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quarta-feira, janeiro 26, 2011

A biodiversidade política depois das eleições

Ora aqui está uma imagem que dá para tudo e para todos, creio eu. Meu irmão António trouxe-ma de Raiz do Monte, são as ovelhas da Irene que pastam no campo de outro vizinho, são o rebanho da proximidade, uma parte simbólica de outros rebanhos e de outros tempos e de outros campos e de outros vizinhos, mas uma realidade incontornável.

Andamos na escola com a biodiversidade às voltas, uma grande temática, uma politicamente correcta grande temática. Por isso me lembrei de a trazer para a política, mesmo sem cuidar de saber quem é rebanho, ou para que serve este, nos tropos que a política requer para se falar.

Mas o certo é que os rebanhos existem, alguns pastores sumiram-se e deixaram as ovelhas entregues à baliza dos campos, convictos de que não as haja que se atrevam a saltar e a procurar outros rebanhos.

Cada um explica o seu rebanho como pode e como lhe convém e todos se mexem e remexem em relação a um rebanho suposto maior e mais ganhador de terreno de pastoreio; todos se declaram perturbados com a presença de pastores, uns aguardam mesmo o conflito entre eles.

Pois eu assim penso: não há melhor parábola que a do pastor e do seu rebanho; não há pior tormento que o de um rebanho tresmalhado; não há melhor solução que a da recomposição dos rebanhos; não há maior necessidade que a do afastamento de alguns pastores.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Os meus pais



Este trabalho resultou da aprendizagem em eportefólio, na minha escola, uma acção de formação que frequento para progredir na literacia electrónica.

sábado, janeiro 15, 2011

As presidenciais e o que mais vier!

Fotografia tirada por meu irmão António, na casa de nossos pais, no Natal, com as panelas no fogão de lenha.

Estamos em tempo de campanha eleitoral para a presidência da República e desde já faço a declaração de interesse de que aposto na continuidade do actual presidente, deixando assim expresso o meu sentido de voto.

Posto isto, saio-me a dizer que aguardo os abanões da crise com muita preocupação e só desejo enganar-me sobre a gravidade das repercussões que a mesma dita crise vai trazer às escolas e ao ensino. Quando digo que me desejo enganar é porque pressinto uma corrente subterrânea de frustração a crescer, sinto um movimento de toupeira irreverente a esburacar-me este chão profissional onde enterrei sonhos e projectos de trabalho ao longo já de trinta e seis anos. Desanimar agora, e desanimar seria pedir a passagem à reforma com as penalizações consequentes, parece-me fuga, receio de sofrimento maior no futuro. Fuga e receio de gente e a gente que é mais importante desafiar do que fugir dela.

Verdade se diga que eu nunca vi a escola nem o ambiente escolar em berço doirado, antes, e concretamente aqui deste lugar que é a Francisco Sanches, sempre em situação de crise, de dificuldade, sempre com problemas para resolver, fossem de instalações, fossem de falta de recursos, fossem de alterações sociológicas, fossem de reformas curriculares, fossem de mudança de lideranças, fossem de entrada e saída de pessoas. Nunca trabalhei folgado, nem de costas direitas, andei sempre em esforço intelectual, em crise de ansiedade por encontrar respostas adequadas, andei sempre em formação, fosse eu a procurá-la, fosse eu a dirigi-la, andei sempre em polémica de ideias e debate de soluções. Mas uma coisa é ter andado em crise, mas sem cortes no vencimento, e outra coisa será andar com as duas juntas ou em risco de junção e agravamento.

Vêm-me à memória as palavras de Amália Rodrigues, logo a seguir ao 25 de Abril, quando quis dar um exemplo de como se sentia por estar mal vista pelos revolucionários do país: sentado à porta da escola / onde a instrução o deixou / o professor pede esmola / aos alunos que ensinou.

Uma vez encontrei um colega em Lisboa, também já calvo como eu, que teve a feliz ideia de se referir a cada ano de docência como década de queda capilar, contando já ele ao tempo 450 anos de desgaste e achando que, pelos mesmos parâmetros, eu deveria estar a chegar aos 350 anos. Agora estarei, segundo ele, nos 570 anos de consumição, já que um ano para os humanos equivale a dez no envelhecimento de uma árvore. Na altura senti-me elogiado por estar com o aspecto dos velhos castanheiros de minha terra, ou seja, por partilhar em aspecto essa ideia mítica de que todas as árvores morrem de pé.

Um homem faz-se velho a esperar pelas novidades, um professor consome-se a esperar pelo dia em que só a sua presença desencadeie aprendizagens e só o sopro de sua voz esclareça os espíritos, e tudo em redor seja limpo, bem cuidado, equilibrado, consensual. Ó tirania das utopias, ó verdade das ilusões: a escola foi e será sempre dura de roer, a juventude será sempre perturbadoramente resistente a bons conselhos e sermões, as aprendizagens deixarão sempre o rasto de azias, de indisposições, de trambolhões e esfacelamento de joelhos.

Mas deixe-me eu de tretas que a crise se encarregará delas, reduzindo-as por certo a ninharias. Não nego que me faz sofrer esta fuga de meus colegas mais velhos para a reforma, eles, muitos, que estão com melhor aspecto do que eu! Agora é que nós vamos sentir a falta uns dos outros, agora é que nós deveríamos estar juntos para aguentar esta juventude. Lembro-me de uma história que li a respeito desse professor e folclorista que foi Gonçalo Sampaio: um dia, nesse tempo conturbado da I República, no contexto da crise que levou Sidónio Pais a assumir a condução ditatorial da chefia do Estado, Gonçalo Sampaio foi preso por ter sido denunciado como apoiante da facção sidonista, tendo-se ele defendido que só participara nos movimentos de contestação social por ver neles envolvidos os seus alunos, os jovens, entre eles os seus filhos, e precisarem eles de uma orientação avisada.

Não andaremos longe de que isto volte acontecer e todos nos vejamos em campos opostos de contestação, mas é neste aspecto que eu bem desejo enganar-me. Os mais velhos sempre foram mobilizados para as causas públicas para assegurarem melhor futuro aos mais novos, mas estes nem sempre acolhem os conselhos da moderação. Se por qualquer motivo a minha idade não for útil, procurarei lembrar-me também de quanto fui irreverente e atrevido enquanto novo. A vida é sempre esta aflição de perspectivas. (Crónica lida na Rádio Francisco Sanches, em 15.01.2011).

domingo, janeiro 02, 2011

Novo ano - nova repetição!

Repetir é voltar a pedir, repetir é tornar a fazer, mas neste voltar e tornar pode estar a novidade, até do velho e que já se considera repetido vezes sem conta. Repetir é regressar ao que já se pediu, olhar de novo e outra vez o que já se viu, dirigindo de novo a voz da reclamação, estabelecendo de novo o preço, reivindicando outra vez a necessidade, e também voltando a rezar ou orar.

A melhor imagem para toda a novidade da repetição é o nascimento de um filho e neste deslumbramento se diz tudo quanto já foi dito, reclamado, fixado, marcado, estabelecido. Aqui se canta e se rejubila por este nascimento de um menino, o filho do João Miguel e da Eliana, nossos amigos, ele irmão de nosso afilhado José Carlos, falecido há quase um ano, eles, um casal com toda a esperança de futuro. Começou bem este Natal, a 22 de Dezembro, começou bem este ano e assim esperamos que continue esta vontade de renascer, de repetir a novidade de viver, reclamando o preço a pagar.
O rapaz chama-se Francisco!