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terça-feira, outubro 23, 2012

Esta ideia de festa permanente...

 
(Esta fotografia é do S. João de Braga, festa que marca o tempo da cidade)
 
Todo o caminho anterior assentou numa ideia de mais e mais e mais, sinal matemático que bem espelha o nosso tempo contemporâneo, mas agora este mais requer uma interrogação sobre si próprio e sobre o seu sustentamento futuro. Não estou a dizer que o mais se retire dos projectos, apenas estou a constatar que o mais se tornou o sintoma mais nítido da crise a que chegámos e em que agora estamos a enterrar-nos cada vez mais. É tempo de adoptarmos o sinal menos, o da subtração de gorduras e de excessos, o da anulação de métodos de casino ou de aposta frenética em golpes de asa.

quarta-feira, outubro 17, 2012

Cascas e aparas - uma crónica da RFS


(fotografia que me foi enviada por RM/imprensa)

Cascas e aparas – programa da Rádio Francisco Sanches; a emissão semanal deste ano lectivo vai começar no próximo sábado, 20 de outubro de 2012; ouve-se na Antena Minho, entre as 11:00 H e as 12:00 H. Esta rubrica semanal é de minha responsabilidade e vai manter a denominação. Como gravo com antecedência, vou começar a deixar por aqui alguns excertos.

Caríssimos ouvintes, a Rádio Francisco Sanches quer continuar a integrar a minha rubrica semanal na sua programação. (...)

Recordo que esta rubrica «cascas e aparas» tanto se pode interpretar como a junção de dois verbos, no sentido de afirmar no presente que se casca e apara algo, isto é, que se critica ou depura algo, como se pode considerar a junção de dois nomes comuns, ambos relativos à camada protectora das árvores ou às sobras da sua utilização. Lembro que na minha infância, nas Minas de Jales, e durante muito tempo depois, havia, entre os vários serviços ou secções da empresa mineira, uma serração de madeiras donde saíam as cascas e as aparas para aproveitamento, umas, as cascas, aquelas cascas sobretudo de pinheiro, para aquecimento em estufas e fogões de lenha, outras, as aparas, para lenha ou para construção de paliçadas, cortes de gados, galinheiros e taipais de construção civil. Estas eram quase sempre tábuas costaneiras, com algumas marcas ainda das cascas e das curvas exteriores do tronco donde provinham.

Posto isto, siga a conversa para a matéria desta primeira crónica, que há-de ser inevitavelmente o orçamento de Estado com que nos vamos cozer, este cozer tanto de cozinha, como coser também de costura, sendo significado comum aos dois o facto de nos transformarmos em algo que não éramos, ficando ora mudados na natureza, ora mudados no aspecto, sendo que a primeira mudança, a de mudarmos na natureza, será bem pior e definitiva.

Andamos na escola, e assim começámos o ano, com a ideia de que o futuro tem de valer os sacrifícios do presente e a melhor maneira de o fazermos é esta mesma de prepararmos as novas gerações com toda a nossa generosidade de sacrifício. Com isto não quero dizer que sou um defensor desta austeridade orçamentada pelo Estado para nosso progressivo alevantamento económico e financeiro, mas não tenho por mim e de mim e em mim outra forma de me manifestar que não seja esta de colocar a braçadeira do descontentamento, quiçá mesmo a da revolta, porventura mais lá no fundo a de provável fautor de alguma maluqueira inesperada, e continuar a assumir que devo investir quanto sou no ensino. (...)

Diz-se que andar em tensão de nervos é uma forma de sustentar a adrenalina necessária, mas é bom saber que esta tensão pode andar também ligada a uma alteração sub-reptícia do nosso horário de trabalho que se viu alongado em horas e em tarefas por via desta introdução das horas de apoio ao estudo dos alunos. (...)

sexta-feira, outubro 05, 2012

O caminho faz-se caminhando...


Quem disse, disse bem, António Machado (1875-1939) de nome, lá para trás de nós no tempo, convicto de que o passo seguinte revelava a força definitiva do detrás.
 
Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.

Com esta sabedoria, andamos hoje às voltas, com receio de avançar, convictos de que olhar para trás nos faz ver melhor o caminho a seguir. Tudo bem, desde que se avance. Há quem veja nestes intuitivos versos uma recusa da tradição, tomando esta como repetição, quando a força desta é seguir fazendo como outros assim fizeram, não necessariamente as mesmas coisas mas fazendo transitivamente outras. Fico-me com este pensamento no dia em que a bandeira nacional foi içada ao contrário e ninguém teve a coragem de mandar parar o baile, corrigir o erro e sorrir: ficou a bandeira trocada e assim o confirmaram os discursos dos políticos que a ergueram: o de Costa apelando mesmo a que a bandeira se vire de vez contra si própria e o de Cavaco apelando a que a bandeira se vire para outros lados...