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segunda-feira, outubro 12, 2009

Respira fundo e sobe à torre!

Aqui estamos nós, eu e a Joana Liew, com óculos para vermos a três dimensões o filme sobre a realidade da construção das torres Petronas, em KL, na Malásia, como se andássemos suspensos no ar em voo picado e contra-picado. Os arrepios e as vertigens fazem parte dos óculos, é preciso tomar isso em consideração.

O pretexto dos óculos é o de ver agora esta realidade que sobrou após três actos eleitorais, os tais actos que tinham sido arrepiados pela promessa de não votar no partido do poder, em consequência da guerra aberta entre professores e ME, conflito cerimoniosamente enraivecido por circunstâncias várias. Está o saco despejado e roto de si próprio: deu no que deu, em quase nada que pode ser quase tudo: ou agora quem governa dá o golpe de asa da clarividência de estratégias, ou pega-se de novo à turra e à massa com quem o desconsidera. Acontece que um professor tem de o ser e sê-lo implica sempre uma renovação de propósitos, um acrescento de valor aos passos dados, uma declaração de amor à esperança.

Estava eu hoje a abordar o conteúdo dos pronomes pessoais, sujeito e complementos que são de muito fraseado, quando um aluno, destes que o destempêro da casa já formatou, me disse claramente «cale-se lá com isso». Estando eu tão animado comigo e com eles, com a matéria e com os exemplos, vi-me do avesso e tive a vertigem da descida. É daqui para baixo que não quero descer mais, e daqui para cima é que não vejo como subir, salvo se esquecer o incidente por conta das diatribes de um mal-ajuizado garoto de 11 anos, tão desbocado e atrevido. Outro, por exagero de atitudes, conversas pegadas e desconsideração de palavras e gestos, tive de o mandar sair da sala e ir conversar com o executivo; soube depois que tinha recolhido lixo na escola, colaborando na limpeza do recreio. Há dimensões que os óculos já não me trazem nem asseguram. Mas tudo segue para o saco das regras e para a levada da cidadania, zonas temáticas que agora enchem as escolas como areia movediça.

Feito o intervalo do caso concreto ou anedótico, volto à linha da reflexão com óculos bifocais de dimensão linerar: se houver ódios entranhados, as zangas são adiamentos de prazo, tarde ou cedo, alguém pega em armas de maior calibre e o voto não é necessáriamente a melhor catarse da discórdia, perdido que fica numa gestualidade individual, nem mole nem dura, caótica e, quando partilhada, perfeitamente agónica do optimismo. Somos assim, para evitar um deus menor seguimos o rasto de rasqueiros diabos e nem sempre somos felizes com as companhias.

Desta pequena viagem que fiz em Setembro à Malásia trouxe a ideia de um pensamento gozoso, empenhado por certo e balizado, mas colorido de circunstâncias e atento a devaneios de leitura. Vou ver até quando!

1 comentário:

Anónimo disse...

Começar o ano lectivo ao som(simulado!) de uma "G3" ao fundo da sala tb é agora uma realidade! Eu bem sei que para o ME (e outros) os profs são um alvo a abater mas nós ainda fazemos falta no sistema...
São as "brincadeiras"/"ameaças" do jovem que não quer trabalhar medir forças e chamar a atenção do adulto para lhe estragar a aula, porque depois já não é só o som de uma "G3" são duas.
Com essas e com outras, foi o suficiente para mover EE, psicologa, assistentes sociais, mediadoras...