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sexta-feira, janeiro 25, 2008

A festa de S. Sebastião

Fotografia tirada por mim em Alturas de Barroso, concelho de Boticas; na Casa do Santo, por volta das 11.30, quando a procissão chegou e o padre benzeu a «mesinha»: os potes da feijoada e do arroz, o pão e o vinho.

Neste dia, na estrada que liga Salto a Boticas, começámos por subir às Alturas, ali assistimos à missa e à procissão, provámos a feijoada, comprámos o pão, deixámos a esmola, trocámos impressões com amigos e naturais (o sr. José Martins é uma figura a considerar na estratégia comunicacional da terra); depois descemos e passámos ao lado de Couto de Dornelas, onde a festa ganha uma dimensão descomunal de romaria e onde os problemas entre a comissão e o padre continuam em aberto, não obstante a singularidade da «mesinha ser posta em comprida mesa pela estrada fora e toda a gente ali acumular farnel de viagem. Andam por ali bem vivos os velhos labéus de antiquíssima disputa, ou novíssima questão...

Depois chegámos a Cerdedo onde a missa estava marcada, este ano, para as 12.30, muito tarde para todos mas ao calhar do sr. padre Fernando: aqui o ritual da celebração mantém aquela ingenuidade de contacto que se coaduna bem com a limitada territorialidade da sua vivência; a «mesinha» é um carolo de pão centeio e um naco de toucinho, distribuídos a cada pessoa, mas tem também mesa posta com pão, vinho, carne de porco e até um golinho de aguardente. Depois há leilão de orelheiras, queixadas, pás, barrigas, peitos de porco e broas de pão.

Percorro estes lugares desde 1985, eu e mais colegas, este ano com o Rogério Borralheiro, outros anos também com o António Castanheira e quem nos acompanhe a gosto solto.

Em Salto, a mudança é a impressão mais óbvia e todavia tudo se faz como nos outros lugares: a «mesinha» é agora uma «pada», um pão de trigo maior que o «molete» habitual, e um púcaro de vinho, podendo cada pessoa «tirar», que é pagar, os «mordomos» que decidir distribuir pela sua família e «fazenda» doméstica. Junta-se o povo à volta da Igreja Nova e ali se distribui e se come, numa convivência prolongada pela tarde, enriquecida de outras mesinhas trazidas de casa e confirmadora da festa como abertura de um novo ciclo de regeneração: tudo começa a partir de agora com outro fôlego, ou deverá começar, já com sinais carnavalescos de animação e de entusiasmo pelo crescer dos dias.

Anda meio mundo nestas festas e fala-se nelas do outro meio. São marcos no calendário, são lugares comuns e fora do comum no discurso, são excepções na rotina, são nostalgias de expressão e impressões de luminosa contestação. Valem por tudo e pelo pormenor.

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