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quarta-feira, agosto 10, 2011

S. Lourenço da Armada - uma caminhada de saudade!

10 de Agosto: hoje fui ao S. Lourenço da Armada, no alto da Boalhosa, no cimo do monte, donde se vê Viana do Castelo; a ermida fica na freguesia de Gondufe, Ponte de Lima, mas a romaria está baptizada pela tradição como sendo da Armada e o lugar este ano estava cheio de arcos, novidade que contraria uma representação de abrandamento na festa, coisa que andava no ar desde que a comissão de festas, há coisa de três anos, afastara do adro da capela os «restaurantes ambulantes», vistos como pólos de atracção nem sempre favorecedores do recolhimento festivo. A polémica decorreu também da velha questão nunca resolvida da nomeação da festa, ou seja, de saber a quem pertencia fazê-la, se aos da Armada, se aos de Gondufe, tendo prevalecido estes.

Agora no adro permanecem os vendedores de doces, de brinquedos e um posto de venda de cerveja, para além do palco; os lugares de comes e bebes desceram o monte, para o patamar inferior, onde pululam as merendas e os convívios e onde eu vi dançar, da primeira vez que lá fui, como nunca pensei que fosse possível: foi um momento de meu deslumbramento com a presença viva da tradição coreográfica. Esta foi a minha primeira festa «etnográfica» nos anos oitenta, fui lá levado pelo Domingos Dias, meu colega professor, natural de Pedregais, que foi leitor em Providence, na América, falecido numa hora em que a sua força de trabalho estava a levantar um voo singular.
Deixei o carro ao pé da escola primária de Beiral do Lima e subi o monte. Ainda estava pouca gente a peregrinar, passei por um pai que já descia com o filho pela mão, mas que o levara para cima às carrachilas, «a cavalo», como disse; passei por um grupo de quatro pessoas que «merendava», um homem e três mulheres de luto, eram 9:20. A subida puxa bem, o pó solta-se, as pedras rebolam e o tojo pica. Fui à capela, tirei as fotografias repetidas, a das pontes da autoestrada e a de Viana e mais uma dos campos cultivados na encosta sul, que já é terra de Vila Verde. Já eu descia quando voltei a cruzar-me com aquele grupo de quatro e com um trio de cavaleiros, modo cada vez mais crescente de andar nas romarias. Antes de pegar no carro, comprei a rosca na doceira, fui ao café comer a sande de queijo e beber o sumol, dieta que me ficou de pequenino, quando minha mãe me levava às festas e me perguntava sempre se queria uma laranjada para o pão com queijo que ela levava de casa.


No regresso passei por Pedregais e fui à capela de S. Bento e ao cemitério, dois lugares de emoção. Fui visitar o meu amigo Domingos Dias; na mesma campa está o seu pai,o senhor Pereira Dias, e um seu irmão, falecido na Venezuela. Visitei também outro amigo, o senhor Manuel Lourenço, cunhado do Dias, casado com sua irmã Maria, emigrante em França e homem de uma simpatia contagiante. Fui a Pedregais porque dali parti a pé a primeira vez que fui a S. Lourenço, foram duas horas de caminhada, sempre a subir. Já repeti essa subida outras vezes, mas a memória da primeira mantém-se como caminho de iniciação. Em Pedregais fotografei a tradição dos arcos de romaria, «este feito já pelo herdeiro do homem que os fazia como ninguém e que até colocava a imagem dos dois santos, o S. Bento e o Santo António, colocando ainda uma caixa com pombos e flores que se abria puxando uma cordinha quando o pálio passava por baixo e as pombinhas ficavam ali ao redor do andor e as flores caíam na cabeça do santo, coisa linda de se ver, que o homem era um artista, mas o filho também fez boa obra, a cruz do alto caiu ao pôr-se o arco de pé, mas tem boa distribuição de símbolos e é branco para nunca perder a cor; era mais alto, mas assim está bem, pelo menos este, porque o homem já não tem herdeiro que lhe pegue na tradição, o filho não quer saber disto» - foi esta a história que ali ouvi.

Para lá e para cá, um homem leva o mundo na cabeça e o mundo anda nas bocas de todos: no café, uns emigrantes discutiam as vantagens da concorrência que devia haver cá nos preços dos combustíveis; lá dentro, na TV, um cozinheiro explicava como fazia os bolinhos de bacalhau e referia-se ao aumento do dinheiro no bolso dos clientes e a senhora do café, atrás do bar, dizia que o dinheiro já faltava; na rádio, os distúrbios nas cidades inglesas coordenavam-se com as nuvens negras dos incêndios no horizonte; durante o regresso, o «forum» sobre as negativas em Matemática e em Português desenquadrava-se com o bulício das bermas na estrada Braga-Ponte de Lima. A saudade começa a andar empurrada por um receio de catástrofe.


3 comentários:

almerindacerqueira disse...

EM PRIMEIRO LUGAR DEIXE-ME QUE LHE DIGA QUE PARA FAZER ESTE TIPO DE COMEMTÀRIO SOBRE O S. LOURENÇO DE GONDUFE TEM QUE TER MAIS CONHECIMENTOS GEOGRÀFICOS, CULTURAIS , TRADICIONAIS E HISTÒRICOS. DOÍ MUITO ALGUÉM VER UM COMENTÁRIO NA INTERNET A PERCORRER TODO O MUNDO COM A VERDADE TODA DISTORCIDA!

José Machado disse...

Ora viva, Almerinda Cerqueira, força, não hesite, complete, corrija, critique, reponha a verdade, acrescente os factos que acha estarem em falta. Um blogue é um cantinho pessoal, se ficar muita verdade por dizer alguém há-de um dia trazê-la à luz, é essa a vantagem de comunicar para todo o mundo. Está a ver? Se não fosse assim nem você me leria, nem eu ficaria à espera do que tem para dizer sobre o S. Lourenço da Armada, ou S. Lourenço de Gondufe, conforme a tradição que se tiver na memória. Obrigado.

Anónimo disse...

na verdade esta capela pertence ao lugar da armada e a freguesia de serdedelo,porem a freguesia de gondufe apoderou-se da imagem de sao lourenço e so leva a imagem para a capela quando sao as festividades e no resto do ano a imagem esta na igreja de gondufe