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sexta-feira, dezembro 26, 2008

Bodas de Ouro

(Foto tirada no Verão em Coimbra, mas que faz aqui o sentido de mostrar o casal que celebra 50 anos de casamento, as Bodas de Ouro, dia 27 de Dezembro, em Cabeceiras de Basto: o Guilherme Pereira de Magalhães e a Maria Augusta, ambos professores aposentados, com três filhos e já com netos, com casa em quinta na Faia, Arco de Baúlhe. A Tininha, minha esposa está à direita de quem vê e eu ainda mostro um braço; naquele momento pestiscávamos qualquer posodoria discreta e aguardávamos...)

Seremos bastantes na homenagem e na celebração festiva, mas eu fiquei encarregado de «implicar» por três, a minha própria pessoa, o meu compadre João Alves Dias e o meu amigo Manuel Duarte, porque nós os três fizemos estágio pedagógico com o Guilherme e mais dois colegas, o Campos e o Manuel Ribeiro, na Escola preparatória Diogo Cão em Vila Real no ano lectivo de 1976/77. Eu era o mais novo dos seis e o Guilherme o mais velho. Tivemos como orientadoras, de Português e de História, duas colegas professoras, novas no jeito e na efervescência didáctica, empenhadas e dedicadas, hoje inseridas no nosso círculo apertado de amizades e de referências curriculares, a Fátima Picão e a Helena de Deus. Foi um ano em que nós os seis homens decidimos deixar crescer bigode, para igualitarismos de gestualidade labial e balizamento externo da palavra. Do grupod e estágio, estaremos os três disponíveis. Fui encarregado de compor um «soneto» - a solução clássica - e aqui o deixo à consideração de todos.

Bodas de Ouro


A vossa história é fio condutor
Dos filhos, dos amigos, dos vizinhos;
E quem de vós conversa nos caminhos
Conclui que as vossas rugas são de amor.

Em Deus, o vosso impulso criador,
Acumulou trabalhos e carinhos,
Achou sentido às rosas e aos espinhos
E consagrou em pão todo o suor.

Depois de tantos anos, o futuro
Está nesta esperança de infinito,
De toda a vossa prole e descendência,

A quem deixais o exemplo humilde e puro
De amor, dedicação e sacrifício,
Valores essenciais da existência.

José Machado, Dezembro de 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

Meu rapaz!

Foi tirada no Nariz do Mundo, em dia ensolarado, mas frio, depois de almoço. A madrinha e o afilhado, o nosso Zé Carlos, pode ser a legenda mais acertada, dado que não se vê quem os rodeava e quem lhes elogiava o gesto, pai e mãe e irmão e cunhada e amigos do peito.
Fôramos ali para celebrar anos e encontros, nós, um grupo de gente que se ensarilhou com trabalhos e com dores, como se a roda da fortuna andasse à vez a escolher-nos para nos dobrar a espinha. Encostamo-nos uns aos outros e passamos, cheios de relatos de desânimo, mas aquecidos pela vontade de viver. Valemo-nos, com a esperança de resistir à dor. Temos um sentido demasiado sagrado da nossa fraqueza, mas ainda nos serve como horizonte de palavra e como limite da provação.

Penso em ti todos os dias
e sinto a corrente da montanha
O céu é azul e a luz entranha
as sombras fugidias
do inverno

O rosto é um refúgio
guarda-te a coragem
O vento sopra e o búzio
repete a linguagem
do eterno

Força, meu rapaz!

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Poema de Natal

(Foto do Paulo Almeida, em Raiz do Monte)

Para todos os amigos e leitores deste blogue, com os votos de aumento de uma rede de afectos e de solidariedade, mas também de uma rede de pensamentos críticos e de ajudas interventivas, com música, com festa e com esta ideia peregrina de aproveitarmos bem o nosso presente, aqui deixo o meu poema de Natal, inspirado no cinema.


O Filme de Natal

Cá estamos nós, Natal após Natal,

Revendo o velho filme de acção

Que o Tempo realizou, na presunção

De ser o mais antigo e original.

As mesmas personagens, num curral,

Dão conta do enredo que o guião

Dispôs, sem permitir variação

Na fala, gesto ou pose pessoal.

O filme é mesmo assim, sem intervalo,

Projecta-se em contínuo movimento…

Quem quer pode esquecê-lo ou retomá-lo.

Natal após Natal, o filme ajuda

- É tudo uma questão de encantamento -

A visionar diferente o que não muda!

Com os votos de Boas Festas e de um Santo Natal,

José Machado e Tininha, Braga, 2008

terça-feira, dezembro 02, 2008

Cai neve na natureza e cai no meu coração!

Foi minha irmã Paula quem me enviou a foto da neve no nosso quintal de Raiz do Monte, onde temos os pais a viver. O caminho vai da loja no rés-do-chão para os arrumos da lenha e para o portão de entrada dos carros, ali junto a um castanheiro centenar. Foi no domingo, dia 30 e foi uma nevada em grande pelo que meu pai contou. Eu estivera lá na sexta-feira, dia 28, quando a neve começou a cair e a acumular. Saí já noite para me ir encontrar com amigos a caminho de Viseu, com a ideia de apanharmos a azeitona de outros amigos, ainda que logo soubéssemos que a chuva e o mau tempo estavam previstos para fazerem da jornada de trabalho uma ocupação de cozinha e mesa, o que de facto aconteceu. Próximo de Castro Daire, a neve queria tapar a estrada e estava a consegui-lo, depois soubemos que o fez pela noite fora; em Viseu chegou a querer pegar, mas a chuva contrariou-a. Ficou fria nas oliveiras, de engrunhar os dedos nas poucas azeitonas que apanhámos para curtição. Foi nevada que me fez lembrar a meninice em Jales, naquela ocasião em que ficámos 15 dias isolados de tudo e de todos, sem pão e sem vinda de vendedores. Minha mãe afligiu-se de morte, meu pai subiu ao telhado para aliviar as telhas, todos abrimos rotas de casa para as cortes dos porcos e galinheiros e das casas para o tanque onde íamos à água, de casa para os escritórios da mina, dos escritórios para as oficinas e para os poços de descida e subida de mineiros e minério. Éramos miúdos e ficávamos tapados nos caminhos. Nas cordas, dentro de casa, das portas para o fogão e por sobre a braseira, era só meias e meiotes, camisas e camisolas, tudo a secar. E nós naquele suadoiro de gozar a neve, entra e sai de casa, patanha tudo, molha tudo, encharca, escorre, tira a roupa para não esfriar no corpo, veste outra e toca a jogar a neve. Descalços nos socos, lembro-me de pés e rostos de amigos, quentes como fogo, que assim ficavam as mãos depois de tanto pegar na neve. E a neve branquinha que se bebia para matar a sede, e a neve que se agarrava aos socos e às botas e dava para crescer uns palmos, e a neve que se enrolava em bolas para bonecadas, e a neve que se tirava à terra para atrair a passarada às ratoeiras. E aqueles chupa-chupas dos pingantes de gelo nos beirais dos telhados! Triste, na nevada, era ficar doente e ver tudo da janela!

Hoje é quarta-feira, dia 3 de Dezembro. Faço greve, na impossibilidade de assentar duas lostras virtuais em quem me apetecia. Ficam dadas. E outras tantas prometidas, que mentirosos não se curam a bate-papo democrático e ao mais devia ser essa a via da lucidez. Perdi-lhes o respeito, aos que mandam e aos que mandam mandar, tão pouco o tiveram comigo, prepotentes, iníquos de verborreia e mesquinhez. P'ra eles, que feda!