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terça-feira, junho 15, 2010

Sem piada!

(Aproveitei uma fotografia do jornal Correio do Minho, edição de segunda-feira, 14 de Junho de 2010)

A ideia de promover o farricoco à condição de gigantone ou cabeçudo não satisfaz os critérios da categoria. O gigantone ou cabeçudo é uma figura mítica, um sucedâneo dos deuses ou estátuas propiciatórias dos seus favores e intercessões. O gigantone requer o exagero de traços, a comicidade de movimentação e de aspecto, a disformidade e a fantasia, dimensões que o farricoco não satisfaz de todo.
O farricoco cumpre uma função muito específica dentro do ritual processional. Por sua vez, os mascarados têm a sua função específica em rituais de carnavalização. Poder-se-ia perspectivar o desfile de gigantones como concretização da carnavalização e de algum modo isso seria lógico, mas estes cumprem mais uma dimensão festiva de propiciação: associados aos zabumbas ou estrondos ou bombos, eles visam purificar o ar e o clima da festa, afastando os maus espíritos, carreando a alegria e a boa disposição. Tal como o foguetório, a bombaria e a bonecada que lhe anda associada, visam o espavento dos demónios, das frustrações e das angústias. Desta dimensão destaca-se a pilhéria, o humor, o ridículo ou exagero de pormenores, como se verifica nos gigantones que vão sendo introduzidos: diabos e mafarricos, mulheres e homens do campo, padres, bispos, reis, figuras públicas, porque é nas imagens, é no figurado, que é possível destacar os traços picarescos, catárticos e esconjuradores. Ora o farricoco não permite nenhuma dessas operações simbólicas: o tamanho não pode ser a única dimensão destacada. Nâo há exagero a recriar a partir do que é. Além do mais o farricoco só por um desvio marcadamente jacobino se pode eleger como símbolo da semana santa ou da religiosidade bracarense. Não faria qualquer sentido eleger como gigantones de uma festa figuras que se inserem na mesma linhagem de interpretação, como o exemplo extremo da figura mascarada dos Ku Klux Klan, ou noutro extremo, a figura do mascarado «terrorista» ou «revolucionário». Sob o aspecto funcional e da manipulação, constatei que o farricoco não teve a função divertida de outras personagens que com as suas extensas manápulas são até acarinhadas pela assistência. Aguardo outras leituras.

1 comentário:

Anónimo disse...

O tempo vai passando e as tradições vão mudando ao ritmo desse tempo...