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terça-feira, novembro 11, 2008

As boas obras fazem-se de nuvens

Foi meu irmão António quem me enviou esta fotografia e julgou ele que bastaria eu vê-la para lhe achar sentido neste estaleiro de palavras. Supôs ele que o céu pudesse dizer-se em construção e enviou-ma com o cuidado de me prevenir contra o desleixo e a incúria, o que lhe terá ocorrido por me ter visto repetir a foto dos gravetos e cepas no texto anterior. Ou ter-ma-á recomendado por via das questões abordadas, essa intrincável gorjeada sobre a avaliação dos professores, matéria já quase insuportável a um observador distraído, que os atentos desviam-se dela sem saber de quê, a menos que lhes valha algum sentimento de solidariedade com familiares e amigos, ou que sejam do mesmo ofício de insubordinados. E todavia a fotografia mexeu comigo e envolveu-me nessa teia de estar o céu em obras para sustentar de terrenos e lotes as apertadas precisões da própria terra. As gruas prestam-se a esta ideia de liberdade, depois de servirem como tenazes da servidão. Fazem-se castelos nas nuvens e desfazem-se as nuvens nos caboucos dos castelos, o sarilho é a mania das grandezas não arranjar lugares de sossego. O mote foi bem dado e o efeito resultou. O céu ameaçador parece o desafio das gruas, só falta saber das razões para se mostrar tão negro. Quem ergueu as gruas deverá responder. Foram elas para que obra de exemplo e função? Para que torres de espanto as predispôs o governo da terra? Em que nuvens se imaginou o ministro das mesadas? De que orgulhosa altura se quis medir a tutora das escolas? Agora nem o céu cai, nem a obra avança. Tudo se ergueu só para se ver assim. É este o princípio dos pesadelos. Vou comprar um elefante para oferecer aos príncipes do meu reino.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não há dúvida de que os nossos governantes (no campo da educação e não só) precisam de "voltar" a pôr os pés no chão e ver com olhos de ver a realidade das nossas escolas públicas.
Devem andar na lua!

Anónimo disse...

Comecei a ler este blog, quando um amigo mo referiu, a propósito das sentidas palavras acerca do Borralheiro. Escusado será dizer que nunca mais deixei de o ler.E se o admirava, pela dor lancinante como manifestava a amizade pelo amigo perdido, hoje, admiro-o pela forma como trata as palavras. a sua prosa é "poética", solta, sentida...
Isso é um dom. Conserve-o
Bem haja