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sexta-feira, dezembro 01, 2017

O Natal da catequese em Jales

Com os votos de boas festas, os meus e os de minha esposa e os de minha família, em homenagem à aldeia de Campo de Jales, freguesia de Vreia de Jales, concelho de Vila Pouca de Aguiar. Ali existiram as Minas de Jales, empresa em que meu pai trabalhou desde os 19 anos até se aposentar. Minha mãe era de Raiz do Monte. Meus pais casaram em 1951. Nascemos ali os 9 filhos, ainda que a primeira filha tenha sido dada à luz na clínica Bissaia Barreto em Vila Real. Ali fizemos todos a quarta classe. Ali voltamos a cada passo, ali temos as nossas memórias mais intensas e marcantes. Minha mãe nasceu em 1924 e faleceu em 2013; meu pai nasceu em 1927, está ainda de boa saúde e com boa memória dos acontecimentos. Vive em Lisboa com a filha São e tem por perto mais quatro filhos, a Lai, o João, a Bibita e a Zeza, Por Braga estou eu e o Tó, o Fernando está no Porto e a Paula em Santa Maria da Feira.


O Natal da catequese

A catequese em Jales, na empresa,
Não era igual à dada na capela,
Tinha outro mistério, outra leveza
Por ser outra senhora a falar dela.

Na casa do Senhor da minha aldeia,
Dizíamos de cor toda a doutrina,
Em cadências de voz, marcada e cheia,
Dessa pressa infantil tão genuína.

Na casa da empresa, sem igual,
A D. Margarida era em ternura,
De voz e de presença natural,
O anjo anunciador da escritura.

Tão nova, tão bonita e tão intensa,
Falava-nos da bíblia com imagens;
A gente enamorava-se, suspensa,
Dos casos, das acções, das personagens.

A aldeia era o seu povo escolhido,
E a mina era um viveiro de visões:
Três turnos de trabalho extractivo,
Num rol das mais diversas profissões.

Havia ali os ricos e os pobres,
Famílias numerosas a criar;
Ela viu nos mais novos os mais nobres
A quem se dedicou sem hesitar.

Uma vez, o presépio foi projecto:
Pediu-nos um à nossa dimensão,
Cada qual que fizesse um objecto
E mostrasse ao Menino a sua acção.
  
(Então, no refeitório dos mineiros,
Ao fundo, onde o teatro se fazia,
Com musgo e ramagens de pinheiros
Um enorme presépio se exibia.)

Passei então a projectar a história
Da Sagrada Família em toda a gente;
E a Mina era a gruta da vitória,
Nunca de Herodes vista claramente.

Eu via por romanos, capatazes,
Sabia dos pastores, dos carpinteiros;
Judeus, via os mineiros mais audazes,
E por Reis Magos via os engenheiros.

As mães faziam todas de Maria;
Josés, havia muitos e calados;
E o Raul Toca-o-fole e companhia
Bem chegavam por músicos azados

Por Jesus, os meninos não faltavam,
Em todos os degraus do crescimento;
Do Pito, vários machos carregavam
As prendas para o Santo Nascimento.

O Lucas fez a cama prò Menino,
Com a forma de burra para a lenha;
E trouxe palha e feno com destino
Às reses que lá havia e que Deus tenha.

Mas na maior figura do Natal,
O anjo anunciador de tanta vida,
O rosto, a voz, o colo maternal,
Eu via sempre a D. Margarida.

José Machado / 2016-2017 




                                                   

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