Este
foi o ano em que me aposentei desde Janeiro, ano que ficou marcado pelo
confinamento da população escolar e de todo o ensino. As escolas fecharam e o
processo de aprendizagem decorreu por via virtual, num processamento que foi
surpresa para todos, alunos, pais e professores e cuja avaliação estará a
decorrer para fundamentar as decisões relativas ao novo ano lectivo.
De Março –
a minha última crónica foi a catorze - até hoje, as Chamadas de Santa Cruz
ficaram suspensas e mergulharam em processo de ausência e de impotência para a
ultrapassar: o Lar de Santa Cruz, onde tenho três familiares, entrou em
confinamento absoluto, os utentes ficaram sem visitas e sem qualquer
possibilidade de se deslocarem para fora do lar e, mesmo dentro, foram limitadas
as deslocações de quem ainda pode andar com autonomia.
A dureza do isolamento
só agora em finais de Maio abrandou, mas ainda não há visitas aos quartos e os
utentes apenas podem ter uma entrevista com familiares, meia hora por semana, em
moldes de distanciamento físico rigoroso. O sofrimento é muito, a saudade é
acutilante e as mazelas fazem-se sentir, os utentes apresentam sinais de
cansaço e de variação humoral muito sintomática e os familiares aguardam
melhores notícias já com muita falta de paciência. Houve utentes sintomáticos,
houve, houve mortes previsíveis e houve curas e superações da doença; não
tivemos conhecimento de situações de caos ou de abandono ou de insuficiência de
meios, antes pelo contrário, verificámos uma dedicação ímpar, absolutamente empenhada e solidária, quer da parte dos
funcionários, quer da parte da gestão do Lar.
Criei uma página no Facebook para
acompanhar a situação: Amigos do Lar de Santa Cruz. Quem quiser pode aceder e
começar a interagir. As redes sociais tornaram-se um refúgio e um campo de
acção e de muita aprendizagem. O mesmo aconteceu com a escola. Acompanhei por
largo o que se passou no nosso agrupamento, ainda presidi à organização do
Conselho Geral que deu origem à eleição de novo presidente e à consequente
eleição de novo director. Deixo aqui os meus cumprimentos aos eleitos, à
professora Cristina Cibrão como presidente do Conselho Geral e ao professor
Arlindo Antunes de Sousa como Director. Continuarei a afirmar a minha
disponibilidade de colaboração nas dimensões educativas possíveis.
Saber tirar
lições daquilo que nos acontece é uma ideia sempre presente na educação,
traduz-se nesse axioma de que estamos sempre a aprender. Fomos desafiados a
fazer uma escola dentro das escolas, uma escola a partir da casa de cada um e pelo
processo de ligação a uma rede virtual. A informática tornou possível esta
mudança, porventura revelou algumas insuficiências e terá gerado as mais
díspares emoções e reflexões. Importa tirar lições, mas eu creio que se tornou
muito evidente a necessidade de regresso o mais depressa possível ao contacto
físico, à presença de pessoas nas salas, à ocupação espacial e temporal das
escolas.
Não deitar nada fora, nem o que se aprendeu com a escola virtual, nem
o que se aprendeu com a ausência dos espaços físicos e dos contactos cara a
cara é o que eu recomendo a todos. Na nossa vida tudo tem que ser aproveitado e
acabará por nos ser útil. Assim o espero e oxalá as escolas regressem em força
à sua natureza de espaços povoados de gente em aprendizagens continuadas.
Quanto às lições a tirar nas dimensões do humano demasiado humano e do
espiritual, também creio que todos vamos ser um pouco diferentes do que fomos
até agora, para melhor, estou convencido, mais solidários, mais reflexivos e
mais práticos, menos agarrados a ideologias de mudança radical que tudo parecem
reduzir a estratégias de medo e de imposição. Oxalá saiamos desta crise com
mais ansiedade de liberdade e de criatividade, é a minha esperança.
quinta-feira, julho 09, 2020
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