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terça-feira, julho 24, 2007

Foram estas as flores

Levámo-las todas na mesma cesta e fomo-las deixando uma a uma nas campas dos amigos, dos familiares, dos conhecidos, dos referidos por este e por aquele. Fazemos assim todos os anos, nós, os transmontanos, poucos, em memória de todos aqueles que já morreram. A romagem ao cemitério de Monte de Arcos é uma viagem à volta de nós próprios, repetimos os lugares comuns e fixamos-nos já em pormenores, os mesmos de sempre: o hábito, a escrita, a palavra, o gesto, o sorriso, a hora, o gosto, a marca, o apetite, a teimosia, a figura, a idade. A idade acaba por determinar o nosso envolvimento silencioso, de uns por estarem afastados, de outros por estarem tão próximos, de todos pela imprevisão. Deixámos as flores e a ideia de voltar, por esta necessidade de que estamos melhor a falar dos outros. Os outros que nos deixaram mais teimosos nesta associação de vontades, mais teimosos neste acto de esperar vantagens permanecendo juntos, numa causa, num encontro, numa esquina, numa sala, numa mesa. Foram estas as flores.

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