Pesquisar neste blogue

sábado, março 28, 2009

Dos pareceres aos factos

(Esta fotografia, tirei-a no passal da Igreja de Priscos, para me inteirar do que são saramagos e ficar a imaginar o que terá sido a receita de «sopa de saramagos» da autoria do famoso Abade de Priscos, sopa que uma tia de meu colega e amigo José Faria Fernandes lhe garantira que o abade fizera e repetira vezes sem conta. Na prática, foi eu olhar e ver que uma sopa desta planta equivaleria a uma quase sopa de leitugas, no meu tempo de apanhar comida para coelhos, mas depois outros me confirmaram que em tempo de crise ou de fome, os saramagos são de proveito gastronómico à altura dos melhores legumes!)

Faço da imagem o ponto de partida deste discorrer. Quero acreditar que saberemos tirar partido de todas as ervas.

Chegou ao meu conhecimento mais um parecer do Dr. Garcia Pereira, hoje eminente jurista, anteontem meu camarada de partido, ontem meu espelho oposto, talvez, no futuro, meu companheiro de memórias e de conversas, coisa a saber se aí chegarmos.

Os pareceres de Garcia Pereira deveriam ter sido o princípio da nossa caminhada contra a política do Ministério da Educação. Foram o remate e só o foram porque a iniciativa e o voluntarismo do Paulo Guinote ainda viram nesses documentos toda a futura força que nos falta. Efectivamente é precisa agora uma razão prática que dê uso a estes pareceres e os tranforme em solução de problemas, quer a nível individual, quer a nível sindical.

O modelo de avaliação proposto pelo ME e atravancado nas nossas vidas, mesmo que ferido de ilegalidades, pode ainda justificar muita maldade a muitos intervenientes, sejam eles os lobinos secretários de estado, sejam eles os ferinos executivos, sejam eles os viperinos militantes de partido. Igualmente o legislativo sobre o procedimento concursal para o cargo de director: a ser inconstitucional ou ferido de ilegalidades, segundo o parecer de Garcia Pereira, é preciso ver agora como usá-lo para parar ou para suspender ou para corrigir uma prática que entretanto se iniciou nas escolas e que está quase a culminar em escolhas.

Já disse e justifiquei o que penso: nem o modelo de avaliação, nem o modelo de Director valem o epíteto de reformas, são e foram procedimentos políticos para aviltamento de uma classe, destruição de um tipo de escola pública e concentração de poder nas mãos de «príncipies». Mas o certo é que o nosso modo de funcionamento das instituições não é imune aos seus efeitos, nem os prevenindo, nem os cortando pela raiz quando os detecta como ineficazes. Vê-os chegar, vê-os regulamentar por despachos, portarias e informações e quando acorda para os seus efeitos, já é tarde.

Foi assim. O «agora cada um que se defenda» ainda não deveria ser a regra, porquanto nenhum sindicato abandonou a Plataforma Sindical de Luta e os pareceres de Garcia Pereira, associados ao de outras individualidades, deveriam fazer caminho nas estratégias dos sindicatos. Os professores que acham que já não têm para onde recuar e vão continuar a defender os seus pontos de vista de recusa daqueles dois diplomas legais, o da avaliação e o do modelo de gestão, deveriam poder verificar que tais pareceres são instrumentos de luta e meios eficazes de cidadania.

Em suma, trata-se de saber como é que cada professor pode recorrer ao parecer de GP para reforçar a sua recusa de entrega de objectivos e de não sofrimento de quaisquer sanções e como é que o CE (Conselho executivo) ou CG(T) (Conselho Geral/Transitório), ou qualquer professor, podem utilizar tais pareceres para parar o cilindro compressor da educação e do ensino.

quarta-feira, março 25, 2009

Todas as palavras no olhar de minha mãe

Pus-lhe a minha boina e assim ficou a ver-me, disposta a um gesto divertido. As palavras de outros deram-lhe a noção do retrato e assim continuou a olhar-me disponível. Já pouco dizemos que não seja estarmos ali um perante o outro. Tudo ficou dito para trás e tudo terá de estar presente quando agora se não fala ou se repetem lugares comuns, refrões de circunstância. Tudo faz agora minha mãe sem quase palavras! E criou ela um bando de tagarelas, faladores com ela e como ela, com o pai e como o pai, com os dois e como os dois, nessa gestão de silêncio e palavra que se toma à vez, que se aprende a sobrepor, que se mistura, que se entrecruza, que se interrompe e depois se atalha. Uma aprendizagem de vozearia, de construção do sentido a começar depois de tudo ouvir e de ouvir a todos. Ah, minha mãe, que agora o seu silêncio é do mesmo peso e da mesma força. Gosto de lhe ver a minha boina. Foi um gesto de telemóvel, saiu bem.

terça-feira, março 10, 2009

A insegurança da «escola segura»

(Extraí da primeira página do jornal bracarense «Correio do Minho», edição de hoje, dia 10 de Março de 2009)
Há pouco tempo foi a um professor, ontem foi a um segurança, elemento do programa «escola Segura», a fazer serviço na minha escola. Mais «um caso «isolado» para o nosso rol de casos isolados, que são a nossa matéria de educação e de ensino. Estamos perante uma guerra surda, mas contínua: há dois lados bem definidos e há espaços intermédios para percorrer, sem dúvida: um dos lados é o da desordem, o da indisciplina, o do justicialismo por mãos próprias; o outro lado é o da ordem, o da disciplina, o da aplicação da lei em instâncias próprias; no meio há territórios e espaços de mediação, dois deles bem definidos também: um, o da notícia, o dos comentários, o da conversa aqui e ali, caminho sempre necessário, mas insuficiente face à largueza da impunidade em que estes crimes vão ocorrendo; outro é o da chamda de atenção aos organismos legais, caminho sempre moroso, quase sempre lento. Os resultados são incontornáveis: a violência cresce, instala-se, naturaliza-se. Impõem-se medidas: reunião de emergência dos poderes escolares que representam a comunidade, reunião de emergência das entidades responsáveis pelas escolas, para que se tomem medidas e se apliquem efectivamente.

segunda-feira, março 09, 2009

Sobre o estado dos caminhos

(Mais uma foto que RM de Montalegre me enviou para validar a intervenção do seu município na reparação rodoviária próxima, imediata, de algumas mazelas. Aproveito-a como figura discursiva.)

Não sou dado a muita conversação com os visitadores do meu blogue, mas leio-os atentamente, sinto quando me interpelam e quando me estimulam, faço os possíveis por ir integrando as suas contribuições.

De qualquer modo, sigo em estrada que eu próprio vou tratando mal, esburacada e desgastada por minha própria forma de circular, desatempado que sou nas reacções a estragos. Os buracos assolavancam-me, e se bem os provoquei, melhor eles me têm feito em ser castigadores.

Veio a estrada a propósito de uma recente proximidade de conversa com a minha colega Gracinda Castanheira, numa ida juntos a uma escola para trabalho com alunos.

Nos caminhos da educação, a minha geração abriu tantos buracos ou mais que aqueles que quis reparar - pode já o leitor ficar com o resumo final da conversa. Quem frequentou as escolas de antes de Abril como aluno e depois as frequentou logo a seguir como professor, foi o nosso caso, hoje andará com esta imagem das estradas na cabeça: os reparos são continuados, os buracos continuados são. Se antes os havia e nós os julgávamos grandes, até porque o betuminoso ainda não era solução de reparo, andamos hoje com a ideia de que os fomos tapando com mais carga de vontade que de materiais resistentes, mas sobretudo andamos com esta ideia, porventura voluntarista também, de que o estado das estradas pedagógicas se mede não pela lisura de piso ou irrepreensão de estado, mas pela constante emergência de buracos, buraquitos e fissuras, umas vezes de velocidade crescente outras vezes isso mesmo, pequenas, frequentes, irritantes, contínuas.

Um homem habitua-se a andar de cu tremido nas escolas, sem que este tremido assente já em medos, temores ou tremores, para depois passar a andar sempre de carreta na mão a tapulhar. E fomos nós também os que assistimos ao anúncio das autovias ou autoestradas da educação! Por certo, os que lá andarem, terão outro consolo de piso, eu e ela, por cá, neste localismo regionalista de missão, vamos cruzando vias estreitas de progressão, com atalhos, carreiros e cangostas. Eu por acaso vou passar a circular agora com a minha escola em territótio TEIP2, e foi precisamente para tapamento de buracos que apelámos a uma agora sobredita dosagem de discriminação positiva de recursos educativos, oh! palavras que até parecem provir das obras públicas.