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domingo, março 11, 2012

Da lealdade e da patifaria

Quantas caras tem a lealdade?

Quando era pequeno, tinha a lealdade como valor dentro da equipa: se jogava pelo lado dos patifes, tinha de ser leal aos patifes, se jogava pelo lado dos polícias, era leal aos polícias e leal queria sempre dizer protecção, jogo comum, sujeição escrupulosa a regras e tácticas. O problema acontecia quando tinha que sair do jogo para julgar uma questão entre um polícia e um ladrão ou patife, do tipo, tu só me viste a mão e não a cabeça, portanto não me podias matar. Este tipo de exercício resolvia-se manhosamente, calculando vantagens e prejuízos e só quando tudo era evidente demais é que se tomava aquela decisão «imparcial» de ser contra a própria equipa.

A gente cresce mas passa a ver que a construção dos valores da lealdade se faz na mesma base do jogo em equipa, isto, claro está, depois de decidir em qual equipa cada um se integra. Sim, porque, à partida, um indivíduo tem de saber forçosamente qual a amplitude da lealdade na equipa em que está a jogar. A lealdade é um valor pontual, sempre marcado pelas circunstâncias. Tem um caderno de encargos circunscrito, embora possa (e deva, quanto a mim) estar sempre integrada num quadro ético referencial ou numa filosofia ou numa teologia de vida.

Sendo assim, não estando José e Aníbal na mesma equipa (embora se devesse falar na equipa Portugal), a pergunta de saber quem praticou mais a lealdade, no quadro do caderno de encargos que assumiram quando começou o jogo entre ambos, sobra para nós, cidadãos votantes, testemunhas da recreação bélica.

É que ser leal, nos inúmeros exemplos que a política nos tem dado, seja para quem está a sobreviver com lautos rendimentos, seja para quem está a governar com míngua de sustento, está reduzido a uma prática de regras elementares de mútua informação e tomada de decisão, as quais, neste caso crítico da nossa situação subliminar de quase guerra, deram no que deram, ou seja, foram, quer na prática que tiveram, quer na omissão, conducentes a um descalabro governativo.

Sendo assim, continuamos a ter palavras na fogueira das vaidades, por certo leais à equipa em que se joga, mas inúteis para nos livrarem do buraco. A menos, que estas acusações de deslealdade visem a declaração oficial das hostilidades, ou da guerra. Neste caso, voltando à minha infância de jogos de polícias e ladrões, deve declarar-se que, a partir deste momento, vale ver tudo para «matar» o outro, seja o cabelo, seja a mão, seja o corpo todo.

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