriga-os a exames, esta impõe-lhes multas, aquela desculpa-os.
b) A questão de querer desconectar a disciplina comportamental da avaliação, questão que se prende com a anterior, mas que pode ter uma visão global. Será possível? E se for possível é desejável? Seja, admito, mas a ser possível e desejável só com exames e então tudo bem: o aluno falta, que se prepare em casa para exames; o aluno porta-se mal e não modifica os seus comportamentos, que se prepare para exames. De outra forma, a burocracia ocupará o território com silvas e matos e ratos e outros parasitas de lixeira.
c) A questão dos rankings. Se é a Ministra quem neles não se inspira para tomar quaisquer decisões de política educativa, quem sou eu para lhes dar importância. Mas que não os aproveite para falar como falou do ensino particular: o despeito e o jacobinismo quando se associam fazem má figura.
d) A questão do ensino profissional em escolas públicas ditas «normais», ou seja, a inclusão do específico em regime de frequência gratuita, universal e obrigatória: persiste numa ideia que é de reduzida ou nula eficácia: quanto mais e melhor for qualificada uma escola, para a especificidade da sua oferta educativa, melhor funcionará; com esta inclusão de cefs e outros cursos congéneres na escola básica, não se vai a lado nenhum, mas se ela acredita, a fé a leve.
e) A questão das relações de trabalho preferenciais com os conselhos executivos: as comunidades escolares que se previnam, mas onde faltar a presença dos parceiros sociais, a democracia sai fragilizada e o autoritarismo tende a crescer.
quarta-feira, outubro 31, 2007
Quem escolhe, sabe de si.
Sobre o escalonamento nacional das escolas em termos de resultados, se ouvi dizer à nossa Senhora Ministra que as causas da superioridade do ensino particular estariam no facto de os alunos que o frequentam serem escolhidos pelo própio, então não ando surdo e fiz bem em reagir com a mão na testa à procura de não sei quê. Com que então as escolas particulares escolhem os seus alunos e não são estes que as escolhem, com que então as escolas públicas não selecionam os alunos, mas são estes que as preferem. Os alunos que eu ensino não me escolheram, é um facto, e eu também os não escolhi, mas quando lhes pergunto porque estão nesta escola e não noutra, muito menos numa particular, respondem com tal objectividade de argumentos que fico esclarecido: estão nesta escola porque não quiseram ir para outra, estão nesta escola porque aqui se sentem bem, estão nesta escola porque a escolheram, ponto final. E não me venham com argumentos de dinheiro ou de custos: vejo aqui todas as bolsas. Vejo aqui os alunos que têm bons resultados escolares e vejo aqui os que não querem ter quaisquer resultados escolares, vejo aqui os filhos dos pais que acham a escola pública o melhor desafio educativo para os seus educandos e vejo aqui os filhos dos pais que vêem nesta escola o melhor centro ocupacional de tempos livres. Por força de lei e de grei, Senhora Ministra, terão de existir outras razões para as escolas particulares estarem à frente das escolas públicas: os currículos não podem ser os mesmos, os tempos de estudo não podem ser iguais, os métodos e as técnicas hão-de ser bem diferentes, a disciplina será outra, o empenho docente será de outro quilate, o regime de frequência e de assiduidade pesar-se-á com outras balanças, a preocupação dos pais andará por outros parâmetros. Positivamente, esta minha escola tem um rigor de construção indesmentível e não me tenho cansado de o referir: é permissiva com tudo e com todos, o currículo tem áreas não disciplinares inúteis, os tempos lectivos de 90 minutos cansam e aborrecem, o apoio educativo é consumido ao desbarato, as instalações são carenciadas, os métodos e as técnicas de avaliação não estão certificados, as tarefas de burocracia escolar ultrapassam de longe as tarefas de preparação didáctica das lições, os casos de excepção ditam as regras para o geral. Dito isto, a minha escola é como é, e assim é preferida por quem a frequenta. Podia ser melhor? Não ponho isso em causa, podia sim, mas duvido que o fosse com todos os alunos que tem, com as instalações que tem, com a organização que tem. Se não é mentira que ouvi a Senhora Ministra dizer que o insucesso escolar baixou, então também a minha escola contribuiu com alguma coisa, mas sem ser motivo para que festeje. Antes, me arreigo mais à ideia de que a minha escola cumpre o plano nacional de nunca poder estar em primeiro lugar, nem nos lugares da frente. A minha escola está bem organizada demais para ficar muitos pontos atrás das escolas particulares, simplesmente porque está concebida assim. Aceito o debate com quem quiser debater, mas não aceito debater para comparar escolas públicas e particulares, aceito debater para esclarecer porque é que uma escola pública, organizada assim como a minha, nunca chegará a lado nenhum, por mais que seja escolhida e por mais que escolha. Se não é mentira que ouvi dizer que foi aprovada legislação para desconsiderar o regime de frequência e para desconsiderar o regime de prestação de provas ou exames, então é porque se confirma ainda mais esta vontade de me transformarem em burocrata, de me anularem como professor de alguma coisa. A evidência é excessiva: queremos uma escola que não reprova os alunos, que não os obriga a qualquer regime de frequência e que os dispensa de exames. Seja. Então agora, tratemos de organizar a sociedade em função destes parâmetros e exigências: o aluno sai da escola pública e diz que a frequentou, quem quiser pede-lhe a documentação comprovativa do que lá andou a fazer e tira daí as consequências. O mesmo para as particulares. Quem escolhe quem, é que sabe mesmo o que quer! E o escalonamento nacional das escolas em função dos resultados há-de ser sempre rigoroso, como até aqui: cada um escolhe o lugar que quer no ranking. Ou agora o Estado vai fechar as escolas a partir do vigésimo primeiro lugar?
domingo, outubro 28, 2007
No País dos Verdes - os sons ajudam a beber

Este livro contém a comunicação apresentada ao Congresso pelos seus autores na qualidade de membros da «Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé”», grupo dedicado à divulgação das criações musicais e coreográficas de foro tradicional e popular do País dos Verdes.
A comunicação consiste na abordagem diacrónica de algumas produções musicais populares consideradas significativas no contexto temático dos Vinhos Verdes, apresentando simultaneamente uma contextualização histórica dos movimentos culturais que fundaram a demarcação desta região vinícola, que a tomaram como fonte de inspiração na literatura e na farmacopeia e que a marcaram como território ou espaço ou paisagem singulares no conjunto das tradições populares e dos documentos ligados à história nacional e local, ao canto, à dança e à língua.
O livro é ilustrado a cores com imagens e fotografias que documentam a presença do Vinho, com relevo para imagens raras da arte sacra e da estatuária religiosa.
O corpo do texto lança novas hipóteses e interpretações (a partir da «provocação» da capa) e algumas anotações históricas sobre o temário dos vinhos. O texto poético, na sua quase totalidade inédito, junta o agradável ao jocoso, por vezes com alguma irreverência, que o tema báquico requer e exige.
Na perspectiva do repertório da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», este livro sugere algumas pistas de redescoberta dos sons que nos convocaram para os trabalhos e as festas, para além de avançar com a necessária redescoberta de outros sons que se tornaram demarcadores da nossa evolução social, antes e depois de Abril de 1974.
quarta-feira, outubro 24, 2007
Passageiros do comboio escolar
Retirei então desse livro de poesia «Que comboio é este», edição do Teatro de Vila Real, 2ª edição, 2007, p. 23, a seguinte passagem:
Passageiro.
Caramba,
não preciso que mo lembrem.
Não me enterrem mais
a coroa de espinhos:
já me está apertada,
fundida com o crânio quanto baste.
E pus a banda a tocar, saí para a rua, que a vontade era visitar a estação de Vila Pouca se ela ainda pudesse ser meu ponto de partida para a Régua. Pois para o mundo é que foi, com direito a banda de música na memória deste presente, como se fora a inauguração da minha linha e como se fora a recepção da minha chegada a outro lugar. Tenho do comboio uma saudade eufórica e da condição de passageiro uma liberdade resignada, de aceitação, uma condição de outra condição. E desde então vi-me passageiro entre outros, em todos os comboios que o foram e naqueles que o parecem. Desde então não desci mais de comboio algum, não obstante a ilusão de apeadeiros ou de estações demoradas. Ando de comboio nesta naturalidade de viver. De professor me vi como passageiro de comboio, espinhado até ao tutano pelo ofício. A poesia de Pires Cabral é como água.
Entrámos passageiros na idade da flor e deixámo-nos seduzir pela viagem, essa mesma ideia da viagem com destino, nesse encantamento das mudanças de estação, nessa variedade de entradas e saídas de gente, nesse encontro perturbador de lugares e de acasos.
Deixo-me conduzir por esta ideia de ser passageiro com outros e vejo-me neste comboio escolar donde alguns se vão apeando, ontem um, depois uma, agora três, qualquer dia cinco ou seis e depois eu e um dia todos. De mim sai sempre um pouco com os outros que vão à frente. Eles ficam um pouco comigo. Eles saem, melhor, mudam de comboio, se calhar apenas de carruagem, mas deixo de os ver e deixo de me ver neles. Acontece nesta condição de passageiros essa mesma comunhão de traços de família, esse mimetismo de gestos e de tiques: misturamo-nos até nos gestos e nos rostos. Fiquei mais só até me recompor, inevitavelmente seguirei sem eles. Foram passageiros incomodados e gostei deles por isso.
Volto ao livro de Pires Cabral, oportuna metáfora também sobre a escola que nos serve de comboio. E leio:
Companheiros de viagem
Comigo viajam todas as moscas,
bandos de aves, trupes de ciganos,
o papa, a miss mundo, a empregada
do shopping e os seguranças do mesmo,
o cão que ladra no terceiro andar,
o salmão que comi ao almoço.
Minto: o salmão apeou-se
na estação anterior.
Dele viaja apenas, por enquanto,
uma espécie de sombra
e depois nada.
Eu poderia substituir os sintagmas do poeta com outras entradas lexicais: livros, alunos, disciplinas, processos disciplinares, funcionários, pais, problemas, ministros, e cada uma destas poderia ser o salmão que não digeri ou a trupe, ou a miss, ou as aves, ou as moscas, ou o papa, enfim, tudo vai comigo no comboio, tudo viaja connosco neste que é escolar e que parece servir uma linha interior a outras linhas.
Aqueles meus colegas saíram há pouco, um mesmo agora e ainda se vê no cais. Vivemos juntos desde que este comboio da Sanches era só metade e quase descomposta de recursos interiores, que por fora teve sempre grandeza de aspecto. Não começámos a falar por sedução de corpo ou de estilo; aconteceu-nos primeiro o desconforto, depois a discussão, mais tarde a partilha, finalmente o respeito e a amizade. Se algum traço comum retenho deles é este mesmo: foram três paradigmas do passageiro empenhado em chegar a algum lugar, empenhado e convencido das vantagens de chegar. Eles enterraram na cabeça essa coroa de espinhos, fundiram-na com o cérebro e pensaram-se sempre na mesma condição de serem passageiros num comboio especial, de serem os passageiros condutores de outros, de serem os animadores especiais dessa viagem do conhecimento. Entrámos na flor do sonho e sustentámo-la com insucessos, nessa esperança de viajar melhor, nesse desejo de renovar o próprio comboio. Páro um pouco, abro a janela, vejo a paisagem e regresso ao banco: estes passageiros eram da tempera de levar com eles as suas tralhas, toda a bagagem lhes fazia falta no lugar, sempre cheios de bagagem e sempre de bagagens cheias. Que fossem as ciências ou a matemática, que fosse a música, que fosse o inglês ou o português, estes passageiros eram-no de bagagem completa. Com eles ia tudo à frente, debaixo de olho, ainda por cima sempre nesse cuidado permanente de acumular as novidades de estação para estação.
Quando chegou ao comboio essa moda de viajar com distracção continuada, resistiram-lhe, puseram a cera nos ouvidos: viaja-se para aprender, não se viaja para ficar ignorante em qualquer apeadeiro. E ignorar, se foi alguma vez objectivo da viagem, parece ter ficado mesmo a ser destino e nome de estação. Passageiros da resistência, bem os posso considerar assim: ciências e matemática, música, inglês e português, tinham de ser para eles carruagens com vida própria. No comboio, os passageiros determinados acabam por fazer falta aos turistas de ocasião. Páro por aqui. Vejo o revisor ao fundo. Volto a Pires Cabral:
O revisor barafusta.
Ele acha que o meu bilhete
não é válido para este comboio,
mas apenas, quando muito,
para um qualquer tranvia suburbano.
Bem fizeram, colegas, senhores passageiros, gostei de vos ver assim. Obrigado.
terça-feira, outubro 16, 2007
RFS - outra vez no ar

sexta-feira, outubro 12, 2007
Os blogues que frequento
Leio sempre que posso, e procuro poder diariamente, o abrupto de JPP, onde o cansaço é cuidadosamente aliviado pela variedade de posturas verbais e visuais, onde a repetitividade analítica sempre me surpreende e onde os textos poéticos ou narrativos paralelos são embraiadores da própria velocidade de circulação; o poesiailimitada é uma questão de treino interpretativo, é uma obrigação de informação e uma figuração da ansiedade; o farraposdeseda é uma curiosidade intensificadora do desejo de ler mais, foi pena que o autor tivesse retirado um conto e não tivesse lá posto muitos outros que escreveu; o autor, psiquiatra, é um amigo de infância que tomo por mestre de caminhos, não de os fazer ou de os indicar, mas sobretudo de os saber andar com novos fôlegos; o sacouto por ser um lugar do encantamento das ilhas e do mar, por ser um acumular de conversas intervalares. Viajo por outros, um deles de economia, participo em poucos com comentários, passo e vejo blogues como pelas ruas das cidades em que vejo tudo e não guardo nada e me lembro depois do que nem vi. Se calhar são para este mesmo jeito de ver e de ser e de estar e de andar que os blogues se fizeram. Entusiasmei os meus alunos a fazerem um blogue. Está em crescimento: aefs-6-1.blogspot.com
sábado, setembro 29, 2007
Proposições evasivas II

5ª As multidões são de sempre e os consensos também, mas alguém começou, alguém teve a iniciativa, alguma causa desencadeou a reacção e o processo deu-se e sustentou-se. As causas, as origens, os começos, a partir de certa altura da reflexão, deixam de interessar. Em qualquer data de um processo, quando me interrogo: porque continuo a fazer o que se fez até aqui? - a origem está encontrada, os argumentos podem começar a elaborar-se. O argumento da tradição não evita esta interrogação, nem a desculpa, nem a substitui. Antes a requer com mais segura argumentação, ou seja, com actualização de razões.
Na imprensa, no sermão, no roteiro turístico, minguam as actualizações de argumentos. Mantêm-se as lendas, mantêm-se os mistérios, prevalecem os sentimentos e os instintos. Acredita-se e justifica-se: «mal não faz!» No fundo, é este mesmo argumento que nos deveria levar mais longe a própria criatividade, a própria ousadia.
6ª Continuamos tribais, a sobreviver. Mas a acumulação de experiências - o acumulado sonoro, verbal, icónico - teve momentos de criação, de variação, de repetição, de alteração. Baseamos a noção de identidade numa permanência de traços e de registos ou numa similitude dos processos operativos, isto é, reconhecemos a identidade por fazermos as mesmas coisas ou por pensarmos do mesmo modo, por utilizarmos os mesmos instrumentos cognitivos?
7ª Muito recentemente descobrimos a música antiga, a música medieval, reinventámo-la. Até a gravámos e agora reproduzimo-la. Na música, como noutras áreas, procurámos a «emergência» e conseguimos a ressurreição. Não há razão para descrermos. Quando minguam as fontes documentais, crescem os processos da imaginação, os da procura, os da comparação, os da construção etnográfica do próprio conhecimento.
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sexta-feira, setembro 21, 2007
Proposições evasivas

Há pelo menos 25 anos que calcorreio festas e romarias, quase sempre acompanhado de amigos certos, outras vezes com a minha esposa, de vez em quando só. É um divertimento de ofício, o de observar, o de conversar, o de inquirir. Quando comecei, foi atrás dos cantadores ao desafio, persegui-os por quanto era canto e esquina, fotografei-os, gravei-os, entrevistei-os, fiquei amigo de uns tantos, conhecido de alguns, estranho de vários. A par e passo observei outros intérpretes musicais, bandas e grupos folclóricos, coros de igreja, conjuntos e intérpretes. Assisti a desfiles e cortejos, dancei e cantei em raras ocasiões. Por obrigação pessoal fiz-me «romano entre romanos» e comi do que havia e onde o vi. As proposições que a seguir lavro são de risco fácil e em terra brava.
1ª Tudo (festa, cortejo, festival, actuação) se parece fazer segundo a tradição. Neste invocar da tradição tanto se instala um desejo de conservação como de mudança, ao sabor de conveniências da gestão dos eventos e da visibilidade das lideranças. A tradição manda fazer como sempre se fez, o que muitas vezes quer dizer que a tradição manda que se improvise, que se faça como se puder, que se tire partido do que há no lugar e no momento, que se invente como se inventou. A tradição é suficientemente lata para conter a sua própria aparente ultrapassagem, a tradição é um elástico eficaz. Não há nada fora da tradição. Recordo um episódio curioso: um dia, em Santa Marta de Portuzelo, estava eu a visitar uma casa apalaçada com sinais evidentes de muita acumulação de estilos e intervenções artísticas, quando se meteu à conversa o proprietário recente da mesma, um espanhol, que a comprara com a ideia do turismo de habitação e de espaço privilegiado para eventos sociais, casamentos, baptizados, além da intenção de restaurante e bar permanentes ou pelo menos sazonais. A dúvida do homem era saber como é que devia fazer o restauro da casa, que já consultara arquitectos e engenheiros e estava cheio de dúvidas, pois todos achavam que a casa era um produto de fantasias e de rasgos de arte. A conversa fez-se por outras voltas, da música às roupas, da infância à idade actual, das memórias de galegos e de portugueses, de tempos de pobreza e de tempos de ditadura, etc. e tal. A conclusão do homem, naquela atitude óbvia de «eureka» ou «ovo de colombo», ficou registada nestas palavras que reproduzo em galego ou espanhol estropiado se calhar: «Hay que seguir fantasiando!»
2ª O conservadorismo de «tipicidades», muitas vezes «mazelas e deficiências», ou seja, a manutenção de «traços locais» com valor interpretativo de genuinidade, pureza, rigor etnográfico, etc. e tal, é um argumento estafado, mas é ainda um argumento muito manipulado com eficácia. Que a estrada seja má, que as instalações sanitárias não existam, que a luz falhe, que as barracas dos comes e bebes sejam desajeitadas de tudo, que os horários não se cumpram, que os cânticos sejam executados «sabe Deus como», não são argumentos válidos para diminuírem o «casticismo» ou a natureza da festa ou do evento. Este argumento parece-me o mais frágil, ainda que o veja conviver com a argumentação da novidade, da experiência, do «uma vez não são vezes»; é muitas vezes usado por falta de proventos ou verbas, mas prevejo que brevemente seja ultrapassado por um daqueles normativos que mandam renovar, refazer, restituir, restaurar, reequipar, e outros «res» que andam no cerne da tradição.
3ª Em matéria de cortejos ou manifestações etnográficas, pratica-se uma etnografia de exclusão, ou seja, parou-se no tempo, fez-se uma selecção de traços que garantem boas fotografias, cristalizaram-se situações e retratos. O que vale é que há sempre gente a romper por outros lados, a misturar roupas e objectos, há sempre uma «inovação» para experimentar, enfim, o que vale é que anda uma angústia no ar e quando as coisas se fazem com este sentimento cada vez mais forte de serem uma caricatura do que foram, salvam-se pelo cómico, mas denunciam uma carência de abertura de actualização. Por que raio haveremos de ter vergonha de mostrar os nosso últimos 50 ou 60 anos de vida social? Quando as vacas entram na cidade, ressentem-se nos cascos da dureza do empedrado ou do alcatrão, e ainda que deixem a bosteira para os figurantes seguintes pisarem e repisarem, não parecem adaptadas.
4ª Em matéria de danças e cantares, não nos iludamos, a arte é com quem a sabe fazer, não é com quem a arremeda ou cicatriza, qualquer arte. É já tempo de nos convencermos que as danças e os cantares tradicionais não requerem roupas específicas para se exibirem ou praticarem, como é já tempo de esta juventude contemporânea aprender que se quer dançar e cantar tem de aprender como se faz, tem que dar ao canelo. Não falta quem ensine e ensine bem. Os grupos folclóricos devem começar a distinguir muito bem quando precisam de mostrar roupas da tradição e em que contextos ou situações e quando é que precisam de animar uma festa ou organizar um baile popular. Se já nem os padres precisam de estar sempre de cabeção ou de estola e hissope... (a continuar)
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sexta-feira, setembro 07, 2007
De então para cá
De então pode ser o mês de Agosto e para cá é o dia de hoje: espero por uma reunião inútil, mas tem de ser assim, reunião porque nos vamos juntar uns quantos com esta função de sermos directores de turma, inútil porque se trata de uma preparação a partir de tudo quanto já se sabe e se fez em anos anteriores, mas tem de ser assim porque quem a marca não tem outra forma de ser e o lugar onde acontece tem de estar marcado por rituais de ocupação. Entretanto escrevo, porque é descompressor da atmosfera.
Escrevo na lembrança de gente que perdi nestes últimos tempos: a D. Mia, a mãe de dois irmãos meus amigos, os Farias, uma senhora que me encheu sempre a alma com aquela franqueza de acolhimento e de comunicação: ela tivera um negócio de taberna e venda e muito bem se especializara em saber encarar os fregueses e em saber adivinhar-lhes as tendências, ela acumulara experiências de trato com todos e eu bem pude saber quanto isso lhe dava vantagem para nos perceber, aos mais novos, para nos atiçar e para nos confrontar com este nosso tempo de abastança e de conforto; dela recebi alguns testemunhos que definiram o meu interesse pelas práticas musicais e coreográficas desta região, dela guardo uma lembrança de ternura e uma preocupação constante pelos meus: estar com ela era estar com todos os que temos e com todos os que somos, era ter a curiosidade de sabermos mais de nós.
Outra perda foi o Teles, meu colega de profissão, homem avantajado em todas as dimensões, no corpo, na amizade, no riso, no trabalho e na saudade; tive com ele alguns momentos decisivos neste ofício de animação cultural e neste ofício do convívio; nunca a palavra lhe foi de cerimónia e nunca o abraço lhe foi de episódio, o seu optimismo era uma força da natureza, era uma água benta de entusiasmo.
E ainda outra perda, a do «meu reitor», o professor Lúcio Craveiro da Silva, com 92 anos cheios de lucidez e de compreensão. Nos idos anos da revolução de Abril, chefiei um «comité revolucionário» de ocupação do seu gabinete de direcção da Faculdade de Filosofia em Braga, para satisfação de longo historial de reivindicação da equiparação e habilitação do curso para a docência, depois sentei-me a seu lado como representanate dos alunos no primeiro conselho directivo alargado daquela faculdade e ainda hoje me lembro com nitidez das suas palavras de recepção àquela fúria invasora do «vimos ocupar-lhe o gabinete»: «sentem-se e vamos conversar» e desarmou-nos com graça, que ele era mais reivindicativo do que nós. Falámos deste e doutros episódios do Verão quente, falámos de quanto me faltou para ser hoje mais orgulhoso de mim próprio, a última vez ali na esquina da Faculdade, depois de um encontro com música na Casa de Monção. O tempo deu-me bem a oportunidade de o ter como mestre.
Entretanto correram as festas e as marés e entre as praias de Maiorca e as de Esposende o vento e o sol proporcionaram-nos bons momentos, a mim, à minha esposa e aos amigos e familiares. Fui a S. Lourenço da Armada, com o Borralheiro e a Helena, festa que me decepcionou, não fui à Senhora do Pranto a Salto, fui a Viana do Castelo às da Sra da Agonia, outra vez com o Borralheiro e a Helena, fui às de S. Bartolomeu do Mar, com o Frank, um amigo alemão que se encontra agora entre nós e que é especialista de som, fui a S. João de Arga, com uma enchente como nunca vi, não fui à Peneda porque não pude. As festas são uma ocasião de curtimento das conversas, valem pelo descanso e pelo reparo naquilo que cuido ser a minha terra e o meu tempo.
O regresso à escola foi uma decepção, pela banalidade dos gestos e das palavras, pela curiosidade de desgaste e pela impressão de suspensão em relação às decisões que podem vir de cima, claro, do Ministério. Salvou-se e salva-se o projecto em que nos metemos para a «rentrée»: a tocata dedicada a S. Martinho de Dume, já com os alunos nos ensaios do canto, com a Ondina Cunha ao piano e a Teresa Couto como intérprete «diva» e eu a teimar no clarinete em dó, e a Céu Lucas a dar volta aos gestos e à encenação. É para o Festival de Mimos de Braga.
Em casa, nos intervalos de tudo, nos momentos de desconforto, corro com os trabalhos do vinho e da vinha, de parceria com o Aurélio de Oliveira, para apresentar no I Congresso Internacional do Vinho Verde. Só falta ensaiar. Por falar em ensaios, retomaram-se os da Associação «Os Sinos da Sé», às quintas, às 21.00 horas.
No dia 25 de Agosto foi o aniversário de minha mãe, 83 anos em situação de imobilidade progressiva, com lucidez de palavra e de memória, mas com muito tempo de silêncio e de olhar. Meu pai está com 80, estivemos lá, em Raiz do Monte, os filhos todos e quase todos os netos. Estamos ainda todos com o barulho da infância.
Escrevo na lembrança de gente que perdi nestes últimos tempos: a D. Mia, a mãe de dois irmãos meus amigos, os Farias, uma senhora que me encheu sempre a alma com aquela franqueza de acolhimento e de comunicação: ela tivera um negócio de taberna e venda e muito bem se especializara em saber encarar os fregueses e em saber adivinhar-lhes as tendências, ela acumulara experiências de trato com todos e eu bem pude saber quanto isso lhe dava vantagem para nos perceber, aos mais novos, para nos atiçar e para nos confrontar com este nosso tempo de abastança e de conforto; dela recebi alguns testemunhos que definiram o meu interesse pelas práticas musicais e coreográficas desta região, dela guardo uma lembrança de ternura e uma preocupação constante pelos meus: estar com ela era estar com todos os que temos e com todos os que somos, era ter a curiosidade de sabermos mais de nós.
Outra perda foi o Teles, meu colega de profissão, homem avantajado em todas as dimensões, no corpo, na amizade, no riso, no trabalho e na saudade; tive com ele alguns momentos decisivos neste ofício de animação cultural e neste ofício do convívio; nunca a palavra lhe foi de cerimónia e nunca o abraço lhe foi de episódio, o seu optimismo era uma força da natureza, era uma água benta de entusiasmo.
E ainda outra perda, a do «meu reitor», o professor Lúcio Craveiro da Silva, com 92 anos cheios de lucidez e de compreensão. Nos idos anos da revolução de Abril, chefiei um «comité revolucionário» de ocupação do seu gabinete de direcção da Faculdade de Filosofia em Braga, para satisfação de longo historial de reivindicação da equiparação e habilitação do curso para a docência, depois sentei-me a seu lado como representanate dos alunos no primeiro conselho directivo alargado daquela faculdade e ainda hoje me lembro com nitidez das suas palavras de recepção àquela fúria invasora do «vimos ocupar-lhe o gabinete»: «sentem-se e vamos conversar» e desarmou-nos com graça, que ele era mais reivindicativo do que nós. Falámos deste e doutros episódios do Verão quente, falámos de quanto me faltou para ser hoje mais orgulhoso de mim próprio, a última vez ali na esquina da Faculdade, depois de um encontro com música na Casa de Monção. O tempo deu-me bem a oportunidade de o ter como mestre.
Entretanto correram as festas e as marés e entre as praias de Maiorca e as de Esposende o vento e o sol proporcionaram-nos bons momentos, a mim, à minha esposa e aos amigos e familiares. Fui a S. Lourenço da Armada, com o Borralheiro e a Helena, festa que me decepcionou, não fui à Senhora do Pranto a Salto, fui a Viana do Castelo às da Sra da Agonia, outra vez com o Borralheiro e a Helena, fui às de S. Bartolomeu do Mar, com o Frank, um amigo alemão que se encontra agora entre nós e que é especialista de som, fui a S. João de Arga, com uma enchente como nunca vi, não fui à Peneda porque não pude. As festas são uma ocasião de curtimento das conversas, valem pelo descanso e pelo reparo naquilo que cuido ser a minha terra e o meu tempo.
O regresso à escola foi uma decepção, pela banalidade dos gestos e das palavras, pela curiosidade de desgaste e pela impressão de suspensão em relação às decisões que podem vir de cima, claro, do Ministério. Salvou-se e salva-se o projecto em que nos metemos para a «rentrée»: a tocata dedicada a S. Martinho de Dume, já com os alunos nos ensaios do canto, com a Ondina Cunha ao piano e a Teresa Couto como intérprete «diva» e eu a teimar no clarinete em dó, e a Céu Lucas a dar volta aos gestos e à encenação. É para o Festival de Mimos de Braga.
Em casa, nos intervalos de tudo, nos momentos de desconforto, corro com os trabalhos do vinho e da vinha, de parceria com o Aurélio de Oliveira, para apresentar no I Congresso Internacional do Vinho Verde. Só falta ensaiar. Por falar em ensaios, retomaram-se os da Associação «Os Sinos da Sé», às quintas, às 21.00 horas.
No dia 25 de Agosto foi o aniversário de minha mãe, 83 anos em situação de imobilidade progressiva, com lucidez de palavra e de memória, mas com muito tempo de silêncio e de olhar. Meu pai está com 80, estivemos lá, em Raiz do Monte, os filhos todos e quase todos os netos. Estamos ainda todos com o barulho da infância.
quarta-feira, agosto 15, 2007
Dias em conta aberta



segunda-feira, julho 30, 2007
Festival Internacional de Folclore de Braga


Foi nos dias 27, 28 e 29 deste mês de Julho, em Braga, e foi o 9º Festival de Folclore com este atributo de Internacional, tendo estado presentes grupos do Chile, do México, da Letónia, da Polónia, da Ucrânia, de Cabo Verde (via comunidade imigrante de Almada) e de Portugal (grupos de Braga, de Cinfães e de Faro). O meu grupo - Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» - que faz parte também da organização, juntamente com a CMB e os grupos Gonçalo Sampaio e Rusga de S. Vicente, actuou no primeiro dia, sexta-feira, à noite, para fechar a primeira passagem dos grupos pelo palco da Avenida Central. Os grupos «estrangeiros» apresentaram «paisagens» coreografadas das suas terras, das suas histórias; os grupos portugueses conservaram-se no retrato dos seus lugares de origem; todos deixaram que falar e que ver: a música e a dança contam as histórias desta relação entre o homem e a natureza, correm o campo semântico que vai dos gestos de criação até aos temores da despedida, projectam para diante uma certa saudade do equilíbrio de outros tempos. As duas fotografias acima não têm nada a ver com este Festival, mas têm tudo a ver com este género de espectáulos, por isso as passo a comentar. A primeira diz respeito à assistência que no dia 22 de Julho esteve em Raiz do Monte a presenciar um festival de folclore; entre a assistência estão a minha mulher e os meus pais, logo nesta primeira fila, do casaquinho cor de rosa para lá, ou seja, o boné azul, o boné beje e o chapéu branco. A segunda diz respeito à paisagem natural ou humanizada na zona de Cavez, com o rio Tâmega como espelho do céu. Se a primeira imagem for um resultado diferido da segunda, ou se a segunda for um provável fundamento da primeira, o meu propósito de escrita já poderá afirmar que em Braga estiveram reminiscências de lugares assim, com mais gente e com mais paisagens de outros rios e de outros céus. Um festival de folclore pressupõe-se como viagem de regresso a uma situação de equilíbrio entre a natureza e o homem, concretiza-se como «contemplação» de um tempo primordial de relações sociais. Ao fim e ao cabo, é assim com qualquer festival, mesmo de rock, mesmo de ópera, mesmo de música electrónica; um grupo actua para outro que assiste, tendo como conteúdos mediadores as músicas ou as cantigas que evocam as paisagens primordiais de equilíbrio e de satisfação plena das necessidades de realização pessoal. Mesmo que seja para fazer ver a que distância nos podemos encontrar dessa ideia de paisagem perfeita ou dessa ideia de natureza primordial. Os recentes espectáculos festivaleiros à volta do Planeta Terra terão mobilizado estes mesmos propósitos, com mais excessso de pertinência observadora e crítica, com mais acentuação das rupturas irreversíveis já provocadas nas paisagens e nas assistências. A minha mãe e meu pai disseram que o festival de Raiz do Monte foi bonito, que as pessoas dos grupos se esforçaram o melhor que souberam, que estas coisas não deveriam acabar, que já se vê pouca juventude nos palcos, que já se vêem muitos velhos a ver. Tirei as fotografias para me lembrar dos lugares e das situações, tirei-as para me entusiasmar por qualquer coisa que elas não mostram, mas que está lá: o nosso amor às terras, aos lugares, às pessoas, o nosso dever de preservação e de continuidade.
terça-feira, julho 24, 2007
Foram estas as flores
terça-feira, julho 10, 2007
Para a balança dos dias escolares
Acabou o ano lectivo de 2006/2007, ontem, simbolicamente, com aquela vigília na Escola Secundária Alberto Sampaio, aqui em Braga, em acto público de reflexão e de protesto pelas decisões burocráticas que afectaram a vida profissional do professor Artur Silva e que se tomaram como aquele cúmulo de procedimentos que ultrapassa os limites da paciência, da dignidade e da honra profissionais. Foi uma vigília contra os desentendimentos, de tempo, de lugares e de pessoas, como se o indivíduo, que deveria ser o maior bem a preservar, fosse o último elo de uma cadeia de consumíveis a soterrar nos aterros da mudança social. Ficará este caso como paradigma dos desentendimentos burocráticos, aqueles que radicam na mais criteriosa interpretação das leis, e que são o espelho visível da nossa fraqueza de bom senso, da nossa covardia e da nossa submissão aos poderes. Mas foi este o clima de crispação ao longo de todo o ano: os poderes centrais (o ME, a DREN, o CAE, a Lei, o Decreto, o Despacho, o Telefone, o E-mail) a quererem reconfigurar o quadro legal do exercício da profissão docente e a quererem provocar um entendimento burocrático unidireccional da mesma e a gente a agitar-se neste norte de vento agreste que se diz «escola a tempo inteiro», que se diz «escola sem graças e chalaças sobre o poder». As anedotas são o que sobra dos desastres de entendimento. Foi um ano de muitas intervenções sobre os professores, para todos os gostos e em todos os géneros, com aquela cereja da autoridade a vir sempre ao de cima, foi um ano de muito poucas reflexões sobre as escolas que temos e de que precisamos, enfim, foi um ano de transição para outro que aí vem, provavelmente mais burocrático ainda, mais verborreico e mais autoritário, provavelmente mais sinistro. A vida também se ergue dos insucessos e das tramóias, dos aterros nascem ervas pujantes e estas vão demonstrando que há na natureza uma capacidade de reequilibrar-se e de renovar-se.
Entretanto há que pôr na balança: as aulas de 90 minutos são cada vez mais pesadas, as áreas não disciplinares são cada vez mais pesadas, a indisciplina é cada vez mais pesada, a falta de oportunidades é cada vez mais pesada, a didáctica dos saberes é cada vez mais pesada, os métodos de avaliação são cada vez mais pesados e a dinâmica relacional nas escolas é cada vez mais pesada, só que este excesso de peso vai, quanto a mim, na direcção das inutilidades. Cresce o peso da burocracia e dos regimentos, cresce o peso dos relatórios, cresce o peso das trocas de informação com os órgãos centrais, mas não cresce o optimismo nem a esperança. Entretanto impõe-se uma escola a tempo inteiro que assenta em contratações de pessoal de outra natureza, entretanto retira-se a liberdade de opção aos pais e encarregados de educação pelos ATLs e pelos Centros de Aprendizagem, entretanto as provas de aferição fingem ser o que não são, entretanto os alunos escapam ao sistema, entretanto as escolas alinham na moda dos currículos alternativos em si mesmas (a água nasce e desagua na mesma fonte), os professores envolvem-se em projectos de cópia e colagem e os passeios continuam a ser a hora mais esperada. Bom, eu também peso menos na balança, ou melhor, peso mais para o lado que não queria. Foi um ano seco.
Entretanto há que pôr na balança: as aulas de 90 minutos são cada vez mais pesadas, as áreas não disciplinares são cada vez mais pesadas, a indisciplina é cada vez mais pesada, a falta de oportunidades é cada vez mais pesada, a didáctica dos saberes é cada vez mais pesada, os métodos de avaliação são cada vez mais pesados e a dinâmica relacional nas escolas é cada vez mais pesada, só que este excesso de peso vai, quanto a mim, na direcção das inutilidades. Cresce o peso da burocracia e dos regimentos, cresce o peso dos relatórios, cresce o peso das trocas de informação com os órgãos centrais, mas não cresce o optimismo nem a esperança. Entretanto impõe-se uma escola a tempo inteiro que assenta em contratações de pessoal de outra natureza, entretanto retira-se a liberdade de opção aos pais e encarregados de educação pelos ATLs e pelos Centros de Aprendizagem, entretanto as provas de aferição fingem ser o que não são, entretanto os alunos escapam ao sistema, entretanto as escolas alinham na moda dos currículos alternativos em si mesmas (a água nasce e desagua na mesma fonte), os professores envolvem-se em projectos de cópia e colagem e os passeios continuam a ser a hora mais esperada. Bom, eu também peso menos na balança, ou melhor, peso mais para o lado que não queria. Foi um ano seco.
quinta-feira, julho 05, 2007
Na despedida de mais uma colega

De bondade e ternura foi o tempo
Que passámos contigo a construir
Este ofício de ver e descobrir
Onde guardam alguns o seu talento.
Foi um fio de contas o alento
Que mostraste nos actos de intuir
E ajudar a crescer, sem destruir,
Outros fios de acção e pensamento.
Cada um tem agora uma saudade
De esperar fazer mais no dia-a-dia,
Com igual intenção e habilidade,
Por aqueles que vivem a alegria
De uma ajuda ou gesto de carinho
P’ra chegarem mais longe no caminho.
(Foto tirada pelo prof. Fernando cardoso /Braga 2007)
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necessidades educativas especiais
segunda-feira, julho 02, 2007
Os dias na escola 4
São de inquietação confrangedora,
Dada a banalidade dos queixumes
E dada a opacidade dos tapumes
Que interrompem o foco a toda a hora.
Dada a banalidade dos queixumes
E dada a opacidade dos tapumes
Que interrompem o foco a toda a hora.
domingo, junho 24, 2007
A noitada de S. João foi de camiões!
Eram as trombetas do apocalipse, mas se não foram, pareceram. A noitada de S. João na cidade de Braga subiu de tom e o inferno das roncas, das sirenes e das bochechas inflamadas de ar ocupou os ouvidos, penetrou até aos tímpanos de uma memória já feita de barulhos mais ténues, mais toleráveis e menos impositivos, embora estes já andassem a cobrir uma memória de noites sossegadas, onde os estampidos eram provisórios e efémeros. Quando os martelinhos se impuseram, logo com eles vieram também os apitos da arbitragem, mas este ano chegaram os claxons de camião, essas sanguessugas da atenção rodoviária. Se a juventude estouvada se quis afirmar e exibir, ontem, na noitada de S. João, teve meios de eficácia absoluta. Fico na dúvida que tais roncos sejam apelativos da sedução, mas hoje nada se sabe de seguro sobre o terreno dos instintos. Aquelas sirenes de camião em trovoada, movidas pelo sopro pulmonar, poupando assim no ar comprimido das botijas, trouxeram o desassossego da noite. Já de tarde me encontrara com o Dr. Meneses e ele me dissera que ia a caminho da casa, a fugir da barulheira dos bombos, sobre os quais afirmava o aumento exponencial de barulho e de impacto em relação aos Zés Pereiras da sua juventude, e eu estivera ali a temperar a sua intolerância para com este exibicionismo contemporâneo, mal intuindo o que me esperava nessa mesma noite. Também vim de malas para casa, muito mais cedo do que pensara, muito mais intolerante que o Dr. Meneses. Arre!
quarta-feira, junho 13, 2007
Cantemos o S. João

Professor titular de coisa qual?

Está a resultar muito claro que este concurso para professores titulares se vai representar no futuro próximo como um momento de ajuste de contas. Tudo nele se configura para esta ideia do acerto de contas, umas recalcadas, outras mantidas em lume aceso, outras ainda mal apagadas, outras sempre espevitadas pelos ventos da língua. Mas que contas? As pessoais e as institucionais. No que toca às pessoais, cada um diz o que quer, mas agora diz mais porque a conjuntura assim o requer: agora é preciso falar sobre os colegas, agora é preciso referir quem fez o quê e quando e como, agora requer-se que se fale de tudo, sobretudo do que não sendo objectivo mais se presta para concretizar. Corre pela escola uma algaraviada sintonizada na crítica desabrida ao estilo e à personalidade de cada um: pelo que me toca, já ouvi de tudo, mas ainda mais terei de ouvir enquanto a procissão andar às voltas: que eu fui intratável, que eu fiz e aconteci, que eu não liguei a este nem àquele, que eu só me ocupei de cargos com visibilidade, que eu sou um daqueles para quem o concurso se fez por encomenda. Não discuto nem contesto, estas críticas e muitas outras são a minha vida e têm sido o meu sustento de feitio e de trabalho, e ainda hei-de ouvir muitas mais, senão morro de tédio e de falta de assunto. O nervo espicaçado rejuvenesce o tecido. No que toca às críticas institucionais, a coisa já pia mais fino. Este concurso é um revelador de quê? De um tipo de escola em que nos envolvemos em todo o tipo de trabalhos que agora não aparecem nos critérios de promoção e de contabilidade de pontos, que nos gastámos em actividades que agora não são minimamente valorizadas nem sequer referidas, que andámos a trabalhar para nada. Pois esta crua realidade é que nos está a pôr ao rubro, afinal este concurso só pontua cargos e mais cargos, não pontua desempenhos ou estilos de docência, não pontua dedicações nem preenchimento de papéis. É esta a realidade que nos põe a disparatar contra tudo e contra todos, mas é esta a realidade. Não julguem que os meus pontos resultam das aulas que dei ou das fichas que concebi para os alunos, ou das cantigas que lhes criei, ou das cenas e dos passeios que com eles desenvolvi, ou das horas que gastei em apoio lectivo ou em dedicação à escola, ou das histórias que lhes contei, ou das acções de formação em que participei quer como líder, quer como cliente. Os meus pontos para professor titular resultam da aplicação de uns critérios objectivos aplicados aos meus últimos sete anos de profissão docente. Este concurso é dilemático na sua essência e demoníaco nos seus propósitos: daqui para a frente, eu deverei continuar atento às actividades que derem pontos para a progressão na carreira ou deverei continuar disponível para todo o tipo de dedicações à escola e aos alunos? Daqui para a frente eu ocuparei cargos para exercer uma função pedagógica ou ocuparei cargos para obter os pontos necessários à futura progressão? Eu vou só dar dois ou três exemplos de dedicação docente que neste concurso não servem para nada: o caso primeiro pode ser o de um programa de rádio escolar: quem o faz e quem o sustenta não ganha nada com ele; mas a seguir posso indicar a paciência ilimitada dos colegas que gerem toda a informática da escola: não há qualquer ponto para o que fizeram; depois posso invocar os meus colegas e amigos, e eu próprio, contadores de histórias que servem todo o tipo de encomendas: pois que se contentem em contentar histórias ponto a ponto e até os podem aumentar que eles nunca aparecerão no concurso. A feira ainda não desarmou e está longe de esgotar os estoques da boa língua. Mas que este pode ser um bom ponto de partida para uma interrogação há muito desejada, pode: o que é que andamos a fazer que se veja e tenha sabor e cheiro e preço e gasto e não seja só um discurso de pedagogia verbal?
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pedagogia,
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