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quinta-feira, maio 14, 2015

Estar e navegar no «Facebook» - Pilatos instalou-se entre nós…

Em que estás a pensar? Eh! Em que pensas? Na morte da bezerra? Quem é que já não foi surpreendido com esta pergunta tão instalada no primarismo verbal de uma comunicação? Este perguntar revela-nos em absoluto: representa aquele desejo íntimo que todos temos de saber em que é que o outro pensa, que é uma variação do desejo mais íntimo de que ele esteja a pensar em nós. Esta pergunta se fosse feita por deus aos homens requereria que estes respondessem que pensavam em Deus naquele preciso momento da questão. Hoje temos precisamente uma variação de deus a fazer-nos diariamente esta pergunta «em que estás a pensar?», mas não é Deus quem a faz, é outro poder, esse mesmo, o leitor já calculou, o Facebook. Estar e navegar no Facebook é andar ao sabor desta pergunta, lendo as respostas de todos os que a responderam, sabendo precisamente o que quer saber este deus da rede virtual. Pois então eu vou responder também ao Face que me perguntou em que é que eu estava a pensar para lhe dizer que pensava em demonstrar como todos nos tornámos Pilatos na rede virtual, sem o querermos ou de modo tão intencional como o prefeito romano. O leitor não se deixe surpreender com a minha resposta, que é o título desta crónica, que eu explico: toda a gente sabe mais ou menos a história do Pilatos, o tal prefeito romano da província da Judeia, esse mesmo a quem foi entregue o prisioneiro Jesus, o Nazareno, para que ele o julgasse. É conhecido o resultado, o homem que fazia as vezes do imperador de Roma não descortinou qualquer culpa no cartório de Jesus, mandou-o de Anás para Caifás, encheu-se de dúvidas sobre o que seria a verdade, e entregou o profeta à multidão para que ela decidisse o que lhe fazer… Ora o comportamento de Pilatos virou moda na internet e sobretudo no Facebook e o que se vê é precisamente o mesmo estilo de não decidir, não escolher, apresentar ao público, postar, como se diz, e quem quiser que escolha, que comente, que opte, que decida… e por causa deste comportamento anda toda a espécie de «coisas e loisas» na internet… Uma pessoa não sabe que posição há-de tomar sobre a divulgação de uma cena cruel, pois, não tem problema, pega com ela no face, sem comentários e quem vir que diga o que lhe apetecer… Aquela perguntinha «Em que estás a pensar» é que determina tudo e permite colocar naquele espaço qualquer coisa, pois mesmo que eu não pense nada, alguém há-de pensar… Como eu também ando pelo Facebook deixei por lá, um dia, o soneto seguinte…

 Eu ando por aqui a vaguear,
Umas vezes avanço, outras atraso,
Como quem passa as ruas a olhar
Se vê quem não procura, por acaso.

O rato impele a mão a clicar,
Ou a rolar a página sem caso.
E quanto a pôr «gosto» ou comentar,
Umas vezes demoro, outras me vazo.

O «Face» é rua larga e paradeiro,
Novíssimo lugar de soalheiro,
Com muita indiscrição provocadora.

Por isso aqui passeio à porfia
De toda a novidade sedutora
Que possa alimentar-me a fantasia.

(Publicação de Hermínio da Costa Machado em 26 de Dezembro de 2014)


O acesso às redes sociais requer o domínio progressivo das tecnologias e estas dão origem a cada vez mais recursos sofisticados. Ter telemóvel ou smartfone, ter pad ou ter computador, enfim, ter uma plataforma móvel que esteja capacitada a manter-nos em contacto global é hoje um desejo comum e, felizmente, uma concretização cada vez mais possível. Todavia, a integração destas tecnologias na nossa vida e a integração da nossa vida nestas tecnologias são coisas ou dimensões um bocadinho diferentes. É importante que a escola seja um lugar de aprendizagem das novas tecnologias e seja também um lugar de sabedoria sobre as suas capacidades e os seus limites, sobre as suas potencialidades e os seus perigos. A facilidade de exposição que hoje praticamos nas redes virtuais pode facilmente virar-se contra nós, quer em termos de manipulação, quer em termos de condicionamento mental. Os vícios pagam-se caro, costuma dizer-se.