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segunda-feira, janeiro 04, 2010

Estamos em 2010


Estamos em 2010. Se for um ano difícil, oxalá tenhamos a clarividência de saber reagir e superar as dificuldades; se for um ano de facilidades, oxalá saibamos conter-nos e melhorar o nosso bom senso. Não sou oracular, mas acho que esta forma de acautelamento dá para tudo. O mais será de nossa vontade e de nossas capacidades. Diziam os meus treinadores de ténis, todos o mesmo, ou seja isto, que o treino deve ser intenso para desencadear automatismos de resposta em situações esperadas e não esperadas. Ora destes automatismos de resposta não saberei dizer de quais precisaremos, mas tenho para mim que um dos treinos que pode levar a eles é o do estudo e o da boa leitura dos sinais que vamos recebendo.

Num dos últimos posts deixei no ar a promessa de falar das minhas catequistas e agora até vem a matéria a propósito. Uma ensinou-me de cor a doutrina, pela motivação dos recitativos e pelo seu treino em voz alta, cadenciada e coral. Toda a doutrina na ponta da língua, pouco ou nada entendida, que alguma também não se ajustava à idade, era assim que se exigia e se fazia. Outra catequista ensinou-me a compreender a bíblia, ilustrando as situações com exemplos, fazendo de conta em nós e nos outros, projectando para nós e para outros. A D. Margarida Lencastre era um encanto de senhora, jovem lindíssima, educadíssima, com uma voz toda de ternura e de persuasão. Não sei que dizer dela que não seja superlativo, nem sei resguardar dela outro retrato que não seja o da mulher completa, senhora, deusa, fada, musa inspiradora. Pois é, muita gente se há-de perguntar como foi possível que numa empresa mineira se pudesse encontrar tanta beleza e tanta pureza de sentimentos e de acções numa só mulher, mas eu tive-a na minha infância, foi o sol dos meus dias e mantém-se em mim com toda a aura de encantamento. Com os métodos dela contrastava seu marido, de quem temíamos ainda ele viesse longe, que nos incutia respeito e paralisia de membros caso ralhasse ou nos chamasse para perguntar o que quer que fosse e às vezes era só para saber onde estava meu pai. O leitor até poderá confirmar o que digo num livro recente que D. Sebastião de Lancastre escreveu (agora escrito com «a» pois toda a minha vida julguei que fosse com «e» e até o julgava herdeiro dos nossos reis), livro esse com o título Histórias de uma vida, SSL - Marketing Relacional, Lisboa, 2008.

Nesse livro das suas memórias, D. Sebastião (e D. porque de facto diz que tem direito a usá-lo na forma de tratamento) diz que os melhores alunos que passaram por sua esposa, nas Minas de Jales, aderiram depois do 25 de Abril ao MRPP, movimento da extrema-esquerda que depois se fez partido e que ainda resiste no espectro partidário português. Pois sim, foi verdade com alguns e eu fui um desses e se houver de procurar coincidências entre ter militado nesse movimento ou partido e ter sido aluno em catequese de D. Margarida de Lencastre eu só encontro como traço comum um ideal de perfeição e de beleza, por incrível que isso possa parecer ao mais pintado leitor. Sim, a gente adere por vezes a teorias de radicalidade extrema à procura de um ideal, à procura de um travejamento sem mácula a partir do qual se possa encontrar um rumo. Ora em matéria de comunismo, nesse tempo o ideal era rejeitar os revisionismos em que andava o partido comunista português e procurar o ideal de pureza perdido. A explicação não convence, eu bem sei, nem preciso que mo digam porque eu próprio o verifiquei, mas a haver alguma só pode ser deste teor.

A senhora D. Margarida de Lencastre ainda é viva e ao longo dos seus anos esteve envolvida com igual fulgor em projectos de História e de Património. A ela fiquei eu a dever uma pedagogia da catequese, uma pedagogia da palavra que me maravilhou e da qual guardo as mais vivas percepções de utilidade pela vida fora. Estou a vê-la à porta de sua casa, onde lhe fui levar um presépio dentro de um castelo de cartão com uma manjedoira feita pelo Lucas, meu colega e amigo de infância, que era um primor de carpintaria. Mas desta manjedoira e deste amigo falarei um dia.

3 comentários:

Anónimo disse...

Nada melhor para começar o ano 2010como ir ver nevar na encosta do Sameiro e aproveitar para brincar na neve! Para a alegria de graúdos e miúdos!

Comunidade Luso-descendente em Malaca disse...

Amigo . A neve lembra-me a paz, quem me dera poder sentir neste momento um pouco de frio...

Só nós é que sabemos.

Espero ver-te em breve.
Até lá desejo tudo de bom.

BONG ANU NOBU *

Toda a gente sente a tua falta aqui em Malaca.

Anónimo disse...

Que texto tão bonito que fez quase chorar toda a minha familia, sobretudo eu e os meus irmãos mais velhos que viveram nas minas de jalões e tiveram a sorte do mundo de serem os filhos da margarida de Lancastre.
Gostava de o contactar para saber mais sobre as suas histórias onde vivo os primeiros 5 anos da minha vida
aqui fica o meu contacto
Pedro_lancastre@hotmail.com