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terça-feira, dezembro 21, 2010

Sempre o Natal, com música!

O Natal é férias escolares, é trabalheira, é fuga, é descanso, é transcendência, muitas palavras e muito diferentes a quererem englobar tudo e a deixarem sempre o essencial de fora, qual seja esse essencial, também não o sei dizer, mas sinto que me escapa e que está lá, nessa camada de indizível que acho em todos os assuntos, talvez me arrisque a dizer que o essencial terá a ver com o mistério cultural que esta festa ou este período festivo acumulou no debate civilizacional ao longo dos séculos: uma coisa é termos uma festa para partilharmos bens ou sermos cooperantes e solidários, outra coisa é ter-se inscrito no nosso processo civilizacional esta obrigação de demonstrarmos a partilha e a cooperação, hoje tudo na palavra solidariedade que é mais extensa e mais indutora de significados positivos; ou talvez o essencial esteja mesmo na transcendência da mensagem divinal que esta festa quer introduzir na dimensão pessoal e social dos povos, divinal pode não ser a palavra adequada, mas com ela se quer dizer algo que se capta por outra dimensão que não só a razão ou a emoção, dimensão essa que se regista no vocábulo fé; talvez esta festa tenha o seu segredo por se radicar na infância, na nossa, na dos povos, na de Deus, na do cosmos, nesse princípio fundador que é a idade da inocência, da pureza, da plenitude de emoções e sentimentos, no deslumbramento contínuo sobre as hipóteses de futuro que um ser encerra em si mesmo. Não me vou alongar mais nesta retórica de procurar ver no Natal algo que me escapará sempre, ao fim e ao cabo é preciso não divagar tanto e regressar ao corpo físico, a este corpo que precisa de palavras e de braços à sua volta, a este corpo que não se aguenta sem trabalho nem salário, a este corpo que precisa de comer e acumulou ao longo dos séculos inúmeras estratégias de se regalar com a comida e de a transformar em objecto de todas as representações, desde a pura necessidade de sobrevivência à mais imaginosa das argumentações dietéticas para obtenção da felicidade. E é à mesa que o Natal atinge uma plenitude de requinte, algo que também me escapa, mas não vou começar a procurar esse algo essencial senão volto a emaranhar-me em círculos viciados de retórica. Desvio-me então para o trabalho, essa trabalheira contínua que o Natal implica na polis, na cidade, no campo, nos comércios, nas ruas, nas casas. Do trabalho depressa me desvio também para a fuga e desta para o descanso, duas dimensões que são ansiosamente procuradas por toda a gente, sobretudo aquela que povoa as escolas, ou seja, alunos e professores, mas por força nesta dimensão fujo logo para a minha infância e para as brincadeiras, para os brinquedos, para as prendas e não escapo à procura de saber que mistério anda aqui para o descanso e a brincadeira terem no Natal tanta força impulsiva de concretização, mas não vou procurar esse mistério, esse vício de retórica. Ah, agora me lembro, Natal é música e é música singular que só se ouve nesta quadra, que só se compôs para esta festa que só se ouve por chegar este tempo, que se procura como necessidade intrínseca de encher o tempo e o espaço. Esta música de embalo, estas melodias de encantamento é que são o Natal, estes sons que já nem precisam das palavras, mas que se entranharam em todas as conversas. Ouçam, é Natal.