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segunda-feira, setembro 21, 2009

Projecto Malaca XI - Singapura

(Foto que mostra o Palácio do Governador de Singapura. Os espaços verdes que o rodeiam são um campo de golfe, para funções diplomáticas, claro está, penso eu.)




Peço desculpa aos leitores por não ter postado nada nos três últimos dias. Estivemos ausentes do Bairro Português, fomos passear até Singapura, esse estado-nação-cidade que fica aqui mesmo ao lado, ou seja, após umas quatro horas de viagem para lá e cinco no regresso, todo feito no mesmo autocarro, mas com problemas de tráfego, porque hoje e amanhã são feriados. As formalidades de fronteira foram mais demoradas à ida do que à vinda, deu para notar a diferença de estilos de organização dos países de um lado e do outro, deu para ver o gigantismo crescente da cidade, a sua arquitectura de arranha-céus, a sua ocupação do solo, a sua limpeza, a sua organizadíssima rede de transportes, a amabilidade de taxistas e de toda a gente contactada para isto e para aquilo.
(Fotografia que traduz, penso eu, a metrópole de arranha-céus que é Singapura; foi tirada do barco, passeio que se dá no rio para espanto de olhos e abertura de bocas: os contrastes são todos de arquitectura.)

O comércio está em toda a parte, os centros comerciais colam-se uns aos outros e fazem autênticos corredores de ar condicionado, daí a sua ocupação permanente. Mas se dentro tudo parece cheio, fora a sensação é igual, como vimos na china town e na little india, que de pequena não mostra nada, pois é uma acumulação continuada de «desordem« organizada, uma acumulação de cheiros e uma autêntica interacção de sensações. Houve passeio no rio, houve ida às zonas dos bares que são quase todas as ruas, houve ida e experimentação de restaurantes, comida vietnamita, chinesa, indiana, americana, houve conversas formais e informais, as primeiras na Associação euroasiática, edifício que é gerido pelos associados descendentes de europeus e cruzados com os outros povos, associação onde pontuam descendentes de portuguses, com um grupo folclórico também, à semelhança dos de Malaca e de Macau. Vimos alguns minutos de ensaio em sala de fazer inveja a todos os que praticam estas danças, pois tinha ar condicionado e espelhos ao fundo, soalho flutuante, um luxo, mas bem aproveitado. A minha pretensão de ver um espectáculo de ópera de rua chinesa não se concretizou porque não havia nada organizado, também se gorou a minha busca por um livro de lendas e histórias da Malásia, Singapura e Burnei, mas tudo correu bem e o passeio de três dias compensou a megatrópole que nos obrigou a proezas de pescoço.
Existe uma escultura (ver foto acima) que traduz bem a evolução e o desejo dela: de um lado, interior da ilha, está a construção arquitectónica da megaciodade, do lado de fora estão pequenos quadros da Singapura marítima, piscatória, comercial, urbana e rural, mas naquela escla que o século XIX e mais de metade do século XX cultivaram como nostalgia do progresso.
Dizem que Singapura é a cidade das multas e será, dizem que é uma ditadura e será, dizem que o indivíduo se sente abafado e sentirá, mas quem lá passeia e vê as pessoas e fala com quem tem necessidade de falar, desde taxistas a logistas, desde empregados de restauração a pessoas amáveis, desde guardas de museu a polícias, quem lá passeia, dizia eu, fica com a percepção de bom viver e feliz organização social. Mas isto é sempre asssim, até um lençol pesa na cama quando se não gosta dela ou não se tem sono por qualquer motivo.

Agora aqui vai um soneto que me saiu na Eurasian Association e que me andava a mastigar as ideias desde que aqui cheguei e ouvi falar português.

No Bairro Português ouvi a voz
De meus antepassados destemidos,
Em danças e cantares agora unidos
Num voto de futuro a todos nós.

O tempo acumulou muitos sentidos,
Pressões e compromissos de vontade,
Vincando sempre o dom da liberdade
Na busca dos recursos pretendidos.

Preservam-se as raízes da mistura
E criam-se outros modos para as ver
Em casos de confronto ou de ternura.

E assim vamos seguindo dia-a-dia
Com outros a fazer-nos companhia
Na arte e no engenho de viver.

José Machado/Singapura/2009

1 comentário:

gracinda disse...

Bom dia Zé
Na verdade fiquei perplexa com a ausência, mas na escola o Faria disse-me o motivo e, o motivo foi bom.Tens os olhos e a cabeça cheios e, isso é bom...
abraço amigo
Gracinda