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sábado, março 24, 2012

Parabéns, João Miguel!


Pois é do pai que se trata e como surpresa se paga com surpresa, aqui se deixa a mensagem, glosando uma velha cantiga de amigo, já que a gente gosta de supor que toda a fantasia é a realidade e que toda a realidade, mesmo sendo outra, é sempre engrandecida num espelho deste género.

Muito me sai daqui o meu amigo por aí
Com que fins específicos?
De vender frigoríficos!

Muito me tarda o meu amigo na estrada
Com que ideias de renda?
Com as vindas da venda.

Muito me faz suspirar o meu amigo no ar
Com que lindos planos?
De agradar a seus amos.

Muito me foge o meu amor pra tão longe
Com que ânsias de vir?
As que eu lhe faça sentir.

Muito me encanta o meu amigo em demanda
Com que pressa de ver?
O nosso filho crescer.

E o resto é tudo quanto se resguarda
Das birras do tempo e das cores da distância
Meu amigo faz anos e a nossa casa
É ponto de encontro e de itinerância.

José Machado
Braga. 2012. Março.

segunda-feira, março 19, 2012

Em seu dia, meu pai

Por todos os pesos que a vida pôs em seus ombros,
por todas as colheitas que suas mãos fizeram,
por todas as palavras que seus lábios difundiram,
por todas as perplexidades que seus olhos avisaram,
assim me empenho em seguir,
mas sem lhe dar o terço das terras que arrendei,
sem lhe dar metade do que mereceram os seus passos,
sem o aliviar de tudo o que lhe dói.
Tudo quanto pensou não foi isto, eu sei, meu pai,
mas tudo o que pensou é que tem de ser a minha força, ainda hoje
e amanhã.

domingo, março 11, 2012

Da lealdade e da patifaria

Quantas caras tem a lealdade?

Quando era pequeno, tinha a lealdade como valor dentro da equipa: se jogava pelo lado dos patifes, tinha de ser leal aos patifes, se jogava pelo lado dos polícias, era leal aos polícias e leal queria sempre dizer protecção, jogo comum, sujeição escrupulosa a regras e tácticas. O problema acontecia quando tinha que sair do jogo para julgar uma questão entre um polícia e um ladrão ou patife, do tipo, tu só me viste a mão e não a cabeça, portanto não me podias matar. Este tipo de exercício resolvia-se manhosamente, calculando vantagens e prejuízos e só quando tudo era evidente demais é que se tomava aquela decisão «imparcial» de ser contra a própria equipa.

A gente cresce mas passa a ver que a construção dos valores da lealdade se faz na mesma base do jogo em equipa, isto, claro está, depois de decidir em qual equipa cada um se integra. Sim, porque, à partida, um indivíduo tem de saber forçosamente qual a amplitude da lealdade na equipa em que está a jogar. A lealdade é um valor pontual, sempre marcado pelas circunstâncias. Tem um caderno de encargos circunscrito, embora possa (e deva, quanto a mim) estar sempre integrada num quadro ético referencial ou numa filosofia ou numa teologia de vida.

Sendo assim, não estando José e Aníbal na mesma equipa (embora se devesse falar na equipa Portugal), a pergunta de saber quem praticou mais a lealdade, no quadro do caderno de encargos que assumiram quando começou o jogo entre ambos, sobra para nós, cidadãos votantes, testemunhas da recreação bélica.

É que ser leal, nos inúmeros exemplos que a política nos tem dado, seja para quem está a sobreviver com lautos rendimentos, seja para quem está a governar com míngua de sustento, está reduzido a uma prática de regras elementares de mútua informação e tomada de decisão, as quais, neste caso crítico da nossa situação subliminar de quase guerra, deram no que deram, ou seja, foram, quer na prática que tiveram, quer na omissão, conducentes a um descalabro governativo.

Sendo assim, continuamos a ter palavras na fogueira das vaidades, por certo leais à equipa em que se joga, mas inúteis para nos livrarem do buraco. A menos, que estas acusações de deslealdade visem a declaração oficial das hostilidades, ou da guerra. Neste caso, voltando à minha infância de jogos de polícias e ladrões, deve declarar-se que, a partir deste momento, vale ver tudo para «matar» o outro, seja o cabelo, seja a mão, seja o corpo todo.

terça-feira, março 06, 2012

No dia 4 de março

Lembro-me de ti

meus pais fazem anos de casados
a ponte de Entre-os-Rios caiu
nós continuamos à espera

a este lugar podem vir os pombos
as amendoeiras estão no tempo da flor
as viagens custam mais

deixo as palavras assim
soltas brancas dispersas banais
meu amor