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domingo, dezembro 27, 2009

Depois do Natal


O dia seguinte ao do Natal era dia de regresso à normalidade da vida, pois que o dia anterior, o 25, esse fora para mostrar as novidades, fossem presentes de Natal na forma de guloseimas, fossem na forma de calçado ou roupa ou outros bens, como relógio, cinto, suspensórios, brincos, pulseiras, fios ou anéis, ou na de jogos, livros ou outros objectos como piões e jogadores para a colecção de caderneta. Regresso à infância e vejo-me a pôr com meus irmãos uma bota bem aberta junto do presépio, na noite de consoada, já comida a ceia e já feita a festa. Na madrugada seguinte haveríamos de ver o que o Pai Natal pusera e iríamos para a cama, eu e meu irmão, fazer as contas, que nossas irmãs faziam-nas numa delas. Quando éramos quatro, depois, cinco, seis e sete ainda me lembro deste costume, depois aos oito e nove já não o vivi do mesmo modo, pois o sapatinho passou ao recheio invariável: umas meias e um lenço da mão, recheio que ainda hoje se mantém, que faço mesmo questão que não mude enquanto meus pais puderem e tiverem a vontade de nos encher o sapatinho. Eu próprio dou de conselho este recheio a amigos quando mo pedem, é útil, é prático e tem o condão de avivar a memória sempre que a gente se assoa ou se calça, coisa que é frequente e por isso mesmo assegura aos progenitores a nossa eterna gratidão e memória. Durante muitos anos e ainda hoje rimos com as prendas guloseimas, na nossa primeira infância rebuçados de meio tostão, confeitos coloridos, chocolates pequeninos, cigarros de chocolate, tabletes fininhas e pequenas, tudo coisas que víamos depois na loja do senhor Manuel de Vila Pouca, ou no Bar do Sporting Clube das Minas de Jales, ou na loja do senhor Joãozinho, enfim, naqueles lugares onde íamos abastecer a casa de qualquer precisão ou procurar o nosso pai quando ele se atrasava a chegar a casa para jantar, sobretudo ao Domingo, como era o caso da ida ao Clube, lugar onde havia televisão, bailes, jogos de cartas e de matraquilhos e de pingue-pongue e onde se bebia. Meu pai era quase sempre dirigente do Clube, em qual dos órgãos não sei agora precisar, mas soube-o dirigente e mandador durante muitos anos, bichinho que depois também tive.


No Clube das Minas de Jales, um dos primeiros Centros de Tempos Livres criado pela empresa e depois integrado na FNAT e de pois no Inatel, havia uma biblioteca donde meu pai me trazia histórias desdobráveis, e onde logo eu comecei a ir buscar livros mal aprendi a ler. Eu achava aquela biblioteca fantástica, onde os livros estavam misturados com as taças e com as fotografias das equipas do Clube, os jogadores da minha terra, vestidos à Sporting, listas verdes e brancas na horizontal. Os livros eram apontados num livro com data de saída e de entrega. Ali iam outros rapazes, um deles, o Macedo, ávido leitor de policiais, uma colecção enorme que ele devorou de fio a pavio. Outros livros, como histórias aos quadradinhos tinha-os o Jorge Rua, que lhe pedíamos emprestados a troco de qualquer guloseima ou por amizade. A leitura do almanaque das missões, que minha mãe vendia por ser propagandista da Acção Missionária recebendo para isso, ali por Outubro ou Novembro, uma carrada de calendários, agendas e almanaques para vender, era uma das minhas favoritas, mais a cruzada, revistinha de poucas páginas que também aparecia por minha casa e onde eu lia histórias de heroísmo e de resistência ao mal e aos maus. A bíblia ilustrada foi outra das leituras que mais apreciei em pequeno, mas essa motivação já foi da responsabilidade da minha catequista de bíblia, que não da catequista de doutrina. Eu explico: nas Minas de Jales tive, antes de fazer a primeira comunhão e a solene, tive duas catequistas, uma na capela para me ensinar a decorar a doutrina e outra numa das casas da empresa dona das Minas onde D. Margarida de Lencastre, a esposa do engenheiro patrão residente, de seu nome D. Sebastião de Lencastre, nos explicava a bíblia de uma forma até hoje inesquecível.

5 comentários:

Unknown disse...

Caro Professor, depois de um Natal bem passado em família, a julgar pela sua pena e máquina fotográfica, desejo-lhe um feliz Ano Novo, cheio de saúde.

Um abraço de amizade sincera

José Carlos Ferreira

gracinda disse...

Belas memórias, Zé, que fazem de cada natal um momento de muitos natais tão bem passados! Um ano de 2010 com saúde para todos.
Gracinda

Anónimo disse...

Diz a sabedoria popular, que o "Natal é quando um Homem quer", na verdade só o dia de Natal tem esse encanto próprio.
Nos textos fala-se da "magia" do Natal... essa magia é a que está presente no coração dos que partilham esse momento tão especial que é o Dia de Natal.
Bom ano 2010.

Guerra disse...

Boas Festas Zé.

A nossa terra era assim, bem me lembro, embora tenha saído cedo. Mas escreve, tenho um carinho muito especial e sempre que por lá passo e posso dou uma volta pela Saissa. Quantas recordações.

Um abraço

"Zeca" Guerra

Anónimo disse...

Zé, desejo-te um ano de 2010 com muita saúde e criatividade.
Espero que te divirtas com a passagem do ano, mas que não te fique tão dispendiosa como as couves!...
Bj
Teresa