Este
mês de Março foi meu princípio de vida, devendo por este marco entender-se o
dia em que meus pais deram o nó e a partir daí começaram a construir uma
família de 10 filhos, nove criados e vivos, dispersos pelo país.
No dia 4 de
Março de 1951, na igreja paroquial de Vreia de Jales, freguesia do concelho de
Vila Pouca de Aguiar, meus pais consorciaram-se religiosamente, aproveitando um
termo que andou pelas bocas do mundo, em
tempos de iniciação republicana, consorciar-se. Passados 50 anos, nós, os filhos, celebrámos a
nossos pais as bodas de ouro, com cerimónia religiosa na mesma igreja e
almoçarada em Vila Real.
Na viagem de regresso a Braga é que aconteceu aquela
tragédia da ponte de Entre-os-Rios o que nos fez comungar do mesmo sentimento
de finitude intempestiva que pode ocorrer após momentos eufóricos de
celebração, considerando que nossos desígnios dependem de todas e quaisquer
circunstâncias que nos escapam sempre, mesmo quando as temos todas por
garantidas e seguras.
Na mão de Deus, na sua mão direita, é verso de soneto
anteriano, mas bem se pode tomar como aconchego verbal de uma consideração
religiosa da vida.
(Fotografia de António Pinto)
Por falar neste aconchego que só a fé sabe instalar no
coração do homem, lembro novamente o dia 4 de Março para referir o nascimento
de um jovem de quem eu e minha esposa fomos padrinhos de baptismo, o José
Carlos Alves Dias, nascido no Porto em 1980 e levado para junto de Deus em
2010, na flor dos seus trinta anos, que os iria fazer se durasse sua vida mais
dois meses. Este jovem era filho de um colega meu, o professor João Alves Dias,
um sacerdote da diocese do Porto que deixou a função sacerdotal e seguiu outra
forma de realização pessoal. O conhecimento e a amizade entre nós nasceu no
nosso ano de estágio profissional no ensino básico, em Vila Real no ano de
1976, seis homens que éramos mais duas orientadoras, uma da disciplina de
História e outra da de Português.
Eu saíra recentemente de um partido político
que me consumira as energias esquerdizantes, os outros eram mais velhos do que
eu e todos eles tinham uma história pessoal marcada por vicissitudes peculiares mas motivadoras da profissão que então sustentaríamos pedagógica e
didacticamente. No seguimento dessa amizade forjada nos bancos da escola
docente é que eu fui convidado para compadre de meu colega e de sua esposa, ela
também professora; nesse ano de estágio o casal fizera o primeiro filho e eu
ainda o balancei e passeei algumas vezes, de modo sempre recordado como
abonatório de meus entusiasmos e de minhas irreverências, uns e umas agora cada
vez mais em ritmo de sossegamento natural.
O nosso afilhado do Porto, como
sempre dissemos e dizemos, acabou por ser vítima de uma ocorrência óssea rara mas
fatídica, com um período intensivo de vivência de soluções médicas possíveis
mas insuficientes face à gravidade do problema. Todas as nossas memórias com
ele são de entusiasmo pela vida, são de louvor à criação e de arreigamento da
tal fé que nos sustém um equilíbrio de juízo face às indeterminações.
É por
estas razões que o mês de março me pesa e me restaura, não fosse ele o mês da
entrada do primeiro verão ou primavera, renovamento cíclico que a natureza
congeminou para nos impulsionar. Numa crónica escolar talvez estas
memórias devam ainda ser acrescentadas de um aniversário de meu irmão e de uma festa
cíclica que também ocorre, a de S. José, figura bíblica que eu representei em
pequeno quando meus pais me integravam no ciclo festivo da aldeia, quem sabe se
por ele sou José também.
Se por acaso o leitor achar que estas reflexões
vieram a propósito de outras que também poderão ser suas, saiba então que
estamos a dar ao mês de Março a importância dos marcos miliários.
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