Vou apresentar por aqui os meus resultados de caminhadas e procuras.
I - Em 17 de Janeiro de 2006, 16:00 horas, em casa do
senhor Cascais, em Sezelhe. Eu fora na companhia de outro Cascais, o do banco de Montalegre e de um amigo comum, o Rogério Borralheiro, na peugada de cantigas e de lá viemos com a vareira das couves, forma fácil de a nomear, além de outras. Por entre as conversas, registámos lendas e dizeres de evidenciação irónica de feitios pessoais:
A/ A lenda da pedra que tona conta-se em Sezelhe,
Montalegre, e quem ma contou a mim foi o senhor Cascais, o mais velho, não este
que trabalhava no banco, embora eu estivesse com este quando o outro me contou
a lenda da pedra que ressoa, que retina, melhor dito, que as palavras são
muitas mas a musicalidade da pedra é essencial. É no lugar de Ananha, na casa
da floresta ou perto dela, há ali uma pedra com uma cavidade que tocando-a ela
ressoa, retina. Conta o senhor Cascais que lhe contava seu tio que ele gostava
de lá meter a cabeça na pedra e bater na pedra. O tio dizia-lhe sempre «olha
que se metes aí a cabeça depois não a tiras». E contou-lhe: que um rapaz um dia
meteu lá a cabeça e sentiu-se preso, foi preciso alguém ir chamar gente ao
povo. Veio um e disse-lhe «vou deitar-te as calças abaixo, se sentires frio é
lobo, se sentires quente é cu; foi buscar gelo, o rapaz sentiu frio, puxou a
cabeça e deixou lá as orelhas.
B/ Outra lenda: aparecia lá uma tenda de ouro a
luzir, mas quando as pessoas se aproximavam aquilo desaparecia. Uma rapariga do
Simão que andava com a rês viu a tenda a brilhar, foi por trás e apareceu-lhe
uma senhora que lhe perguntou o que andava a fazer e ela disse que viera ver a
tenda. Aquilo desapareceu, a senhora deu-lhe uma púcara: «vais embora, não
olhes para trás, e levas a púcara» (panela de barro que leva leite e natas). A
rapariga levou a púcara, achou que a devia ver, olhou, só tinha palhas,
deitou-a fora. Uma das palhas era uma corrente de ouro. Mais rica ficava se não
tivesse deitado a outra palha fora.
C/ A fonte das egitanas constitui uma sábia
interpretação do trabalho invejado ou cobiçado que não desaparece mais. Diz-se
que havia na fonte umas mulheres que sabiam fiar, só que o fiado desaparecia.
As pessoas iam ver e constatavam que o fiado se fazia, mas depois não o viam
mais, então um dia decidiram apedrejar o fiado quando saíssem de ao pé das
mulheres e assim fizeram. Depois de apedrejado, nunca mais desapareceu. O
senhor Cascais remata bem: o trabalho fiado, apedrejado, é sobre a cobiça do
trabalho dos outros e essa não desaparece mais.
D/ Qualquer coisa serviu também
para exprimir o «direito de olho» através do dito: levar a chouriça do fumeiro para o puxeiro.
E/ Conta a senhora que o marido come devagar e
então explica: o meu Augusto corta o feijão em quatro partes para o comer.
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