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segunda-feira, outubro 26, 2009

PROJECTO MALACA XVII: NOEL FELIX EM PORTUGAL - PARABÉNS!

Para me regozijar com a vinda de Noel Felix a Portugal escrevi esta estrofe, nela projectando o sentido das conversas que tive com ele.

Faz boa viagem, companheiro,
Tenho saudades de te ver aqui:
Traz os teus cantares de marinheiro,
Mais as tuas ânsias de saber

Quanto desta terra está em ti,
Foi teu embalo e te fez crescer,
Sem nunca a teres pisado por inteiro.



(Fotografia da Cátia com Noel Felix na Capela, espaço que se considerou adequado para os ensaios de danças com os grupos do Bairro Português de Malaca; ali ensaiei algumas horas ao longo de muitos dias; o calor imenso, não obstante uma quantidade razoável de ventoinhas, obrigou-nos a uma resistência tenaz, mas proveitosa. )






Este homem conseguiu finalmente realizar um dos sonhos da sua vida, vir a Portugal, a terra dos seus ancestrais progenitores, a terra de que ele se sente orgulhoso, pelo menos desde 1511.  Noel Feliz é um «performer», um cantor local, um criador de poéticas e de melodias. É um dos autores que mais trabalhou a busca de uma identidade rítmica e sonora do bairro português com os ritmos e os sons da Malásia, busca essa que se pode bem traduzir no «branio», um modo peculiar de juntar a palavra em português de Malaca, a simplicidade tonal e melódica da composição e o ritmo sincopado malaio; recorrendo a rebanas, tambores com aspecto de «alguidares»
arredondados invertidos, o tocador de harmónica introduz a melodia e depois solta-se para cantar as quadras ou estrofes. «Jinkly Nona» é talvez o especímen mais divulgado e mais identificador do branio.

(Na fotografia seguinte estou eu e Noel Felix, há mais músicos que não se vêem, a interpretar aquela melodia referida. Também toquei com ele, até aprender, claro está, o «morisko». Esta sessão de aprendizagem, entre os ensaios, decorreu no Jardim Infantil, lugar onde também ensaiava o grupo liderado pela educadora Marina e seu marido.)


Noel Felix tem uma intervenção musical no bairro português digna de nota, pois para além de intervir nos momentos festivos e nos espectáculos contratualizados com o seu grupo de dança, ele se dedica à transmissão junto dos mais novos, não só das suas melodias, mas também dos seus projectos de composição.
Creio que, neste momento, há em curso três dinâmicas fortes sob o ponto de vista da cultura musical:
1. Continuar a prática musical de melodias portuguesas, em português europeu ou em português de Malaca (as duas práticas não são incompatíveis); 2. Continuar a prática musical e coreográfica de danças portuguesas, com uma assimilação de movimentos e posturas locais; 3. Continuar a criação de melodias em português de Malaca e porventura em Inglês e em Malaio, aumentando repertório, exprimindo vivências e aspirações.
No Bairro Português, há já um rol de intérpretes e de cantores, quase todos com obra gravada; todos eles acabam por praticar as melodias uns dos outros e por lhes dar uma orientação de composição em consonância com estilos e «audições» correntes, concretamente um «sabor country» ou uma aproximação ao estilo «blues». Há um factor importante a cimentar toda a cultura musical: é o facto da tradição acumulada não ser muito extensa e estar sempre a ser retomada pelos vários intérpretes.

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