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segunda-feira, abril 19, 2010

Hoje e sempre!

(Fotografia tirada por meu irmão António na procissão de quinta-feira santa em Braga, este ano. Pela luminosidade do anjo e pela proteccção do guarda-chuva, a fotografia torna-se mais promissora.)

1. Anda no ar e quase na cara da gente, espaço público configurado pelos media, uma zanga intempestiva entre o ME e os dirigentes das centrais sindicais ligadas à educação, como anda a circular aí pela casa da gente, espaço real da internet, uma circular a reclamar contra a consideração da avaliação docente nos concursos de professores. Ou seja, vieram ao de cima os resultados das aclamadas «negociações» que puseram fim ao «clima de nervosismo e instabilidade» nas escolas. Está visto o que significou negociar: montar um cenário de equívocos. Ou os negociadores do Estado prometeram o que não podiam prometer, ou os dirigentes sindicais concluíram o que não podiam concluir. A luta deve travar-se apenas entre eles. A sairmos à rua, deverá ser para responsabilizar quem montou um cenário de aparências.

2. Todos os anos a escola me faz repetir estas ideias peregrinas de começar de novo, de procurar a luminosidade das ideias e de ter confiança no futuro. O meu dilema é precisamente este: como construir o conhecimento e como ensinar os alunos a suspeitarem de quanto vão conhecendo?

3. Leio que o meu país pode estar à beira da falência e amanhã tenho aulas, tenho trabalho, tenho compromissos. Ouço os políticos e pasmo com tanta serenidade. Abro a televisão e o espectáculo continua.

4. Aceito sem reclamação a tolerância de ponto por causa da visita do papa Bento XVI: os alunos carecem de bons motivos para voltarem a ser anjos luminosos!

sábado, abril 10, 2010

Voltando às palavras como pedras...


(Fotografia tirada por meu irmão António, na Rua do Anjo, em Braga, no decorrer da procissão do «Ecce Homo» - os fogaréus iluminam a noite, ou seja, são a pequena luz nas trevas.)

Volto ao tema, aqui trazido pelo comentário ao meu último artigo, comentário esse que se interroga sobre se a exigência de «ser o melhor» está inscrita no espaço público contemporâneo, concretamente na escola, mas aqui já o comentador passou de «ser melhor» para «dar nas vistas».

Eu não creio que esta exigência faça parte da sociedade do espectáculo, ou seja, no espaço público contemporâneo não descubro a presença de uma ansiedade de ser melhor, de ser mais profundo, de ser mais reflexivo, de ser mais descobridor ou mais criativo, mas sim, e antes de mais, descubro a exigência de «ser mais visível». A exigência de «ser melhor» opera nos limites morais íntimos de cada ser humano e quando se exterioriza, manifesta-se em resultados que nem sempre obrigam os outros a notá-los. Hoje, concretamente na escola, por força destas lógicas de liderança individualizada e de apresentação de dados exteriores positivos, a existir, ela aparece, de facto, transmutada na exigência de «ser o mais visível». O problema começa então em saber se à visibilidade corresponde a qualidade intrínseca ou extrínseca de ser melhor. Não creio. Pego no exemplo da violência escolar, no caso da morte do professor de música, até para comentar uma pequena passagem da entrevista recente feita ao professor Daniel Sampaio (já pode o leitor começar a ver a minha visibilidade de implicação).

Toda a visibilidade contemporânea visa desculpar, compreender até ficar sem razão para julgar. Dar nas vistas é em primeiro lugar arranjar uma explicação que não traumatize. O professor de música deixou escritas palavras acesas sobre o seu sofrimento. O seu acto de pôr fim à sua vida, deixou-o ele inscrito violentamente na sua situação escolar: o seu grito, a ser ouvido, dever-nos-ia comprometer com a compreensão da sua «doença». Ora, e deduzo que é isto que DS quis dizer, a sua doença é um obstáculo à sua comprensão. DS torna-se mais visível do que eu, e do que todos os que quiserem compreender a tragédia pessoal daquele professor, ao retirar-nos precisamente o argumento da doença: o professor era um doente, andava em tratamento psiquiátrico, já tinha 50 e tal anos... logo, a associação entre o ambiente escolar e a sua morte não pode ser feita. Se formos atrás das explicações para outros problemas, como o caso da morte do jovem Leandro, vamos encontrar esta mesma «razão da visibilidade», uma espécie de razão estratégica da sociedade do espectáculo: fazer aparecer uma explicação que não traumatize ninguém, nem a vítima, nem o carrasco, nem a assistência.

domingo, abril 04, 2010

O apedrejamento que as palavras são.

Corre um apedrejamento de palavras contra a Igreja, contra o Papa, contra os Bispos, contra os Padres, por causa da pedofilia ou tendo este problema como razão mais óbvia. Quem se opõe ao apedrejamento dos pedófilos tem dificuldades em perceber tanto ódio contra os prevaricadores, mesmo sabendo que alguns possam estar dentro da Igreja, ou ter estado dentro dela. A pedofilia, como a violência, como a guerra, como outras actividades humanas que definimos dentro das «práticas do mal», carece de uma tipologia e de uma reflexão, para além da literatura e para além do cinema, mas também não sou eu quem a vai fazer. A Igreja, enquanto mistério do Divino que os humanos interpretam, foi sempre conhecedora de todo o mal e de todos os males. Talvez seja ela, através dos seus emissários, a primeira instituição do mundo a conhecer todos os pecados que os seus discípulos fazem ou que os seus discípulos vêem fazer aos outros. Querem agora alguns que a Igreja, através do seu Pastor, vire uma central de informações, uma Secreta, ao serviço de pretensos juízes da humanidade. Aqueles que por conveniência do entendimento humano lembram à Igreja que ela já foi Inquisição, querem agora que ela volte a esse regime de torcionários. Alguns bispos e padres vão pedindo aqui e ali desculpa por pecados de outros, numa precipitação de fuga para o interior do medo. Não tarda estaremos todos a pedir desculpa pelos pecados de alguém, aos berros, ou melhor, disputando parangonas de páginas ou de tempos de antena. Mais tarde voltaremos ao silêncio da culpa pessoal, da confissão reservada, deixando entretanto que funcione a justiça dos homens. Não creio que ganhemos o que quer que seja com a roupa lavada em público, mesmo dando de barato que há forma de lavar em público que não acabe na mais gritante forma de injustiça. Soltaram-se os demónios do nosso tempo, as pulsões e as tensões reprimidas. Não temos «médicos» suficientes a quem recorrer. Acho tudo isto, a pedofilia incluída, nova emergência sintomática da lava pulsional, um sinal evidente das fraquezas da sociedade civil e das suas instituições. Como cristão, recordo as palavras do Senhor: "aquele de vós que está sem pecado, atire a primeira pedra." A perfeição da humanidade continua a ser um terreno de esperança.