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terça-feira, dezembro 02, 2008

Cai neve na natureza e cai no meu coração!

Foi minha irmã Paula quem me enviou a foto da neve no nosso quintal de Raiz do Monte, onde temos os pais a viver. O caminho vai da loja no rés-do-chão para os arrumos da lenha e para o portão de entrada dos carros, ali junto a um castanheiro centenar. Foi no domingo, dia 30 e foi uma nevada em grande pelo que meu pai contou. Eu estivera lá na sexta-feira, dia 28, quando a neve começou a cair e a acumular. Saí já noite para me ir encontrar com amigos a caminho de Viseu, com a ideia de apanharmos a azeitona de outros amigos, ainda que logo soubéssemos que a chuva e o mau tempo estavam previstos para fazerem da jornada de trabalho uma ocupação de cozinha e mesa, o que de facto aconteceu. Próximo de Castro Daire, a neve queria tapar a estrada e estava a consegui-lo, depois soubemos que o fez pela noite fora; em Viseu chegou a querer pegar, mas a chuva contrariou-a. Ficou fria nas oliveiras, de engrunhar os dedos nas poucas azeitonas que apanhámos para curtição. Foi nevada que me fez lembrar a meninice em Jales, naquela ocasião em que ficámos 15 dias isolados de tudo e de todos, sem pão e sem vinda de vendedores. Minha mãe afligiu-se de morte, meu pai subiu ao telhado para aliviar as telhas, todos abrimos rotas de casa para as cortes dos porcos e galinheiros e das casas para o tanque onde íamos à água, de casa para os escritórios da mina, dos escritórios para as oficinas e para os poços de descida e subida de mineiros e minério. Éramos miúdos e ficávamos tapados nos caminhos. Nas cordas, dentro de casa, das portas para o fogão e por sobre a braseira, era só meias e meiotes, camisas e camisolas, tudo a secar. E nós naquele suadoiro de gozar a neve, entra e sai de casa, patanha tudo, molha tudo, encharca, escorre, tira a roupa para não esfriar no corpo, veste outra e toca a jogar a neve. Descalços nos socos, lembro-me de pés e rostos de amigos, quentes como fogo, que assim ficavam as mãos depois de tanto pegar na neve. E a neve branquinha que se bebia para matar a sede, e a neve que se agarrava aos socos e às botas e dava para crescer uns palmos, e a neve que se enrolava em bolas para bonecadas, e a neve que se tirava à terra para atrair a passarada às ratoeiras. E aqueles chupa-chupas dos pingantes de gelo nos beirais dos telhados! Triste, na nevada, era ficar doente e ver tudo da janela!

Hoje é quarta-feira, dia 3 de Dezembro. Faço greve, na impossibilidade de assentar duas lostras virtuais em quem me apetecia. Ficam dadas. E outras tantas prometidas, que mentirosos não se curam a bate-papo democrático e ao mais devia ser essa a via da lucidez. Perdi-lhes o respeito, aos que mandam e aos que mandam mandar, tão pouco o tiveram comigo, prepotentes, iníquos de verborreia e mesquinhez. P'ra eles, que feda!

8 comentários:

Anónimo disse...

Quem me dera ter visto tb tanta neve em Braga!
Para matar saudades da brancura da paisagem mas tb para proporcionar ao meu filhote, que nunca viu tal beleza,as habituais brincadeiras na neve!
Contentámo-nos no domingo de ver a neve cair enquanto a chuva caía a valer!

Anónimo disse...

Lostras virtuais é pouco!

Anónimo disse...

Desculpai a minha ignorância, o que são lostras?

Anónimo disse...

Eu tenho esta ideia de que lostras são porradas, bofetadas, tabefes, mas no dicionário do Houaiss aparece com o sinónimo de escarro, golpe desferido com vara ou chicote, vergastada, podendo remeter-se a sinonímia da palavra para campos semânticos relacionados com bordel ou com actos de mulher desmazelada. No contexto, empreguei «lostras virtuais» com o sentido de dois açoites bem dados no rabo, suficientes, por agora, para satisfazer a catarse. José Machado

Anónimo disse...

Obrigada pelo esclarecimento , quando me chatear com alguém já vou dizer que "precisava de umas boas lostras" e olhe que para estes "melros" (sem ofensa para os melros)do Ministério da Educação lostras é muito pouco.

Anónimo disse...

Ó Zé, tu deixas-me muda e sinto-me pequ(i)nininha à tua beira.
Mas que texto tão lindo e tão menininho na graça e na ternura das palavras.Recuei no tempo e vi-te correr e a entrar e a sair de novo;vivi esse entusiasmo que também eu experimentei uma vez, mas só ao de leve. E depois a parte final e depois o título e depois...
ó zé, também "cai neve no meu coração!"
OBRIGADA!

Unknown disse...

Zé Herminio,
Valeram as lentes bifocais, que passei a usar, que mantiveram o fio entre a leitura e a lágrima que enche o olho mas não saí.

Dá orgulho ter assim um irmão!

Anónimo disse...

"Boa noite;

Foi no último dia de Novembro;

Há uns bons trinta e tal anos que não tinha a oportunidade de relembrar Cabanes, a minha aldeia natal, tal como dela me recordo em muitas e boas vivências da minha infância e juventude!...
Foi um momento magnífico de nostalgia pessoal que quero partilhar convosco!...

Abraço a todos
João Queiroga"

Zé;
Não resisti a furar a primeira oportunidade de acesso pela A7 e subi ao planalto do Alvão naquele mesmo dia do grande nevão com cuja foto de tua casa, em Raiz de Monte, ilustras o texto.
Com a saudação que acima transcrevo, partilhei algumas das fotos magníficas que de lá trouxe na câmara e na retina!...

Quanto ao texto, excelente como habitual, da neve que cai na natureza como no teu coração, como eu me identifico, no tempo, no lugar e no modo da narrativa!...

Já no que toca às lostras virtuais com que brindavas, em rodapé, alguns dos nossos mais estimados governantes do sector, atrevo-me a sugerir-te, em próxima oportunidade, o uso do estadulho!...

Abraço
João Queiroga