(Fotos compostas pelo Carlos Manuel Fernandes)
Neste sábado, dia 10 de Janeiro, faria 57 anos o meu amigo e colega professor Rogério Capelo Pereira Borralheiro, se acaso os desígnios da fortuna o tivessem livrado de um aneurisma que lhe colapsou a vida em instantes, num sábado inesperado de Julho do ano passado, àquela hora propícia de fim de tarde, antes do jantar. Nessa manhã de sábado ele fora a Monção, envolvido que andava nos trabalhos de animação cultural da Casa da Universidade do Minho sob a direcção do professor José Viriato Capela. À tarde chegou e apressou-se a ir para o seu quintal de Crespos, terreno agrícola que tinha adquirido há uns anos e no qual reconstituíra uma casa e agora nele investia para ser ocupação plena dos seus tempos livres, com árvores, com ovelhas, com galinhas, com horta, com espaço de verdura e horizonte de sossego e de acomodação. Ali passei com ele algumas tardes remansosas e ali fiquei de me encontrar com ele nesse sábado, pois assim me telefonou logo que chegou de Monção e assim combinámos, até porque jogava o Clube da nossa afeição, o Porto, e estaríamos acertados para ver, conversar e passar a noite. Fui encontrá-lo, eram sete e meia da tarde, a suar nos trabalhos de arranjo de campos e jardim, a esposa a cortar a relva, naquele lugar que já era um refúgio literário e musical, um canto de conversa e de confissão, uma estratégia de renovo das nossa inquietudes. Não deu para pouco mais do que as saudações, que um misterioso fenómeno da nossa fragilidade assim se interpôs entre nós. Foi o tempo de corrermos para o Hospital de Braga e tudo se consumou em breves e inesperadas horas de aflição. Eu e minha esposa chorámos a nossa impotência de ajuda e de consolo. Perdemos um amigo, uma palavra, um tempêro das nossas vidas, um coração.
O Professor Rogério é lembrado hoje dia 10 porque fazia anos e porque lhe vamos dedicar e consagrar uma cerimónia litúrgica na Igreja de S. Vicente, às 18.00 horas, uma missa folclórica, perdoe-se a facilidade da expressão, mas cuide-se nela o rigor e a profundidade com que a dizemos. O Rogério era elemento da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», associação que deu continuidade aos fins e objectivos do Grupo Folclórico de Professores de Braga, grupo de que fez parte muitos e bons anos. Tinha por este projecto um carinho especial, que foi crescendo com os anos e com as actividades de envolvimento. Na sua qualidade de investigador da História - andava com os trabalhos de publicação das Memórias paroquiais de 1758 e com os arquivos locais e regionais das Invasões francesas, projectos liderados pelo Doutor Capela, e andava com as histórias da sua terra e da sua região entre mãos, Salto, Montalegre, Boticas - mantinha uma natural atenção e perspicácia sobre as práticas musicais das populações e das instituições, populares e eruditas, da qual me dava sempre relato e retirava perspectivas de trabalho. É para consagrar essa atenção precisamente às práticas musicais, sobretudo àquelas que acompanham os momentos de vida religiosa e ritual das terras e das gentes, que lhe vamos consagrar uma missa, missa esta que ele próprio cantou animadamente em Palmeira, naquele mês de Julho passado, e que hoje se vai retomar com alguns cânticos novos, sendo um deles, o do abraço da paz, especialmente dedicado á sua memória de homem social, político empenhado, autarca, cidadão participativo: será um cântico na forma dos coros arcaicos das modas de terno, numa polifonia popular de raiz, expressivo e sintomático da nossa dedicação às pessoas e aos sons que as revelam nas suas histórias.
Se já sentimos o abraço dum amigo
Então sabemos bem a falta que nos faz;
Por isso é que lhe damos o sentido
De ser princípio fundador da nossa paz.
Seremos duas associações a interpretar os cânticos da missa, com concertina, clarinete, cavaquinhos, violas braguesas, violões e demais percussões populares tradicionais, os «Sinos da Sé» e o grupo folclórico de Palmeira, instituição com a qual o professor Rogério muito colaborou e cuja presença era muito estimada e apreciada pelos seus elementos. Agradecemos a generosa e religiosa compreensão do senhor pároco da freguesia e do senhor padre que presidirá à celebração. Congregamos na nossa intenção todos aqueles que concnosco colaboraram e colaboram os nosso familiares e amigos, bem como a família do Rogério, a esposa professora Helena Borralheiro, os filhos, Ricardo e Margarida.