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quarta-feira, fevereiro 01, 2012

O cavalo de Guimarães

Não encontrei em Guimarães prospecto que me informasse sobre a história que a noite de estreia consagrou, nem sobre as músicas que a banda de Pevidém executou, nem sobre o filme projectado na fachada das casas do Toural. A ter de inventar a que li e ouvi e vi no terreno, quase apertado na multidão, foi a de que o guerreiro atravessara a história e fizera o público gritar, abanando a espada contra sua mãe e demais inimigos, coisa que o levou da torre da igreja para o prédio da esquina, tendo uma janela desta vez sido sua entrada triunfal no território. Depois relinchou um cavalo, maior que o de Troia, e todo o simbolismo de cavalos percorreu a praça e se fixou nas gentes, machos e fêmeas, desafiados que fomos a segui-lo com olhos e desejos. O cavalo recebeu depois dois desataviados arreios dos grupos de bombos nicolinos, como se lhes fora reconhecido por ousadia de montada. Então um homem alevantou-se do chão e assumiu-se-nos como corpo colectivo, luminoso, determinado a dominar bestas e a abrir caminhos. Foram as gruas quem fez de narrador bonecreiro e quem fez de conta que tinha a nossa força e decisão. Na fachada do casario moveu-se a vida e estilhaçaram os cacos de tempos acumulados, tudo ali se fez simbólico de usos e costumes, ofícios e indústrias, modos de ser e de viver, janelas a abrir e a fechar, casas a desenharem-se na paisagem, touros e cavalos a galope, uma corrente de afectos e ambições. Gostei e fiquei de saber se o prospecto me daria outra leitura de quanto não terei captado dos La Fura dels Baus. Da movida por ruas e bebedoiros nocturnos já nada direi, senão aperto e ansiedade. Acabei por nada beber e não parei para dançar. Vim de lá com uma enchente de casos de vida que entretanto um casal amigo teve a amabilidade de contar, histórias de gente que Guimarães só agora descobre.
Já de tarde me tinham ficado olhos e ouvidos no multi-usos, sobretudo naquelas «duas margens» de Chico César, uma clara emergência do nosso romanceiro na outra margem, com retorno reforçado nos sons de Rao Kyao. Toda a intervenção de cantadores, músicos, bailarinos e actores me pareceu bem conseguida.

1 comentário:

António Machado disse...

Também lá estive...mas vi pela televisão na Praça Santiago pois não consegui chegar ao Toural...gostei, sim gostei...da primeira noite cheguei cansado...
depois fui no sábado seguinte ver os Buraka...digamos que aderi à diversidade