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sábado, janeiro 18, 2014

Sobre as novidades, restam as aulas!

Comecei a leitura da obra de Proust nas férias de Verão, em formato ebook, vou com 88% de páginas lidas, no total dos sete livros. Tenho-me fixado na perspectiva do autor que se confronta com as mudanças do seu tempo e Proust escreveu de facto num tempo de mudanças profundas na Europa que se tinha como centro do mundo: apareceu a energia eléctrica, o telefone, o automóvel, o avião, as monarquias e as classes nobres foram profundamente abaladas com a turbulência das ideias filosóficas, científicas e políticas que então se desencadearam, o caso Dreyfus tornou-se paradigmático de fenómenos como o nacionalismo e a xenofobia, os costumes sociais e as relações de género foram abalados por todos os lados, enfim, o indivíduo foi submetido a uma crise de identidade. O último quartel do século XIX e o primeiro do século XX, grosso modo, estão espelhados na obra de Proust como anos de muita perplexidade. Ver como a tradição cultural, ou civilizacional, é abalada e se recompõe é a minha tarefa crítica e vou-me dando ao trabalho de anotar balizas e sintomas. 


Entretanto o quotidiano mostra-se incómodo e começa a suscitar comparações de leitura com a obra proustiana, quase parece que estamos em maré de nova crise de identidade. Talvez sim, talvez não. Todas as leituras visam deixar o leitor incomodado e a ser assim resta-me continuá-las. Cá temos hoje as invenções a serem precisas, cá temos hoje as perspectivas filosóficas, políticas e científicas em revisão acelerada, cá temos hoje os costumes e as relações de género a submeterem-se a novos escrutínios, e o mais que se vier a ver. Restam então as aulas e a idade da reforma como factores de curiosidade onde tudo se pode espelhar.

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