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domingo, setembro 15, 2013

Autárquicas 2013

Os padeiros, a massa e o fermento – breve reflexão sobre as autárquicas 2013

(Esta fotografia é do cavalete das Minas de Jales, hoje desactivadas; constitui um símbolo do passado e do futuro daquela terra, onde nasci: alimenta as esperanças de se voltar a explorar o ouro)

As metáforas são úteis, embora por vezes de efeitos limitados. Por isso, nada de ilusões quanto a esta.
Os concorrentes às autárquicas 2013 são os padeiros. Eles e elas estão apostados em fabricar o melhor pão, de modo a conquistarem a fidelidade dos clientes não só ao pão de amostra, mas sobretudo ao pão que irão continuar a apresentar no futuro, caso sejam escolhidos pela freguesia. O pão é feito de massa, trigo, milho ou outro produto adequado, porventura até novo e a experimentar. A massa aqui representa o programa, a agenda política de realizações, promessas e sonhos. Cada padeiro amassa consoante as metodologias que considera eficientes. Mas a massa requer fermento para levedar e crescer e no fermento é que está o segredo, pelo menos o desta metáfora ou alegoria, porque já começa a estar aqui encadeada uma série de analogias sugestivas com outras realidades. O fermento é então o governo, sim, a matéria que faz fermentar a massa: é que nenhum programa pode andar alheio do governo que temos e das condições em que governa. Recusar este fermento é correr riscos de um pão imprevisível; assumir o fermento é aceitar que o pão terá um preço a pagar. Haverá padeiros que vão recorrer a outros fermentos, uns vindos de paraísos fiscais, outros de países alheios aos processos de fabrico que suponho estarem implícitos. Mas ninguém deixará, pela positiva ou pela negativa, de integrar na massa o fermento do governo. É incontornável. Onde está a graça, então? Para mim está nesta conclusão que antecipo: o fermento «governo» é o mais útil que podia existir neste momento para se mostrar a habilidade de fabricar pão. É desafiador, bem sei, mas não há forma de o evitar: dois anos depois, as ilusões alternativas não germinaram e as dores já calejaram alguma perspectiva do tempo de sofrimento. Estas promessas de bom pão, ou de pão novo, ou de pão alternativo, entraram em transe final: será racional pensarmos que vamos ter autarquias a aumentar as limitações da governação? Poderemos pensar que vamos ter autarquias a superar os constrangimentos de financiamento do país? O mais realista que consigo pensar é que tenhamos autarquias a tentar minorar efeitos de escala da governação central. Não serão as autarquias a revolucionar o país, mas delas hão-de esperar-se propostas de reforma que aliviem os problemas em que estamos mergulhados. Portanto, em termos práticos, eu acharei mais expeditos os padeiros que usarem o fermento do governo, por mais simpáticos que possam parecer aqueles que o recusam ou querem usar um fermento que não têm. A massa deverá ser trabalhada de modo a que possamos esperar um pão que nos abra o apetite, nesta fome em que andamos de ver o país tomar rumo. Numa situação presente em que comemos o pão que o diabo amassou, com o fermento que o país é, melhor haveremos de ficar. Mas, tenho de confessá-lo, todos os padeiros andam a milhas desta minha teoria metafórica.

Declaração de interesses: o autor declarou o seu apoio a «Juntos por Braga».

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