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terça-feira, agosto 04, 2015

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Foi no dia 2 de Agosto, em Marrancos, no concelho de Vila Verde, no monte da Senhora da Guia, assim chamado por lá se encontrar uma capela mandada construir pelo senhor Abílio Ferreira, homem dedicado à construção civil, depois de ter sido também emigrante em França, mas hoje, e desde há uns bons anos, entregue à causa do folclore, quer como negociante de trajes, linhos, panos antigos e afins, quer como líder de um grupo onde se encontra quase toda a sua família, o Grupo Folclórico da Associação Recreativa e Cultural de Marrancos.




Fui lá a convite da ARC para ouvir a missa «folclórica» construída a partir de melodias populares às quais adaptaram a letra de cariz religioso ou litúrgico, para cumprir o comum e o próprio da missa. Eles sabem que eu também me dediquei a compor uma missa «folclórica» noutra modalidade de criação e temos uma colaboração estreita no evento «Vamos Bailar à Senhora», para cuja primeira edição, em 2004, contei com a generosa e preciosa colaboração do senhor António Rebolo Araújo, co-fundador do grupo folclórico local, depois de ter regressado da Alemanha onde fundara também o Grupo Folclórico de Santo António de Dortmund.

O que me impressionou foi o enraizamento na vida paroquial que esta iniciativa colheu. O senhor padre Sandro, uma figura conhecidíssima na região pelo seu estilo de evangelização (ele próprio integra uma banda dedicada à música pop), sustentou esta iniciativa em termos religiosos e litúrgicos, numa comunicação em que o ar de família se tornava por demais evidente. O próprio estilo de o senhor padre se trajar para a cerimónia religiosa acentuou a familiaridade e a partilha de valores, vestindo a sua casula bordada ao estilo de «lenço dos namorados», aceitando a imposição nos ombros de um lenço franjeiro de lavradeira, como sobre-capa e funcionando na procissão como véu umeral para transportar a custódia com as relíquias debaixo do pálio. A missa foi cantada, depois houve procissão, esta desceu e subiu a colina em redor da capela, lugar onde se pensa fazer um investimento paisagístico num futuro breve, terminando com uma dança à Senhora da Guia, dança esta retomada dos bailes à senhora do Sameiro, o tal projecto em que estamos envolvidos, interpretada por quatro pares.


O acontecimento valeu pela vivência, estava corporalizado ou encorpado, ou incorporado (o tal conceito de «embodiment» que anda por aí nos estudos sociais), na auto-representação ideal da comunidade paroquial, aquela mesma que o senhor padre desejou que se manifestasse mais vezes com estes sinais de tanto empenhamento.