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quarta-feira, julho 08, 2009

23º aniversário da Casa

Dia 11 de Julho, a Casa de Trás-os-Montes em Braga celebra o seu 23º Aniversário.

Ano após ano, às instituições, como aos indivíduos, compete a celebração do aniversário, não só por dever de vigilância sobre o seu desenvolvimento, mas também por prazer ou diversão sobre si. Uns preocupam-se com a idade e outros mofam dela, uns sentem-na como peso, outros como alívio, A uns dá a idade forças e projectos, a outros devaneios e ilusões. À Casa, a uma casa de transmontanos e alto durienses fora do torrão natal, a idade traz sempre a evocação nostálgica da diáspora, essa partida da tribo para outro território ou a simples saída do indivíduo para outros povoados.


O programa deste ano fica concentrado no dia 11,
Sábado:

10.00 Horas: içar da bandeira e cantar do Hino Nacional, na Casa;
11.00 Horas
: Romagem ao cemitério de Monte D’Arcos: homenagem aos associados falecidos e seus familiares;
18.30 Horas
: Missa na Igreja de Santo Adrião;
20.00 Horas
: Jantar na Casa: a magia da reunião à volta da mesa, com seguimento de sobremesas:
1. Evocação de Miguel Torga (discursos e tomadas de posição literária)
2. Actuação do grupo de danças orientais (um grupo de meninas que ensaia na Casa)
3. Actuação do grupo de
cavaquinhos da Casa (a prata da Casa)
4. Apresentação do Grande Cancioneiro do
Alto Douro, obra em 3 volumes, com a presença do seu autor Altino Moreira Cardoso.

5. Bolo de aniversário e champanhe

Sobre esta obra, elaborei a síntese que enviei para a imprensa local:

A Casa de Trás-os-Montes orgulha-se de apresentar o GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO, de Altino Moreira Cardoso – dia 11 de Julho, às 21.00 Horas, no âmbito das actividades de celebração do seu 23º aniversário como Pessoa Colectiva de Utilidade Pública.

Altino Moreira Cardoso está hoje aposentado, mas continua a ser músico e professor de filologia românica, atributos que os anos consolidaram como recursos imprescindíveis para esta obra de recolha, transcrição, comentário e estudo das músicas e das poesias cantadas no Douro, provenientes da tradição oral ou desenvolvidas por músicos amadores, populares na fruição e no consumo desta linguagem universal que é a música.

O GRANDE CANCIONEIRO DO ALTO DOURO é formado por 1.150 cantigas (músicas e letras), em 3 grandes volumes, todos com 640 páginas, num total de 1.920 páginas.

  • O I Volume contém cantigas da vinha, no âmbito do que podemos chamar a canção popular, vocal e instrumental, com função coreográfica quase sempre implícita, mas podendo também variar para o fado ou a cantiga narrativa.

  • O II Volume contém músicas do repertório das Tunas, cantigas e canções do ciclo do Natal e próprias de «embalar» as crianças, romances, cantares religiosos, canções de trabalho e cantares á desgarrada ou ao desafio.

  • O III Volume contém estudos de interpretação literária e musical, ensaios de carácter histórico e geográfico, informações etno-antropológicas, notas de enquadramento funcional e espacial.

O autor privilegia linhas de interpretação:
a) Considera que muitas cantigas, pelo texto poético, se podem explicar e compreender à luz dos cancioneiros trovadorescos e sob os domínios temáticos afins desse período de produção galaico-português; defende uma tese de continuidade e de proximidade entre o Cancioneiro do Douro e os Cantares de Amigo.
b) Considera que as produções poéticas populares e tradicionais se enquadram na evolução da construção da nacionalidade, quer nos acontecimentos que antecedem a formação do reino de Portugal, quer nas vicissitudes que tornaram os reis, os bispos, as ordens religiosas, os nobres e o povo, protagonistas da nossa história.
c) Destaca a importância da «região do Douro» na formação da nacionalidade, quer pelo apoio prestado à Dinastia de Borgonha, quer pelas correntes migratórias com a Galiza, com Santiago de Compostela a ser um pólo difusor e agregador, privilegiando também a Ordem Religiosa de Cister no povoamento, na cristianização e na cultura espiritual e material das populações.
d) Toma desde sempre, e ainda hoje, as romarias e festas como movimentos de crescimento e desenvolvimento do cancioneiro dos povos, embora destaque a importância de grupos e de instituições.
e) Desenvolve linhas de interpretação histórica e literária dos poemas e das músicas, quer em termos de estética, quer em termos de simbologia, quer em termos de linguagem, mobilizando a etimologia e a estilística, destacando valores etnográficos e étnicos.

Qualquer leitor se apercebe que uma obra desta envergadura, só pelo facto de coligir quanto se toca e se canta no Douro, tem um interesse imediato para os indivíduos e as instituições que se dedicam à animação cultural, ao folclore, à etnografia, aos estudos comparativos, à recreação e à criação de novos trabalhos.

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