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quarta-feira, maio 30, 2012

De cócoras se cuida o chão!

(fotografia de meu irmão António, que ma enviou com encomenda de texto e de que me cuidei esquecido por noutras ruas andar a reparar calçadas)

todos os dias me debruço em meu ofício
de experimentar o rendilhado das palavras
para deixar noutras calçadas artifício
com marca mínima de provas ensaiadas
se o não consigo
a mim somente me castigo
saiu-me ao ver Cesário Verde no bulício
de um piquenique de cerejas partilhadas

Fotografia de Orlando Correia, Resende 2012

domingo, maio 27, 2012

No alto do monte se apura a visão?

Ontem subi ao Sameiro com muitas dúvidas, mas acabei por descer mais determinado a resolvê-las, todavia se subi também com algumas certezas sobre o meu grau de ilusão melhor desci com elas aumentadas. É assim: um homem sobe iludido, desce desiludido, porque lá em cima tudo parece ter outro horizonte, mas volta para baixo decidido a meter-se nos mesmos caminhos de ilusão, porventura mais atento, porventura mais consciente de suas responsabilidades.

Nestes lugares tudo se pode querer como ideal,  e tudo se pode reconhecer como impossível. Fica então uma vontade de prosseguir caminho mais vigilante e mais assessorado pelos valores últimos em que se acredita. A ideia de mãe, seja a nossa real ou aquela que a transcendência celebra no alto do monte Sameiro, tem o condão de aconselhar um filho a ser digno de si.

De lá de cima sempre se traz uma vontade de chegar cá abaixo com o nome dos bois na boca e com a vontade de os chamar ao rego. Só que mal se põe o pé no chão plano da fundura, que ainda é planalto em relação ao mar, logo se ouvem as vozes do desamparado deixa andar.

Levei duas pedras no sapato e as duas trouxe: uma, a de não conceber como pode um político usar todo o poder que lhe é conferido para desgovernar, outra, a de não compreender como pode o meu ministro da educação dar uma no cravo e outra na ferradura em matéria de organização curricular.

Então, terei de continuar a pensar, quase um ano depois de eleito, que este governo decidiu mesmo ser pior que o anterior em tudo quanto criticou e de quanto fez arma de arremesso? Então terei de me começar a convencer que Nuno Crato decidiu imitar quem tanto criticou?

É contra estas vozes do baixo que um homem tem de subir lá acima.






sábado, maio 12, 2012

Os lugares propícios a ver mais longe!

Estas duas fotos foram tiradas numa viagem que fíz aos alpes franceses, ao santuário de La Salette, uma subida paciente de autocarro com regresso pela mesma estrada, dizendo-se assim que o lugar da visão é o ponto terminal da visita. Isto foi há dois anos, no Verão, mas tem a ver com o dia de hoje, véspera do dia 13 de Maio, como tem a ver com tudo, até com a crise política em que nos encontramos. A gente quando viaja leva todas as cargas em que não quer pensar, depois da viagem guarda-as em fotografias e quando vai ver estas, recorda-se das que não foram na viagem e se acumularam entretanto. Há-de haver sempre lugares onde alguém, pastores, crianças, gente sofrida ou desatenta até, se confronta com suas visões de absoluto. Depois da fulguração, tudo se há-de explicar em conversas de mesa e de rua, em estudos do simbólico e em hermenêuticas do sentido.
O importante é que as imagens reproduzam uma ansiedade de lugar, de percepção física do território, para nos instalarmos na tradição de o ver. Inseridos na tradição do roteiro, a polémica pessoal passa a precisar de uma catarse: pelo turismo faz-se com facilidade: fomos para ver; pela curiosidade, faz-se com resignação: vimos o que lá estava; pela provocação, faz-se com acinte: tudo interessa a quem o acha. Mas, depois, o tempo regressa sempre com a mesma inquietação: a paisagem fica mesmo para além de nós. O sentido de transcendência é uma poética de desafio.

Hoje é dia de Maio, como um dia que o foi há 40 anos e eu encontrei a minha metade, um desafio de vida que todas as subidas têm consolado.