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terça-feira, dezembro 26, 2006

Ceias de Natal - a mesa posta

9/12/06 - A primeira deste ano foi a da Associação Recreativa e Cultural de Palmeira, à qual somos convidados pela colaboração activa que oferecemos à edição anual da revista que assinala a organização do Festival de Folclore nesta freguesia e que está a cargo do Grupo Folclórico e Etnográfico de Palmeira, uma extensão daquela associação, a mais forte e activa, se bem que a actual direcção esteja decidida a fazer progredir outras actividades, agora que a sede social é já uma realidade em pleno funcionamento. À frente desta ssociação tem estado o professor Manuel Maia, um filho da terra, dinâmico e incansável promotor de iniciativas em prol da freguesia. A ceia de Natal valeu por aquele momento de emocionada tensão que emergiu nos olhos do presidente Maia, quando este dirigia a todos os presentes umas palavras de estímulo associativo e de solidariedade pessoal. Não pude ficar indiferente àquele desejo incontido de esperar dos seus pares e de todos os elementos uma solidária colaboração, que se concretize para além do direito pessoal de criticar e para além do saudável exercício de maldizer. Os apelos à crítica são fáceis de fazer, os apelos à construção, esses requerem algumas vezes uma emoção para além das regras de bem parecer. E o Maia mostrou uma dor de alma que não se espera ver transformada em ferida aberta. Nas localidades em que todos nos conhecemos não é fácil esconder a verdade das emoções.
15/12/06 - A segunda foi no Clube de Ténis de Braga, com bacalhau à moda da terra e com peru assado no próprio Clube por gente da Casa sob a direcção de ilustre gastrónomo e dirigente associativo, cujo nome não revelo por questões de extremo cautelismo de mão-de-obra: aquele recheio do galináceo, com aquele branquear de pinhões, deixou o sabor preso da gula, ainda mais crescida com aquela mesa de bilhar grande recheada de posodorias caseirinhas. Jogou-se à mesa, em singulares e pares, sempre com o primeiro serviço a entrar bem. Contei por lá umas histórias, para desempatar.
16/12/06 - A terceira foi a da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga e esta teve no fim o filme de João Botelho, «Viagem ao Coração do Douro», a ilustrar uma das dimensões que a mesa mais fomenta entre nós: a de mais nos expormos quando estamos bem comidos e bebidos. Expormo-nos, entenda-se, em fragilidades de terras e de seivas, em rudezas de caminhos e de projectos, embora tudo fique depois misturado em mosto, que sempre é mais estrume para outros devaneios. Lá se comeu o bacalhau e as batatas e as tronchudas, lá se falou da região, lá se afogaram umas tantas ideias sobre a paisagem que o Douro é, em água e em margens. A presença do Dr. Francisco Gil Silva, da Comissão Executiva das Comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro, deu um toque de excelência às garrafas de vinho fino.
24/12/06 - A quarta foi a de nossa casa, com os meus sogros, cunhado e cunhada e sobrinhos, oito à mesa. Na forma do costume, assim se pode dizer, sempre com mais afectação de recursos, mas também de resultados. Uma ceia que terminou no dia de Natal com a consagração que lhe veio trazer a presença do nosso afilhado do Porto, o Zé Carlos, com os pais e o irmão e a cunhada e os irmãos desta. Depois de tão difícil e longa série de intervenções médicas, o nosso jovem faz finca-pé na estatura dos seus 27 anos e ergue-se com o merecimento do sacrifício pessoal, um acto que o tem obrigado a renascer todos os dias, mas que acabará em superação, estamos certos e confiantes. De que forças precisamos nós e onde as vamos procurar? Que palavras nos podem consolar as intromissões imprevistas da fortuna? Que transcendência nos impele a não desanimar? Este Natal as respostas ficaram mais próximas de nós e sentimo-nos como reis que seguem uma estrela.

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