Pesquisar neste blogue

terça-feira, setembro 27, 2011

Os calvários do barroco.

Vai decorrer em Braga um colóquio sobre o barroco.
Não deixará de ser tomado como indício de alguma coisa que este colóquio ocorra numa altura em que o dinheiro para mandar cantar um cego se tem de pedir a outros.
Mandar cantar um cego decorre de ele ser o autor de música mais barato possível: não gasta pautas, não transporta estante, nem precisa de instrumentos: canta de cor, canta o que sabe, canta o que pode inventar. Mas canta, à espera de ser agradecido.
Todo o património barroco nos remete para tempos de prosperidade e de investimento artístico, fosse de reis ou de mecenas abastados ou de instituições eficientes na angariação de recursos, como a igreja, por exemplo. O que não deixa de contrastar com uma das temáticas patrimoniais mais glosadas: o calvário ou a via sacra.
Ainda que tenhamos de colocar as criações artísticas na sucessão histórica e elas resultem sempre de uma acumulação de aprendizagens e de influências, o certo é que o período barroco, nesta altura de crise, nos pode motivar e desafiar um pouco mais: no que toca às artes, eis uma boa oportunidade para nos interrogarmos sobre as criações que deixamos nos tempos de fartura e nos tempos de carência.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Na escola, com a crise...

Estamos perante uma crise de inteligência e de conhecimento, não duvido. O que nos falta é QI, é razão pura e dura, é ciência na sua luminosidade metódica e nas suas preocupações de prova.

Cada vez são maiores as falhas por defeitos de tecnologia, quer na indústria automóvel, quer na informática, quer na saúde.

Cada vez são maiores os buracos na política, quer na local, quer na nacional, quer na mundial, saindo das cartolas mais depressa o erro e o descuido que a vigilância da razão.

Tudo por falta de conhecimento, por falta de racionalidade. Os critérios da iluminação do conhecimento foram sabiamente desmontados pela política como estorvos, as teorias da vontade e dos instintos sobrepuseram-se aos critérios da razão, a parolada impôs-se e chama-se pensamento politicamente correcto.

Daqui deduzo: a escola é ainda um princípio de criação do mundo.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Que há de novo para teimar melhor?

Não há grande coisa nem grandes causas, não obstante a causa do país ser a coisa que mais parece grande, ou vice-versa, ser a causa que mais parece grande coisa.

Da escola só direi que o essencial é esta relação escolar entre nós, os professors, e eles, os alunos; após a sedução, ficam os compromissos e as distracções devem ser eficazmente evitadas e combatidas. Ora tudo o mais, fora desta relação, é distracção e não me está a parecer que as coisas tendam a melhorar: não gostava que eu e aqueles que viram no dia 5 de Junho uma nova oportunidade fôssemos vítimas de incratidão, mas...

Sem exemplos de cima, sem humildade de serviço político, sem radicalidade de métodos, não vamos lá. Para já os sinais exteriores mantêm-se: carros, mordomias, visibilidades, demoras, autoritarismos, gabarolices, dependências de TV e de comentaristas...

Não sei porquê, mas vêm-me à memória os frades descalços...

domingo, setembro 04, 2011

Parabéns, minha mãe!

As fotografias foram tiradas por meu irmão António no dia 25 de Agosto, em Raiz do Monte, no dia do 87º aniversário de nossa mãe. Brindámos à sua presença entre nós, agora dando-nos o exemplo do sofrimento absoluto no silêncio da sua intimidade. Todos temos consciência do seu estado e tudo fazemos para melhorar as nossas limitadas capacidades de intervenção. A nossa mãe foi sempre uma voz levantada para o nosso sustento e para a nossa educação, redundava os actos em palavras e destas fazia obra de alimento físico e espiritual. Porventura somos todos faladores devido a ela, dimensão que costumávamos atribuir mais à influência de nosso pai. As palavras são agora pequenas e mínimas, como as suas memórias requeridas por nossa ânsia de reconhecimento, mas é ainda total o seu olhar demorado, a sua percepção de nós e de si, a sua resignação ao que é. Queira Deus que a luminosidade de sua vela nos esclareça sempre os valores da palavra e das aprendizagens legadas por seu exemplo. Todas as lágrimas são já subterrâneas.

Em nossas festas brinda-se por todos, pelos presentes e pelos ausentes, por este e por aquele, estejam onde estiverem, sendo a palavra a chamá-los à mesa e a este encontro de copos sempre em risco de colisão excessiva. Foi meu pai quem nos interiorizou esta prática ruidosa de brindar, com elevação da voz em cadência ascendente. Os mais novos acham a algazarra excessiva, mas é assim que a coisa ainda funciona com graça.

Estão sete netos na imagem, duas filhas e é ainda perceptível a nossa Hermínia, a senhora que cuida de nossos pais. Cantámos os parabéns, houve repetição no acender e apagar das velas pelos netos mais novos, houve a distribuição do bolo por idades, com os habituais atropelamentos ou fugas, houve os elogios e o discurso do Zé, eu próprio, este ano mais mudo também, mas talvez certeiro no que disse, assim mo reparou meu sobrinho Duarte. A mãe teve de nos suportar a festa! Ó amor de mãe, paciência de mãe, silêncio de mãe!

Aí estamos nós a seguir o curso dos anos, ainda bem favorecidos pelo amor e pelo preto e branco da fotografia, que meu irmão anda sempre atrás de uma fixação de sentimentos e os dele são generosos.