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sábado, julho 05, 2014

Sob candeias de pavio breve

1. Meu pai e meu irmão fazem anos este mês de Julho, o segundo dia 3 e o primeiro dia 6, com a diferença entre eles a ser maior que a minha dois anos apenas, que meu pai contava 26 quando eu nasci. Mais uns dias, a 18, fará anos minha irmã Conceição. Somos 9 os filhos  do senhor João Maria Machado e da senhora Ana Maria Gomes da Costa, falecida em Outubro do ano passado, ele natural de Nogueira, Vila Real, ela de Raiz do Monte, lugar onde é esta propriedade em que temos casa. O momento da fotografia reporta-se à semana anterior à Páscoa deste ano e ali, perto do coberto da lenha, do galinheiro e de outros arrumos, nos sentámos a conversar, com proveito casual de merenda. Meu irmão João é médico no Curry Cabral, em Lisboa, é pai de três filhos, tem a sabedoria das especializações em que se esgota diariamente. Meu pai agora está em Lisboa, em casa da Conceição, tendo por perto mais duas filhas, a Maria das Dores e a Maria Adelaide, esta a mais velha de nós, que o não parece nunca. Que os anos pesem a ambos na proporção dos proveitos que lhes dão, é o que tenho de lhes desejar, ainda que saiba que a meu pai todo o peso foi sempre a triplicar.

  

2. Esta janela tem as mossas da pedraça que caiu na véspera de S. João em Raiz do Monte e arredores. Virada a nascente, exibe as pedradas que o mau tempo descarregou sobre os as árvores, os campos de feno e de batatas e as hortas. Tudo se foi e ao mais não era muito. Foi breve a lição de dependência, suficiente para lágrimas e esconjuros. Que esta vá e outra não venha, foi o rifão de cortesia que mais ouvi na terra, dirigido ao céu.  


3. Os castanheiros do Agro, plantados em terra que loze, nas palavras do senhor Benjamim, só terão a minha esperança ingénua de crescimento e por isso os estimo. 


4. Neste acumulado de toros de giesta, aproveitadas do Agro, sobrepuseram-se as pontas mais tenras do velho castanheiro que se vê na fotografia de cima, cortadas pela pedraça. Se as houver no outono, as castanhas terão o sabor de uma reparação.


5. Sob candeias de pavio breve / me exponho à paciência de cuidar / que o tempo espevita e circunscreve /
as palavras que nos hão-de explicar / ora em sombras diluídas pela rede / ora em sulcos cavados num lugar.

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