Vamos bailar à
Senhora – 4ª edição – 19 de Agosto de 2012
Danças e cantigas
religiosas – uma dimensão criativa do nosso folclore
No pretérito domingo, dia 5 de Agosto, nas tardes de domingo, nome que identifica o
programa que o pelouro da cultura da CMB instituiu há uns anos dedicado à
exibição de grupos folclóricos do concelho, o Grupo Folclórico de Tibães
apresentou um vira com o sugestivo nome de «Senhora do Ó» e o Grupo Folclórico
de Macada-Vimieiro apresentou um malhão com letra dedicada aos santos da
freguesia: Santa Ana, Santo Amaro e S. Bento.
Trago aqui estes apontamentos para realçar a importância do
evento «Vamos Bailar à Senhora» que vai acontecer no Sameiro na sua 4ª edição
desde 2004, ano em que, por iniciativa de Monsenhor Cónego Eduardo Melo, tive o
privilégio de organizar, simultaneamente como projecto cultural e como conteúdo
prático das actuações dos grupos folclóricos. Frequentemente, desde então, me
confronto com casos singulares de concretização da dança e da cantiga como dimensões
da vivência religiosa das populações, através dos grupos folclóricos ou de
grupos dedicados à cultura popular, naturalmente.
Li num catecismo ou manual de doutrina cristã que quem canta
reza duas vezes e quem dança reza três vezes. Viajo pela net e encontro nas
diversas práticas religiosas dos povos as manifestações coreográficas e as
cantigas populares integrando o seu património imaterial.
Àqueles que me perguntam se o nosso folclore tem danças
religiosas, tanto aqueles que têm curiosidade pelo assunto, como aqueles que
estão convencidos de que a resposta tem de ser negativa, aconselho a que
pesquisem em tudo quanto é grupo, aldeia e canto ou documento e logo verão que
sim, que as há e que estão presentes nos repertórios. Acresce que, para
entretenimento de quem quiser estudar melhor o assunto, aproveito para
esclarecer que as festas religiosas não passam sem a integração de todos os
conteúdos na sua programação, pelo que devemos afirmar com propriedade que
todos os conteúdos da festa são de foro religioso ou encontram na dimensão da
vivência religiosa a sua plenitude de explicação.
Isto não quer dizer que tudo se deva aceitar e permitir, mas
quer dizer que a vivência religiosa sobre tudo se deve pronunciar e reflectir.
Não ignoro os movimentos depurativos que a Igreja, enquanto instituição criada
por Deus mas gerida por homens, teve no passado e possa ainda ter no presente e
no futuro, mas toda a história acumulada desses movimentos aí está para provar
que as questões e os problemas existem e fazem parte da natureza social que
vamos construindo. Tudo quanto se tende a afastar de um canto se vai realizar
noutro, pelo que a melhor maneira de encarar as diversidades culturais é
dar-lhes uma visibilidade construtiva e adequada à sua realidade, mínima que
seja, ou provisória, ou esporádica.
A actual Confraria de Nossa Senhora do Sameiro continua a
acarinhar esta iniciativa, portanto aqueles que a promovem e realizam devem
honrar o compromisso de a culminarem com o maior brilho e a melhor competência.
No dia 19 de Agosto os grupos folclóricos de Cervães, Macada-Vimieiro,
Nogueira, Marrancos, Cruz Vermelha, Sinos da Sé, Cabreiros, Josephine-Morreira,
Palmeira, no todo ou em parte de seus elementos, mais outros indivíduos que
fazem questão de participar individualmente, como José Lages, Francisco Vieira
e Rosa Ferreira, Carla Castro, darão corpo a este projecto de mostrar a
dimensão religiosa das danças e dos cantares minhotos.
Na rusga à Senhora do Sameiro, uma cantiga que Gonçalo
Sampaio (1865-1937) testemunhou como sendo de «genuína» criação popular,
incluem-se aqueles versos afirmativos de que «a Senhora do Sameiro deita fitas a voar, vermelhinhas e branquinhas,
todas vão parar ao mar», versos estes que constituem uma clara verbalização
simbólica das relações entre o humano e o divino, sendo as fitas os elementos
físicos dessa ligação vital, a mesma que está no crescimento das plantas – a fita do linho namora / cortar as fitas ao
milho – e sendo o mar essa concepção húmida e massiva da humanidade
criativa. Para além da música, o coletivo das coreografias visará representar
este sentimento estético e religioso da comunidade em festa, conciliada consigo
mesma e com Deus, por intermédio de Maria sua Mãe.
1 comentário:
num dia de muito calor uma festa muito bonita que pelo local onde decorreu tocou mais profundamente o coração e a alma de quem assistiu ao evento.
parabéns!
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