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terça-feira, setembro 21, 2010

Com(o) as teias de aranha!

(A fotografia foi tirada por mim na estação dos caminhos de ferro de S. Bento, no Porto, e aqui a uso para ilustrar a acumulação de teias de aranha em tudo o que se expõe ao ar.)

E a incúria de quem administra. E o desmazelo de quem governa a casa. E a inevitabilidade do trabalho das araneae.

Quando o vento entra no átrio da estação, as teias levantam como lençol e depois voltam a cobrir o quadro, até ao limite dos braços de quem limpa.

É assim a estação e é assim a escola, é assim esta vida que se expõe ao tempo. Tudo está com teias de aranha por cima e assim se mantém. As teias são já parte do olhar.

Dizer que as teias são estratégia de quem manda não é despropósito algum. Aliás, só assim podem manter-se tanto tempo a acumular a cor. A renda aracnídea é uma armadilha e cumpre a função. Os artrópodes são um paradigma de paciência na dissimulação e no desgaste. Elas são uma aventura no caminho da gente.

Meu pai recomenda que se cortem giestas e se usem no trabalho da limpeza, umas e outras se entretecendo  até ao lume. Os hábitos são castigadores.

É bem certo que limpar teias de aranha não é mudar a realidade, mas ver limpo é uma ansiedade e só esta nos faz esperar os melhores dias. De um mural de azulejos, de um quadro, da escola!

segunda-feira, setembro 06, 2010

O regresso à escola II

Por uma visão
erótica / irónica / heróica 
da escola
(O leitor é convidado a ler as quadras e depois decide pelo adjectivo que melhor satisfaz a leitura)









No percurso escolar
Toda a cautela é um beijo
Que se troca ao partilhar
As histórias do desejo
Mas a cautela é processo
Que só arde em liberdade
No sentido sempre inverso
Ao da cega autoridade

Na rudeza do espaço
Todos os olhos são lume
Em que se queima o cansaço
Em que se ilude o queixume
Mas os olhos são espelhos
De cuidada transparência
O tempero dos conselhos
A sede da resistência

Na fulgurância dos rostos
Valem os gestos mais leves
No dinamismo dos gostos
Valem as frases mais breves
Mas os gestos são ternura
Que a razão requer presente
E os gostos são levedura
Que nos leva na corrente

Todo o trabalho é tensão
É acordo e conflito
Um rio que a sedução
Transforma em mar infinito
Todo o prazer do percurso
Está na surpresa das margens
Na solidez do discurso
Na invenção das viagens

JM / Braga / Set 2010