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domingo, março 28, 2010

A melhor imagem que eu tenho dele!

O senhor Baudville morreu, de repente, ainda com uma idade que lhe augurava muitas viagens de serviço, na sua carrinha taxi, na Malásia. Era o condutor da Cristiana, professora de Português na Universidade de Kuala Lumpur e da Maria Liew, funcionária superior do Comércio Externo, quando precisavam de grandes serviços. Foi ele quem nos levou do aeroporto para Malaca e depois de Malaca para a fronteira com Singapura, e mais tarde nos foi buscar a Malaca para Kuala Lumpur e da capital para o aeroporto. Foram algumas horas com ele, E só tenho esta fotografia! Recordo-me bem dele, da sua filosofia de vida, do seu gosto pela música, das suas oportunas intervenções sobre os povos da Malásia e da sua admiração pelos portugueses. É tudo e é muito. Tinha um modo calmo de conduzir, por vezes parecia distraído, atendia o telefone e tomava apontamentos na sua agenda durante a condução. Paz à sua alma!

Recebi um email da Cristiana. O texto  deliciou-me, sobretudo o pormenor de o filme por ela escolhido para uma exposição sobre a nossa língua e cultura nos retratar como povo aos olhares e à memória de uma sua leitora que muito bem fala a nossa língua. A gente às vezes pensa que os outros não nos apanham os traços identitários e nós até pensamos que mudámos muito nos últimos anos. Ironia. A Raan é uma jovem e o filme já é do tempo de meus pais que vão nos oitenta e tais

«Agora estamos a preparar a International Week, para as 8 línguas apenas de opção, da faculdade, exposição e filmes. (...) Depois de muitas considerações acerca do filme a mostrar (tem de ter legendas, não pode ter sexo nem palavras com F), tive de mudar 2 vezes, e vou agora mostrar "A Canção de Lisboa". (...)
Decidi-me por esse filme depois de a Raan Hann ter dito, ao ver as primeiras cenas: 'É mesmo assim que os portugueses são!'. Lembras-te da Raan Hann? Almoçou connosco na véspera de tu e a Ling Hooi irem, é aquela que fala português, fez um mestrado pelo Erasmus, na Europa, passando por Portugal. (...) Pediram-me filmes, para ver como agimos, etc, levei esse da "Canção de Lisboa", e foi mesmo engraçado ouvir a Raan Hann comentar, logo no início, 'É mesmo assim que eles são...'».


Esta foto foi tirada no gabinete da Cristiana, na Universidade de Kuala Lumpur.

No próximo mês de Maio virá a Portugal um dos animadores culturais mais famosos do Bairro português de Malaca, o joão Bosco Lázaro, ou Papa Joe como é mais conhecido. É também um músico, tal como o Noel Félix, mas tem a particularidade de ser um intérprete local das canções portuguesas, em português. Nos espectáculos com o seu grupo de folclore faz sempre questão de cantar canções como, por exemplo, os fado de Coimbra "Samaritana" ou "Igreja de Santa Cruz", e outras. É autor, entre outras cantigas, de um curioso "Vra di Bairu Português", cuja letra aqui deixo:

Vira di Bairu Português, de Emanuel Bosco “Joe” Lazaroo, Bairro Português de Malaca.

1. Já fiká na Bairu Português
Sa jenti gostá alegrá
Beng San Juan, San Pedro,
Tudu lembrá
Fazé isti dia alegria

Beng nus kantá, beng nus bailá
Vira di Bairu Português (2x)

2. Jenti di Bairu Português
Traballá na terá ku mar
Gadrá dinyro
Per isti ungua dia
Alegrá ku mulé família

Beng nus kantá, beng nus bailá
Vira di Bairu Português (2x)

3. Jenti di Bairu Português
De sperá dia di Natal
Tisé sibrisu
Per isti ungua dia
Alegrá fazé alegria

Beng nus kantá, beng nus bailá
Vira di Bairu Português (2x)

sexta-feira, março 26, 2010

Amanhã é outro dia

Amanhã é outro dia
Eu vou lá estar
No gume do tempo que a manhã abrir
Levarei de fantasia
O mesmo ar
Que me expõe a voz e ma liberta a rir.

segunda-feira, março 15, 2010

Proposta e pêras!

Li na revista do jornal Público deste domingo e fiquei deslumbrado: Daniel Sampaio propõe o caminho único para a abordagem da violência na escola, agora dita sob o conceito de bullying: formar uma comissão para estudar o problema: um professor, um representante dos alunos, um representante dos pais e um representante dos funcionários. Cabecinha pensadora!

quarta-feira, março 10, 2010

Temas e problemas

(Esta fotografia, tirei-a ao Parque da Ponte, em Dezembro último, após a requalificação levada a cabo pela CMB, sob a direcção do arquitecto Sérgio. Uso-a como sugestão de toda a exterioridade escolar.)

1. Temas e problemas é título da 6ª unidade didáctica do livro de Português do 6º ano. Todos os textos lidos se prestam à compreensão desta distinção entre tema e problema. Durante e após a leitura do texto «O regresso», de Ilse Losa, vimos o filme «A Lista de Schindler», matéria da próxima ficha de avaliação.

2. Li recentemente uma tomada de posição da Confap, confederação das associações de pais, sobre a escola a tempo inteiro e li recentemente também uma tomada de posição sobre a mesma matéria do professor Daniel Sampaio, em ambas tendo notado o mesmo enviesamento de ponto de vista no que toca à defesa daquela prerrogativa da escola, mas estranhando demais que o psiquiatra tivesse feito simultaneamente a apologia da escola a tempo inteiro e o ataque à escola como armazém de jovens, uma síntese contraditória que não percebi de todo. Falei de enviesamento de perspectiva no que toca à junção de argumentos para a defesa da escola a tempo inteiro, porque eles praticamente se resumem a um que é o de postular que os pais hoje não têm tempo para ocupar os filhos e então, por razões particulares de trabalho, ou separação, ou divórcio ou divisão de papéis, precisam da instituição escolar para lhes manter os filhos ocupados. O psiquiatra argumentou no seu texto que também seria preferível que os pais reclamassem junto das empresas mais tempo livre para se ocuparem dos filhos, mas não se lembrou das associações, nem das paróquias, nem dos movimentos de jovens, nem das organizações culturais e desportivas, nem de mil e uma entidades particulares e cooperativas que organizam programas para ocupação dos jovens.

3. A violência, tema recorrente, com inúmeros problemas a revelá-la e a configurá-la. Ainda tenho para mim que a abordagem mais produtiva é aquela que encara a violência como dimensão do humano, para já não dizer dimensão do divino - o tal deus violento da bíblia - e a partir daqui encara também a perspectiva de o homem se preparar para a exercer, para a controlar, para a suspender, sem se deixe enredar nos «ismos» de toda a espécie que a praticam.

4. Toda a problemática que tem estado em foco nesta história do caso do aluno de Mirandela me vem fazer notar que a escola, por ter sido sobrecarregada de funções, se tornou um espaço privilegiado da violência juvenil, o único espaço onde se descarregam as emoções, logo o único espaço de interacção conflitual. A escola em si está a entrar demais na linguagem dos jovens, a escola está em tudo e toda a gente a quer meter a fazer tudo. Faltam outros espaços para se diluírem os constrangimentos, faltam outras ocupações, porventura algumas delas, como o desporto e todas as actividades de interacção social, mais propiciadoras da libertação de energias e de destemperos humanos. A Escola a tempo inteiro está-se a pôr a jeito para ser bode expiatório, até porque, e chamo a atenção para este aspecto da questão, a escola não tem a capacidade de competir, em liberdade de expressão no espaço público, com outros meios ou sujeitos que a desafiem, a questionem ou simplesmente a queiram ouvir. É e corre o risco de ser cada vez mais um espaço de encenação.

segunda-feira, março 01, 2010

Para um lenço de namorados










No cruzeiro do Senhor
Se fará nosso caminho,
Como o campo cria a flor,
Como a ave faz o ninho.