Os
padeiros, a massa e o fermento – breve reflexão sobre as
autárquicas 2013
(Esta fotografia é do cavalete das Minas de Jales, hoje desactivadas; constitui um símbolo do passado e do futuro daquela terra, onde nasci: alimenta as esperanças de se voltar a explorar o ouro)
As metáforas são úteis, embora por vezes de efeitos
limitados. Por isso, nada de ilusões quanto a esta.
Os concorrentes às autárquicas 2013 são os padeiros. Eles e
elas estão apostados em fabricar o melhor pão, de modo a conquistarem a
fidelidade dos clientes não só ao pão de amostra, mas sobretudo ao pão que irão
continuar a apresentar no futuro, caso sejam escolhidos pela freguesia. O pão é
feito de massa, trigo, milho ou outro produto adequado, porventura até novo e a
experimentar. A massa aqui representa o programa, a agenda política de
realizações, promessas e sonhos. Cada padeiro amassa consoante as metodologias
que considera eficientes. Mas a massa requer fermento para levedar e crescer e
no fermento é que está o segredo, pelo menos o desta metáfora ou alegoria,
porque já começa a estar aqui encadeada uma série de analogias sugestivas com
outras realidades. O fermento é então o governo, sim, a matéria que faz
fermentar a massa: é que nenhum programa pode andar alheio do governo que temos
e das condições em que governa. Recusar este fermento é correr riscos de um pão
imprevisível; assumir o fermento é aceitar que o pão terá um preço a pagar.
Haverá padeiros que vão recorrer a outros fermentos, uns vindos de paraísos
fiscais, outros de países alheios aos processos de fabrico que suponho estarem
implícitos. Mas ninguém deixará, pela positiva ou pela negativa, de integrar na
massa o fermento do governo. É incontornável. Onde está a graça, então? Para
mim está nesta conclusão que antecipo: o fermento «governo» é o mais útil que
podia existir neste momento para se mostrar a habilidade de fabricar pão. É
desafiador, bem sei, mas não há forma de o evitar: dois anos depois, as ilusões
alternativas não germinaram e as dores já calejaram alguma perspectiva do tempo
de sofrimento. Estas promessas de bom pão, ou de pão novo, ou de pão
alternativo, entraram em transe final: será racional pensarmos que vamos ter
autarquias a aumentar as limitações da governação? Poderemos pensar que vamos
ter autarquias a superar os constrangimentos de financiamento do país? O mais
realista que consigo pensar é que tenhamos autarquias a tentar minorar efeitos
de escala da governação central. Não serão as autarquias a revolucionar o país,
mas delas hão-de esperar-se propostas de reforma que aliviem os problemas em
que estamos mergulhados. Portanto, em termos práticos, eu acharei mais
expeditos os padeiros que usarem o fermento do governo, por mais simpáticos que
possam parecer aqueles que o recusam ou querem usar um fermento que não têm. A
massa deverá ser trabalhada de modo a que possamos esperar um pão que nos abra
o apetite, nesta fome em que andamos de ver o país tomar rumo. Numa situação
presente em que comemos o pão que o diabo amassou, com o fermento que o país é,
melhor haveremos de ficar. Mas, tenho de confessá-lo, todos os padeiros andam a
milhas desta minha teoria metafórica.
Declaração de interesses: o autor declarou o seu apoio a
«Juntos por Braga».
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