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sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Ouvir a banda tocar!

Hoje, dia 12 de Fevereiro, de manhã, estarei em Parafita, freguesia do concelho de Montalegre, na inauguração da nova sede da banda de Música, uma construção de raiz em terreno cedido pelo grande mecenas da banda, o padre Manuel Alves, natural da terra, mas vigário de Valpaços, homem escritor de muitas obras sobre o património local, polemista fecundo, pároco da palavra de Deus e dos homens.

A obra foi levada a cabo pela direcção da banda liderada pelo dr. Avelino Lestra Gonçalves, procurador-geral aposentado, também filho da terra, homem de palavra sonora e assertiva, entusiasta de sons e de viagens, barrosão de quatro costados, jogador sábio de sueca, pregador de palavras aos homens seus contemporâneos e aos seus netos quando forem grandes. Outro dirigente já teve a banda, também do universo jurídico, o dr. Custódio Montes, juiz do supremo, aposentado, agora a conquistar as graças das musas e a investir os cabedais em suas ditosas e promissoras terras. Se há graça fulgurante da presença destes líderes da banda é aquela que mantenho na memória de sempre os ver a seguirem os passos dos músicos nos desfiles, nas procissões, nos concertos, como se fossem também eles a soprar e a suar as estopinhas.

Da banda e do seu mestre deveria eu manifestar o meu entusiasmo pela dedicação e pelo arrojo de novidade que praticam! Ouço-a sempre com aquele sentido infantil de assistir ao nascimento dos sons, lembrando-me do tempo em que segurava as pautas musicais a outros músicos por uma coroa, tocassem eles no terreiro em frente à igreja, ou até no coreto improvisado. O associativismo musical, no nosso país, é um exemplo de persistência, a ver ainda pela quantidade de bandas que temos no activo e pelas que são memória de arquivos emergentes. A de Parafita é um caso de resistência, uma causa que todos têm sabido defender, desde o senhor padre Manuel Alves ao município de Montalegre e às empresas da região, desde os músicos já retirados aos actuais componentes, desde o mestre aos dirigentes. O escritor Bento da Cruz já estampou em literatura vernácula, ridente e justa, todo o carinho que a região nutre por esta banda, com uma narratividade de emulação absolutamente notável, quase mítica.

O meu programa da tarde será um misto de festa e de saudade, uma ponte entre a alegria e o sofrimento: hoje assistirei ao casamento de uma amiga, filha de meu saudoso companheiro de festas e trabalhos, o professor Rogério Borralheiro, já falecido há dois anos.

Toda a memória é uma ressurreição e este casamento mais a confirmará. Há-de compreender o leitor que o recheio desta crónica com pormenores de vida pessoal é uma necessidade de conversa, uma espécie de cerimonial de um luto contínuo, ao mesmo tempo que uma espécie de celebração da vida. Emocionam-me os casamentos dos filhos de meus amigos e colegas, vejo-os como empréstimos de personagens para as minhas compensações, anseio que eles continuem nos mesmos sonhos de futuro que seus pais e eu comungámos em muitas ocasiões.

É assim a vida e assim a não consigo evitar deste texto que é escrito de um lugar que é a escola, lugar por direito dado ao estudo das histórias de vida e à aprendizagem das linguagens que melhor a contem, que mais vivamente a exprimam, que mais a emocionem também. Nem tudo são rosas e flores de cheiro na escola, neste momento, antes pelo contrário, tudo nela está a apontar para uma negatividade excessiva e, se calhar, é por via disso que estas conversas resvalam para a festa e para as celebrações de tradição, de renovo, de esperança, como é a inauguração de uma sede da banda de música de Parafita e como é o casamento da filha de meu saudoso amigo Borralheiro. Todo o futuro precisará de músicos e aqui estão dois acontecimentos a provocá-los. Que Deus providencie os frutos merecidos, a quem tanto se entusiasma hoje em dia.

2 comentários:

gracinda disse...



No sábado pensando no casamento da Guidinha Borralheiro, pensei muito no pai, o nosso amigo Rogério. Como seria a alegria dele neste dia!É muito injusto que não o tenha podido viver.Mas não somos senhor de nós...
Saudades dele e desejos de que os filhotes e a Lena sejam felizes apesar desse lugar vazio que ninguém nunca ocupará.

Anónimo disse...

Muito obrigada, Gracinda..