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quarta-feira, outubro 21, 2009

Por via da gripe A


Esta coisa da Gripe A obriga-nos a dar aulas de porta aberta, permeáveis portanto aos barulhos do exterior e fazedores de barulho para outros, com o horizonte dos corredores após a porta, ou sem eles e com a cara do professor vizinho na proximidade. Dizem que assim tem esta medida a virtude de maior circulação de ar, portanto de maior arejo e de maior impedimento da incubação do vírus. Pode ser que sim e até pode ser que este abrimento de portas traga a vantagem próxima de um professor de vozeirão bastar para dar aula a três ou quatro turmas nos arredores, evitando assim a sujeição de outros colegas, poupando recursos e amenizando perdas. Pode ser que também venha daqui outro bem que é o de os funcionários de corredor poderem usufruir de formação multidisciplinar ou na pior das hipóteses de formação de entretenimento mais aliviante que a solidão e o silêncio. Pode ser que sim, já que estas medidas são de espantamento de vírus, portanto também o hão-de ser de espantamento de humanos. Por falar na gripe A, fui ao youtube, que é agora o espaço público onde se espaventam todas as notícias e onde se experimentam todos os discursos, e o que vi deixou-me deveras circuitado, para não dizer pasmado e confuso. O rol de vídeos discursivos, com ou sem personagens, com mais ou com menos documentação de apoio, denunciando demoníacos propósitos por detrás da campanha de vacinas e prevenindo contra apocalípticas estratégias de redução da população mundial, deixou-me atónito, perplexo, esmagado. Com que então tudo não passará, e tudo é esta concepção de gripe A e de seu controle por vacinação obrigatória, tudo não passará, ao que vi e ouvi, de uma inventiva medida para reduzir a população mundial, denúncia esta que já fez cair ministros e já perturbou a relação entre estados, denúncia esta que associa toda a maquinação a uma sinistra personagem, dona de uma farmacêutica e dona de uma patente da vacina, por sinal já em tempos idos secretário de estado da defesa dos estados unidos da américa, e escrevo tudo com letra pequena, esse mesmo o tal de donald rumsfeld, o mesmo da invasão do Iraque e o mesmo de outras inventonas similares em mais países. Pelo que vi e ouvi e li, estaremos todos a ser enganados com tal ferocidade de propósitos que nem lembraria ao diabo, que bem poderia agora, por mãos de um escritor de nomeada, aproveitar a maré para disto fazer romance com solução final, invocando eu nesta insinuação o nosso nobel escritor Saramago, já denunciador de outras campanhas onde intervieram deuses sinistros e medonhos, já prenunciador de situações narrativas onde acontece tudo o que de pior a humana geração concebe para ser carrasca de si própria, como foi o caso da cegueira colectiva e o caso da morte suspensa e o caso da comercialização total da vida. Mais fiquei siderado, e imobilizado no assento, com essoutra interpretação youtubesca de que a gripe A e a sua correlativa vacina não passarão afinal de um prenúncio bíblico de fim de mundo próximo. Ao pé de alguns vídeos de mensagem aterradoramente denunciadora de propósitos ocultos, achei graça àquele vídeo que me demonstrou simplesmente que a vacina preparada para combater a gripe A tinha resultado das sementes do anis, essa flor ou planta que eu de pequenino via metida numa garrafa e era consumida logo pela manhã por mineiros que chegavam do turno da noite e assim bebiam de um trago o melhor antídoto à tosse convulsa e à flatulência intestinal, o melhor facilitador da abertura de pulmões e de canais. Afinal aquelas garrafas de anis que me habituei de pequeno a ver nos tascos da minha terra e que depois também quis ter em casa por achar encantamento à flor internada, estão agora no interior de uma vacina e visam erradicar a flatulência de um vírus porcino ou aviário que se misturou com o de nós, o de nossa criação humana. Andei lá pelo oriente e vi de facto alguma gente de máscara, sobretudo funcionários de fronteira, mas não me apercebi nunca de ninguém infectado ou afectado e no Bairro Português de Malaca então é que nem vi ninguém preocupado com semelhante horror dos horrores. O mundo é isto mesmo, uns a escrevê-lo como horror e outros a querer fazê-lo parecer pior que a literatura.







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