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domingo, janeiro 17, 2010

O acordo imprevisto!


É sempre possível que uma mesa posta possa ser aquela condição imprescindível para um acordo entre partes. É sempre possível, e esta mesa refere-se à apresentação à imprensa de Braga e do Minho que a Feira do Fumeiro de Montalegre fez na Casa de Trás-os-Montes, em Braga, no dia 15 deste mês. Eu não estive lá, mas aproveito a fotografia para agora falar de outras coisas.

Que dizer do recente acordo entre o Ministério da Educação e os principais sindicatos da Plataforma Sindical que estavam em luta contra o processo de revisão do Estatuto da Carreira Docente e contra o modelo de avaliação avançado? Quando a sensação que tenho é a de que as partes sindicais abdicaram por cansaço e deixaram cair a toalha no momento crucial do combate, pouco mais devo acrescentar. Haverá razões que a razão desconhece? Pode ser que sim, não me atrevo a especular, a menos que avance uma hipótese plausível: a crise social vai acentuar-se, vai arrastar uma crise política e em 2012 tudo estará com outra configuração. Se isto não ocorrer e o país continuar como vai, então não sei o que é que terá forçado as partes a entenderem-se. E digo isto porquê?

Ora vamos lá a ver: os sindicatos estavam contra a divisão arbitrária da carreira dos professores em professores e professores titulares, coisa que deixou de existir, caiu de facto e aí houve um ganho e um avanço, mas os sindicatos não cuidaram de negociar as consequências favoráveis e desfavoráveis que o «ser titular» gerou neste processo!

Mas os sindicatos estavam também contra o modelo de avaliação, incentivaram a luta contra ele, incentivaram a não entrega de objectivos, incentivaram a não solicitação de aulas assistidas, e acabaram por ceder: aceitaram a funcionalidade do tal simplex ou modelo reduzido de avaliação que penaliza precisamente quem não solicitou aulas assistidas e por isso nunca poderá ser avaliado neste ciclo de dois anos passados com excelente e muito bom, por mais que tenha cumprido e trabalhado em prol da escola e dos alunos e das burocracias ministeriais. Mais, os sindicatos acabaram por aceitar que a atribuição de muito bom e excelente, seja em que patamar for da carreira, requer o pedido expresso de aulas assistidas, o que é manifestamente uma reviravolta na luta dos sindicatos.

Os sindicatos estavam radicalmente contra o sistema de quotas para a progressão na carreira e argumentavam que um professor com avaliação de Bom deveria poder chegar ao topo da carreira. Então porque aceitaram mecanismos de quotas em dois momentos de progressão na carreira, no 3º e no 5º escalão? Os sindicatos contrariavam a metodologia de escolha dos avaliadores e essa parte foi-lhes de facto dada, mas a troco de uma burocracia que dificilmente vais ser sustentável nas escolas, em termos de organização e de isenção.

Para além do mais, no memorando do acordo não se fazem referências a aspectos particulares da carreira que também estavam implicados, como a defesa de outro modelo de gestão das escolas, como a clarificação definitiva de situações promíscuas quanto a estar ou não nas escolas e ter ou não ter componente lectiva, como a situação de um órgão de gestão denominado conselho geral, como a entrada na profissão de professores contratados provisoriamente e que vão acumulando anos de serviço na ocupação de vagas sempre provisórias. Houve de facto qualquer coisa que me escapou.

Eu, até por pertencer a uma organização sindical que assinou o acordo, sinto-me de facto surpreendido com a facilidade e a ligeireza de resultados, mas pronto, como se disse e dirá, há mais dias para continuar a lutar por melhor vida, se esta assim continuar a ser o que é. Na prática, serei prejudicado em termos de acesso a um escalão que, também com alguma surpresa, apareceu a coroar a carreira, o que, nos casos como o meu, acaba por ser a negação da progressão por mérito que vinha perseguindo e que fui recebendo. Não se pode ter tudo, dirão alguns. Pois, mas agora, arrumada a luta de rua nos tempos mais próximos, é que se vai ver no que isto vai dar.

Continuo a achar que o modelo de avaliação proposto é mau e agora ainda por cima fica com uma história de dois anos verdadeiramente atribulada a manchar a sua fraca qualidade; considero que o ME não fez qualquer esforço de introduzir na carreira docente uma diferenciação positiva, quer em termos de acesso a certos cargos, quer em termos de remuneração provisória durante o exercício de chefias específicas; considero que continuam a patinar aquelas argumentações simplistas que querem comparar escolas a empresas e professores a soldados, pois, nas circunstâncias actuais de exercício da profissão, no ensino básico, a lei de bases ainda determina o que somos e como somos.

Em jeito de síntese, vamos então tratar agora de cozinhar com os ingredientes que temos à mão. O futuro não é muito promissor, mas cá nos havemos de defender.

4 comentários:

gracinda disse...

Que dizer?
Supremíssimo , issimo...cansaço!
Gracinda

Anónimo disse...

Já divulgadas as notas da primeira avaliação dos profs, eis que começam as reclamações às desigualdades do sistema.
Afinal não sabemos as regras do "jogo"; uns são avaliados de uma maneira e outros de outra maneira: ou seja uns obtêm "Bom" com 7 valores, outros com 8 e até com 10. Afinal há muitas maneiras de ser "bom" no ensino.

luis tavares disse...

Por José Machado só podias ser tu.
Um abraço!

luis tavares disse...

Fomos colega na Diogo Cão!
Por acaso fui Delegado Sindical.
77/78?