(fotografia que me foi enviada por RM/imprensa)
Cascas e aparas – programa da Rádio Francisco Sanches; a emissão semanal deste ano lectivo vai começar no próximo sábado, 20 de outubro de 2012; ouve-se na Antena Minho, entre as 11:00 H e as 12:00 H. Esta rubrica semanal é de minha responsabilidade e vai manter a denominação. Como gravo com antecedência, vou começar a deixar por aqui alguns excertos.
Caríssimos ouvintes, a Rádio Francisco Sanches quer
continuar a integrar a minha rubrica semanal na sua programação. (...)
Recordo que esta rubrica «cascas
e aparas» tanto se pode interpretar como a junção de dois verbos, no sentido de
afirmar no presente que se casca e apara algo, isto é, que se critica ou depura
algo, como se pode considerar a junção de dois nomes comuns, ambos relativos à
camada protectora das árvores ou às sobras da sua utilização. Lembro que na
minha infância, nas Minas de Jales, e durante muito tempo depois, havia, entre
os vários serviços ou secções da empresa mineira, uma serração de madeiras
donde saíam as cascas e as aparas para aproveitamento, umas, as cascas, aquelas
cascas sobretudo de pinheiro, para aquecimento em estufas e fogões de lenha,
outras, as aparas, para lenha ou para construção de paliçadas, cortes de gados,
galinheiros e taipais de construção civil. Estas eram quase sempre tábuas
costaneiras, com algumas marcas ainda das cascas e das curvas exteriores do
tronco donde provinham.
Posto isto, siga a conversa para a matéria desta
primeira crónica, que há-de ser inevitavelmente o orçamento de Estado com que
nos vamos cozer, este cozer tanto de cozinha, como coser também de costura,
sendo significado comum aos dois o facto de nos transformarmos em algo que não
éramos, ficando ora mudados na natureza, ora mudados no aspecto, sendo que a
primeira mudança, a de mudarmos na natureza, será bem pior e definitiva.
Andamos na escola, e assim começámos o ano, com a ideia de que o futuro tem de
valer os sacrifícios do presente e a melhor maneira de o fazermos é esta mesma
de prepararmos as novas gerações com toda a nossa generosidade de sacrifício.
Com isto não quero dizer que sou um defensor desta austeridade orçamentada pelo
Estado para nosso progressivo alevantamento económico e financeiro, mas não
tenho por mim e de mim e em mim outra forma de me manifestar que não seja esta
de colocar a braçadeira do descontentamento, quiçá mesmo a da revolta,
porventura mais lá no fundo a de provável fautor de alguma maluqueira inesperada,
e continuar a assumir que devo investir quanto sou no ensino. (...)
Diz-se que andar em tensão de nervos é uma forma de sustentar a
adrenalina necessária, mas é bom saber que esta tensão pode andar também ligada
a uma alteração sub-reptícia do nosso horário de trabalho que se viu alongado
em horas e em tarefas por via desta introdução das horas de apoio ao estudo dos
alunos. (...)