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quarta-feira, julho 07, 2021

«Mandou-nos escrever o seu futuro»

Faleceu no pretérito do 26 de Maio, em Lisboa, João Maria Machado (1927-2021), conhecido em todo o concelho como trabalhador das Minas de Jales, o homem do armazém e do escritório que mantinha relações comerciais de abastecimento da empresa com as principais casas da Vila. Tinha quase 94 anos de idade e a sua longa vida bem poderá ser tomada como caso exemplar de uma cidadania plena.

As suas raízes educativas mergulham, com seus pais e avós, em tempo de monarquia e em tempo de instalação da República, guardando as memórias de tempos da gripe espanhola vividas por sua mãe. A sua infância e adolescência ocorrem no contexto das expectativas geradas pela implementação do Estado Novo. Da sua instrução primária, ficou dele a memória do aluno leitor dos jornais para o povo que se juntava na Botica e queria saber das novidades da guerra civil espanhola. 

Nos anos quarenta, com 13 anos, ingressa no mundo do comércio, empregado na Casa Caçador, no Porto, granjeando notoriedade como caixeiro e escriturário. Aos dezoito regressa à sua terra para cavar e tratar as vinhas, modo de vida de todos os seus irmãos e conterrâneos. Não tinha ainda os vinte anos feitos quando se empregou nas Minas de Jales, algum tempo como bombeiro, logo a seguir como escriturário apontador. Nos anos cinquenta, João Machado realiza-se profissionalmente no Armazém, secção da empresa que então se ocupava de toda a gestão dos recursos materiais para a mina. 

Casou com Ana Maria Gomes da Costa (1924-2013), natural de Raiz do Monte, criando o casal nove filhos. De fiel de armazém foi promovido a chefe dos escritórios, função que abandonou no seguimento de uma complexa reestruturação da empresa, já próximo da aposentação, esta consumada em 1992, indo residir para Raiz do Monte, terra de sua esposa, onde o casal fazia alguma lavoura. 

João Maria Machado potenciou todas as suas capacidades numa empresa que era, segundo ele, um autêntico centro de formação técnica e humana, com um quadro de pessoal muito diversificado e muito instruído ao nível das chefias intermédias e superiores. Foi assinante de jornal diário ao longo da sua vida, acumulando uma sabedoria muito sustentada na imprensa e nos recursos humanos da empresa. Foi um cidadão interveniente nas dimensões da animação social, desportiva, festiva e cultural. Esteve sempre envolvido nos programas de desenvolvimento local, tendo liderado comissões de melhoramento para a electrificação das aldeias, para a instalação de água corrente, para a construção da escola primária de Raiz do Monte e da sua cantina escolar. Foi várias vezes director do Clube Desportivo do pessoal das Minas de Jales, o qual integrava um Centro FNAT. Foi um dos fundadores do Centro Desportivo, Recreativo e Cultural de Raiz do Monte e do seu Rancho Folclórico, do qual foi dirigente. 


Tendo nascido em Nogueira, terra com tradições de banda musical e de teatro, João Maria Machado continuou, em Jales, a desenvolver actividades teatrais e a promover as festas populares. Como cidadão, integrou ainda o órgão da Assembleia de Freguesia de Vreia de Jales em dois mandatos. Como católico, a sua colaboração com a igreja local cumpriu-se na ajuda ao serviço da missa. A formação e o desempenho dos seus filhos eram o seu orgulho.

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