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terça-feira, janeiro 27, 2009

O estudo da OCDE - Quem leu e pode esclarecer?

(Foto tirada por meu irmão António, sobre a terra de nosso pai, Nogueira, e de que me sirvo para sugerir que linda é aquela coisa que está para lá destas coisas lindas, por muiro ter pensado na notícia do mais recente relatório da OCDE sobre o nosso sistema de ensino e por julgar que só o lendo me posso enganar!)

Em algum lugar do estudo da OCDE se provará que o sucesso do sistema de ensino do 1º ciclo se ficou a dever à definição atempada, oportuna e seriamente negociada inter pares, dos objectivos individuais por parte dos professores envolvidos?

O Estudo da OCDE não terá apontado, por acaso, a existência de maus professores e de casos de docentes com necessidade de aulas assistidas e de formação acelerada?

O estudo noticiado conterá algum relato de práticas didácticas ou pedagógicas de professores excelentes? Ou os professores são nele indiferentemente considerados?

Acaso em tal estudo se diz, ou aventa a hipótese de dizer, que os resultados seriam outros se porventura já estivessem em funcionamento as quotas para excelentes e muitos bons professores?

Em alguma parte desse documento se refere que o sistema de ensino no 1º ciclo beneficiou da introdução da divisão da classe docente em professores titulares e não titulares?

NB. Eu só me interrogo para ler com mais atenção depois, porque ainda não li nada do referido relatório.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Os resultados da greve

(Foto tirada por mim na Estação de S. Bento, no Porto. Fui lá com a ideia de ver a música das paredes e o que vi deixou-me convencido do estado de abandalhamento em que andam as coisas: a mancha negra que se vê em metade da imagem é um tecido de teia de aranha e pó que levanta com as correntes de ar; noutros painéis chega a parecer manta de retalhos ou lona de feira batida pelo mau tempo. Foi hoje, 23 de Janeiro.)

Os resultados da greve de 19 não me vão levar a mudar de vida para já, ainda creio que é possível um pouco mais de força, mas determinam-me a procurar soluções no médio prazo. O desaforo político é acintoso e corrói-me, que nem sequer votei neles, porque a questão é esta: o ME não sabe falar do modelo que criou nem da avaliação dos professores como método de governação, não tem pedagogia sobre o assunto, não forma nem informa mais do que o que impôs e o que simplificou foi «a nódoa do retrato» e obrigado.

Os resultados da greve foram pecuniários e dificilmente serão mobilizadores para outras tomadas de posição idênticas: não se pode perder tempo nem dinheiro assim e com tal gente. Li sobre estratégias futuras: greve de avaliadores, vias judiciais, demissões de órgãos, recusa individual de entrega de objectivos... (absurdo: nunca compreendi donde tinha saído este coelho dos objectivos individuais, acho que é um resquício daquela furiosa autonomia que anda por aí e que num país pequeno como o nosso sai da cabeça de quem acha que pode inventar a natureza do seu trabalho, até reinventar a sua profissão, negociar o seu programa, etc., etc) Tudo isso será possível, as moções na Net demonstram que está muita gente a ir por aí. Seja. E então, mostrando as cartas a Garcia...

Não fiquei convencido de que a demissão dos órgãos executivos, que esteve em cima da mesa em Santarém, não tivesse sido uma medida eficaz, como também não fiquei convencido de que a «solução ou proposta de avaliação dos sindicatos» resulte de uma corrente de fundo...

A última tentativa de anulação parlamentar do modelo de avaliação foi sintomática: as intervenções do ministro S.S. representaram todo o drama: a indiferença perante a «censura do modelo» feita pela classe dos professores, mas a atribuição do estatuto de «censura política» ao acto parlamentar de um partido. Tudo o mais, foi a encenação da repressão: se a queda do modelo passasse no parlamento estaria em causa o programa do Governo, então o Governo pensou num instrumento de avaliação que é todo o seu poder. O conteúdo do modelo tem sido um engodo de entretenimento. O modelo é a própria espingarda que o impõe.

Sobre a avaliação docente mantenho os princípios: deve incidir sobre o serviço lectivo distribuído (a razão de ser do contrato de trabalho), não deve determinar ou ser determinada por quotas (princípio da equidade) e deve permitir o concurso individual ou a candidatura a algo mais que a duração dos anos num determinado nível de vencimento (princípio do estímulo), com base no currículo. A observação de aulas deve ocorrer no período de formação e depois só se houver incidentes críticos (os quais têm mecanismos próprios de inspecção para serem resolvidos). Todas as pretensas dimensões que remetam para apreciações subjectivas ou susceptíveis de envolvimento devem ser anuladas por mecanismos críticos de «defesa da livre concorrência e da liberdade de pensamento». Mas o Governo não quer avaliar os professores, que já avaliou mal os titulares e nem sequer se deu ao respeito por tal avaliação.

Voltam à boca dos «críticos ditos sensatos» (onde incluo comentadores de serviço, escritores, bloguistas sintonizados com poder e com oposições, empresários, ouvintes e participantes de foruns de ocasião) dois argumentos que saturam: 1) a avaliação faz sentido - Pois faz, quem é que disse que não faz, quem é que é contra? 2) é preciso distinguir os professores excelentes - Pois é, quem é que ainda os não distingue? Quem é que não os vê? E, já agora, para que servem?

Não há como a crise em que nos encontramos para reflectirmos sobre este «preconceito» contemporâneo da excelência: para que serviram os «excelentes», nas empresas, nos ministérios, nos serviços, nos bancos, no Tesouro, nas fábricas, nos jornais? Excelente, nas histórias, tomo como modelo o puto reguila que disse: «o rei vai nu»!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Independentemente de outros dizeres...

1. Independentemente de todas as observações já feitas sobre a falta de simplicidade no modelo «simplex» e independentemente da questão de falta de ética na divisão da carreira em professores titulares e não titulares, acho que se deve pôr à consideração de todos o seguinte problema: o concurso para professores titulares foi ou não, ou, é ainda ou não, considerado pelo ME uma «avaliação dos professores»? Se não foi ou não é, o que é que permite ao ME dizer que os PT são os melhores e mais habilitados para avaliar os outros? Se foi, o que leva o ME a não dispensar da avaliação docente os Professores Titulares? É óbvio que esta questão pode parecer «a destempo», mas creio que faz sentido. Vejo razões para nunca ter feito parte do caderno reivindicativo (se estamos contra a divisão, não vamos mobilizá-la como argumento), mas o ME tem de ser confrontado com o pretenso valor avaliativo que deu ao concurso para professores titulares e este argumento, não tendo peso na avaliação retira todo o peso que se lhe quer dar com a análise das competências docentes que estão para além do simples «acto lectivo». Se o concurso foi um acto avaliativo, para quê, passado um ano, voltar a avaliar os mesmos?

2. Independentemente de outras perspectivas, a greve marcada para o dia 19 de Janeiro será um acto cruel sobre nós próprios: já nada dizemos com ela - se discordámos do modelo de avaliação no seu todo, é óbvio que também discordaríamos da sua versão dita «simplex»: em nada se reduziu a injustiça do modelo, em nada se desburocratizou a sua organização e o seu preenchimento, em tudo se acentuou a sua perniciosa intencionalidade de «humilhação» da classe. Esta greve terá de servir para se repensar toda a estratégia final do exercício da cidadania política quando se discorda de raiz: a conflitualidade contemporânea tem demonstrado que a insensibilidade do poder aos argumentos da razão só gera desacatos e maledicências, cria compressões de raiva e de descontentamento, gera atrofiamento de vontades, introduz na conversa esse argumento espúrio de «salvar a face, sem perder a honra», revelador da miséria contemporânea de querer estar de bem com todos sendo de lado nenhum.

3. Independentemente de saber os resultados da greve de segunda-feira dia 19 de Janeiro, importa saber se os resultados da crise, anunciados que estão a ser de forma crescentemente dramática, alguma vez vão permitir recuperar o sentido do estudo e da formação, que o mesmo é dizer, o sentido da escola.

4. Faço greve e jogo nela a minha penúltima carta. Se perder, tudo farei para mudar de vida...

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Em memória de Rogério Borralheiro

(Fotos compostas pelo Carlos Manuel Fernandes)


Neste sábado, dia 10 de Janeiro, faria 57 anos o meu amigo e colega professor Rogério Capelo Pereira Borralheiro, se acaso os desígnios da fortuna o tivessem livrado de um aneurisma que lhe colapsou a vida em instantes, num sábado inesperado de Julho do ano passado, àquela hora propícia de fim de tarde, antes do jantar. Nessa manhã de sábado ele fora a Monção, envolvido que andava nos trabalhos de animação cultural da Casa da Universidade do Minho sob a direcção do professor José Viriato Capela. À tarde chegou e apressou-se a ir para o seu quintal de Crespos, terreno agrícola que tinha adquirido há uns anos e no qual reconstituíra uma casa e agora nele investia para ser ocupação plena dos seus tempos livres, com árvores, com ovelhas, com galinhas, com horta, com espaço de verdura e horizonte de sossego e de acomodação. Ali passei com ele algumas tardes remansosas e ali fiquei de me encontrar com ele nesse sábado, pois assim me telefonou logo que chegou de Monção e assim combinámos, até porque jogava o Clube da nossa afeição, o Porto, e estaríamos acertados para ver, conversar e passar a noite. Fui encontrá-lo, eram sete e meia da tarde, a suar nos trabalhos de arranjo de campos e jardim, a esposa a cortar a relva, naquele lugar que já era um refúgio literário e musical, um canto de conversa e de confissão, uma estratégia de renovo das nossa inquietudes. Não deu para pouco mais do que as saudações, que um misterioso fenómeno da nossa fragilidade assim se interpôs entre nós. Foi o tempo de corrermos para o Hospital de Braga e tudo se consumou em breves e inesperadas horas de aflição. Eu e minha esposa chorámos a nossa impotência de ajuda e de consolo. Perdemos um amigo, uma palavra, um tempêro das nossas vidas, um coração.
O Professor Rogério é lembrado hoje dia 10 porque fazia anos e porque lhe vamos dedicar e consagrar uma cerimónia litúrgica na Igreja de S. Vicente, às 18.00 horas, uma missa folclórica, perdoe-se a facilidade da expressão, mas cuide-se nela o rigor e a profundidade com que a dizemos. O Rogério era elemento da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», associação que deu continuidade aos fins e objectivos do Grupo Folclórico de Professores de Braga, grupo de que fez parte muitos e bons anos. Tinha por este projecto um carinho especial, que foi crescendo com os anos e com as actividades de envolvimento. Na sua qualidade de investigador da História - andava com os trabalhos de publicação das Memórias paroquiais de 1758 e com os arquivos locais e regionais das Invasões francesas, projectos liderados pelo Doutor Capela, e andava com as histórias da sua terra e da sua região entre mãos, Salto, Montalegre, Boticas - mantinha uma natural atenção e perspicácia sobre as práticas musicais das populações e das instituições, populares e eruditas, da qual me dava sempre relato e retirava perspectivas de trabalho. É para consagrar essa atenção precisamente às práticas musicais, sobretudo àquelas que acompanham os momentos de vida religiosa e ritual das terras e das gentes, que lhe vamos consagrar uma missa, missa esta que ele próprio cantou animadamente em Palmeira, naquele mês de Julho passado, e que hoje se vai retomar com alguns cânticos novos, sendo um deles, o do abraço da paz, especialmente dedicado á sua memória de homem social, político empenhado, autarca, cidadão participativo: será um cântico na forma dos coros arcaicos das modas de terno, numa polifonia popular de raiz, expressivo e sintomático da nossa dedicação às pessoas e aos sons que as revelam nas suas histórias.
Se já sentimos o abraço dum amigo
Então sabemos bem a falta que nos faz;
Por isso é que lhe damos o sentido
De ser princípio fundador da nossa paz.
Seremos duas associações a interpretar os cânticos da missa, com concertina, clarinete, cavaquinhos, violas braguesas, violões e demais percussões populares tradicionais, os «Sinos da Sé» e o grupo folclórico de Palmeira, instituição com a qual o professor Rogério muito colaborou e cuja presença era muito estimada e apreciada pelos seus elementos. Agradecemos a generosa e religiosa compreensão do senhor pároco da freguesia e do senhor padre que presidirá à celebração. Congregamos na nossa intenção todos aqueles que concnosco colaboraram e colaboram os nosso familiares e amigos, bem como a família do Rogério, a esposa professora Helena Borralheiro, os filhos, Ricardo e Margarida.