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terça-feira, maio 31, 2011

As intimidades políticas

Confesso que as de Paulo Portas me surpreenderam e avanço algumas hipóteses de compreensão:

1ª hipótese: Churchill, Sofia Loren, Corto Maltese e Sharon Stone, mais a ideia de decorar a casa, mais a ideia de se sentar na relva, mais a ideia de cear, mais a ideia da secretária ser uma asa de avião, mais a ideia dos domingos à tarde no escritório, mais a ideia da desordem pessoal nos livros - tudo aponta para o espavento da personalidade em contínua surpresa com o mundo, num ir e vir de instabilidade vistosa, sugerindo ansiedades e rupturas, mas também estabilidades e compromissos... sem a pressão do tempo...

2ª hipótese: as mesmas coisas anteriores mais a referência contínua à mãe e ao irmão apontam para o homem viril e feminino, esse homem da rua e de casa, fixador de erotismos de visão, manipulador de sentimentos de pertença e de fuga, uma espécie de viajante inconsolado... sob a pressão das câmaras...

3ª hipótese: tudo junto para uma oportunidade de gozar a vida: beber e discursar, ver e apreciar umas boas pernas, viajar à procura de casos e de causas, estar receptivo a todos os encontros de ocasião... com a impressão do poder...

4ª hipótese: o acumulado, deste e dos outros, sugere que esta geração de políticos - Sócrates, Passos e Portas - é um espelho geracional: instáveis, ansiosos, apressados, iconoclastas, destemperados, conservadores, medrosos, calculistas... duplos, bipolares... É BOM QUE A CRISE LHES CAIA EM CIMA... pode ser que sobre para uma viagem de Maltese... com depressões...

(declaração de interesses: eles precisam de amigos e eu voto Passos)

sexta-feira, maio 20, 2011

O debate conclusivo

1. Eu já estava convencido de que não devia votar no PS.
2. Hoje convenci-me de que posso votar PSD.
3. José Sócrates convenceu-me hoje de que nunca mudará para melhor; o homem não se apercebe mesmo de que defende o «miserabilismo social» como solução colectiva.
4. Passos Coelho convenceu-me de que é portador de outra dinâmica, só lhe faltou responder ao descaminho de Sócrates: «sei que não vou por aí».

quinta-feira, maio 12, 2011

A propósito de andorinhas...

Quando a atmosfera começa a saturar de fumo ou de humidade, de ar poluído ou de ruído, desse incómodo de olhar e não ver ou dessa precisão aflitiva de bocejar, é tempo de abrir portas ou janelas, deixar entrar correntes de ar ou então sair para o exterior.

Um homem pode andar cansado de si próprio. Neste caso, a pergunta óbvia é a de saber que janela ou portada vai ele abrir em si mesmo se o ar que consome e o satura lhe bloqueia as entradas e saídas.

Por falar nisto veio-me ao espírito uma história contada por um escritor, Alberto Braga de seu nome, em Contos da Aldeia, um livrinho com mais de cem anos de edição: conta o narrador que indo de visita a uma senhora de bens e de dotes a encontrou, já em tempo de as andorinhas chegarem aos beirais, ainda de braseira acesa na sala para se aquecer, alegando que a primavera entrara fria e caprichosa de agasalhos. A forma de convencer uma senhora tão distinta a abandonar semelhante desiderato de aquecimento interno foi o narrador e visitante contar à dita que um dos reis Filipes de Espanha, numa altura em que também era nosso, se sentiu congestionado com a falta de ar puro, por estar submetido a aquecimento de braseira, e, ao ter pedido que lha retirassem, os ministros que o rodeavam terem entrado em tal conflito de interesses e burocracia de estado que demoraram todo o tempo do mundo a fazê-lo, o suficiente para o rei morrer asfixiado com a falta de oxigénio. No instante em que se despedia de tal senhora, que lá não fora somente por este caso de aconselhamento, mas movido pelo estado alegre e animador em que vira as andorinhas nos beirais de sua casa, o narrador e visitante ouviu-a recomendar a um criado que não mais lhe trouxesse para a sala a braseira e de imediato abrisse de par em par as portadas da sala.

Pois que seja por amores repetidos, por palavras cansadas, por hábitos enquistados, um homem ou uma mulher podem testemunhar a falta de ar. Como nas salas de aula o mesmo pode acontecer, e também nos gabinetes de trabalho e já agora, por extensão, no próprio país.

As situações de ar empestado resolvem-se com o afastamento radical das fontes empestantes, escancarando portas e vidraças, ou subindo montanhas ou mudando de horizontes.

As andorinhas chegaram, essas aves migradoras, vestidas de preto e banco, nesse fato cerimonial de estado ou de representação diplomática, mediador de conversas e legitimador de protocolos. Dizem que uma andorinha não faz a primavera, mas três já fazem com certeza. E foi assim que a nossa primavera se notou também, estando nós ainda de braseira ligada num aconchego viciante.

Pode agora a imagem já estar a induzir os leitores de que entrei em campo de pragas e de minas, espaço que se distancia de uma casa apalaçada. E ao mais não vim visitar senhora solitária. Ainda que esta mesma senhora burguesamente adormecida ao calor de uma braseira possa servir de imagem à nossa situação política, muito melhor se o criado da casa entretanto nos disser que era a última lenha que se consumia em brasas. De facto a imagem tomou conta do texto e agora é tarde para a não concretizar em corrente de ar. Os ares viciados da nossa política social requerem lufadas de frescura. Pois então vamos a tratar de abrir janelas, não se vá dar o caso de morrer outro rei asfixiado, o que nem se lamentaria por aí além.

segunda-feira, maio 09, 2011

Assim haja ventos favoráveis...

(deste lenço vos falarei mais tarde)

Mas busquei-lhe parte para dizer quanto desejo que o futuro comprove esta ansiedade de mudança. Olho para trás e vejo que a juventude me fez errar à procura de futuro. Olho para este presente e vejo quanto me terei enganado, mas reparo, de cada vez que volto às minhas criações e aos meus papéis, que ali se guarda ainda alguma força desse tempo primaveril.

Na minha escala, o percurso de rebeldia somou mais decepções que vitórias: a maior, porventura, o ter-me sentido mais liberto depois que me dei conta que fracassara como «revolucionário marxista-leninista-maoista». Esta ironia sobre mim próprio ainda me resta como ânimo. É um sarro vinificador!