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quarta-feira, outubro 01, 2008

Jipes, touros e objectivos individuais

(Foi meu irmão António quem tirou estas duas fotos em Nova Iorque, no centro financeiro, na Bolsa, e se ele as tomou como representações de força e poder, eu aproveitei-as para um destampatório sobre a situação escolar cá no país ou no burgo. Não estou certo das distâncias nem das proximidades, mas o impacto das imagens ajusta-se ao que penso sobre a nossa furiosa paronoia de objectivos individuais)














Nós gostamos de imagens fortes. Touros de cobrição e carros de potente cilindrada ajustam-se a retratos de poder. Os filmes já despistaram as razões todas e as que ainda estiverem sonegadas à interpretação hão-de, certamente, reforçar as velhas: que a potência das imagens seja a potência da liberdade, também aceito e é daí que tudo tem princípio. Seja: um homem ambicioso inspira um povo ambicioso, mas porventura já terá recebido dele a inspiração, a tomar como sensatas as teses de Espinosa. Touros de potência e carros de cobrição, aqueles assegurando a reprodução e estes a segurança de pessoas e bens, são um fait-divers da interpretação. Do animal à máquina, dos cornos ao motor: a mesma fúria de vencer.














Ora é precisamente desta filosofia individualista que sai a arte das representações expostas. Ideário que faltava por cá, país de brandos costumes, ideário que faltou em regimes de musculatura popular colectivista, mas ideário de que não se pode abdicar se queremos ser alguém e se queremos sair da cepa torta. Ideário que, por inspiração chinesa, chegou finalmente aos nossos abnegados ministros e ministras.

A minha esposa já andava com esta teoria no seu Banco há uns tempos, trazia-a para casa, explicava-a minuciosamente nestes termos: um bancário tem que ter objectivos para chegar o mais longe possível, o ideal é que duplique sempre aqueles que lhe marcam como mínimos, se os triplicar então é porque já interiorizou bem a filosofia da ambição. Ter objectivos individuais é abdicar de horários, é abdicar do tempo livre, porque sim, porque sim, só não vê quem não seguir a lógica. O chefe vai surgir de entre os que levarem mais longe a invenção de objectivos. O topo estará reservado a quem conceber objectivos irrealizáveis. A falência do edifícoo só pode dever-se à má sorte. A vigarice e a pulhice passam a ser tácticas conjunturais, sempre episódicas, desculpáveis devido à natureza do sistema.

Que um gajo solto e génio enterre um Banco, já se viu e já se falou. Mas ainda não é conhecida qualquer objecção a que o sistema de objectivos, ligado a um bom sistema de incentivos, possa levar uma escola à ruína. Portanto, há que experimentar.

Esta crise económica, pese embora eu não perceba a linguagem de subprime nem a de alavancagens financeiras, não é filha parida deste ideário insidioso dos objectivos individuais? E$u ia jurar que sim! Mas quem controla as bestas? Os touros capam-se e os motores reduzem-se com sensores. Mas só depois de experimentar a «pica» que a coisa tem!

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, agora o que interessa no ensino são os "papeis", os tais documentos com os objectivos do professor!
Criar melhores condições físicas nas escolas, ou seja, melhorar as instalações, construir pavilhões desportivos para não falar em reduzir o nº de alunos por turma, colocar mais profs de apoio ou de ensino especial para ir de encontro á tal inclusão...e tanta coisa mais...
Em vez de se subsidiar os manuais escolares, vai-se investir nos "Magalhães" e quadros interactivos!
Onde vamos chegar?

(Docente a pensar na definição de objectivos)

Luis Castanheira disse...



Sou bastante mais novo que vocês, mas contigo e com os meus pais acho que desde cedo aprendi a essência da vida: tentar ser feliz e não ser o melhor, ter prazer e gosto naquilo que se faz e não ter prazer em ser o melhor e para isso desejar que todos os outros sejam medianos.
Hoje em dia a ideia que corre é que temos de ser os melhores em tudo, que temos de ter sucesso, ou seja, ter uma elevado salário, fruto de sucesso profissional.
Toda a gente gosta de referir que a universidade onde estudou ou a empresa onde trabalham é lider em qualquer coisa!
A qualquer custo temos de ser os melhores!
Graças a deus que o saber não é posse de alguém, de alguns iluminados desta ou daquela universidade, desta ou daquela corrente!
Se calhar por isso ainda hoje reconheço ao ensino universitário em Portugal um défice "democrático" enorme e uma cultura do YES Man. Falta debate de ideias e capacidade de saber ouvir e mesmo avaliar os alunos que discordam, que acham que a corrente defendida não é a mais correcta.
Na minha actividade de bancário aprendi a ser feliz não com o cumprimento de obectivos, mas sim com o fortalecimento de relações, relações que evoluiem de simples relações comerciais para relações de afectos que ultrapassam os spreads e as comissões, relações que nos envolvem nos projectos dos clientes e que vemos crescer com passar dos anos.
Sem nunca me deixar pressionar pelos orçamentos e pelos objectivos, as relações e o respeito pelas pessoas sempre fizeram com que os cumprisse.
É óbvio que com esta postura, no curto prazo podemos sempre não os atingir, mas no longo prazo dá quase sempre num crescimento mais sustentado e forte e que resiste às adversidades.
Mais importante do que ter objectivos, é ter uma estratégia correctamente definida a médio prazo, mas também ter a capacidade para perceber se resulta ou não e alterá-la, reagir!
Quem mais rapidamente percebe a evolução maior capcidade de sucesso tem.
Nisso o nosso ensino falha redondamente! Ensina cartilhas, regras inquebráveis, verdades absolutas, quando devia era desenvolver capacidade de raciocínio de crítica e de análise daquilo que se passa à nossa volta.
No meu caso em particular, durante os primeiros dois anos na faculdade as minhas notas foram três valores mais baixas do que nos ultimos três. E porquê?
Porque entrei com´espirito aberto, lia na biblioteca sobre os assuntos sobre os quais estudava e contrapunha as ideias feitas.
Percebi depois que não valia a pena perder tempo a falar para as paredes! E não era minha intenção discutir o que era melhor ou pior mas apenas que poderia haver uma visão diferente sobre as coisas. Foi inutil!
Passei a fazer exactamente aquilo que eles queriam e consequentemente a tirar melhores notas. Felizmente para mim sem nunca perder a consciencia que o fazia apenas para contornar obstaculos e não como modo de vida.
Isto para reforçar que as pessoas começam ced a abdicar dos seus sonhos e das suas ideias em nome de pseudo sucesso mas que não conduz de facto à felicidade.

Sobre o subprime, vou contar-te uma rábula que diz quase tudo:

O sr. Malaquias tinha um tasco numa aldeola do alentejo.
Os seus principais clientes eram homens, de meia idade, quase todos sem trabalho ou rendimentos fixos.
O Malaquias achava que o negócio andava fraco e para animar decidiu que ia fiar à maioria dos seus clientes regulares.
A facturação disparou.
Um dr. gerente do banco achou que as contas da empresa do malaquias tinham melhorado significativamente e que este passava a ser merecedor de crédito.
Um outro DR., este já com um MBA tirado num excelente instituto qualquer, e que trabalhava num banco de investimentos achou que dado o aumento que o baco teve nos eus negócios e lucros, seria bom montar um qualquer empréstimo ao banco sobre os seus "valiosos" activos (os empréstimos aos malaquias), empréstimo esse por sua vez segurado e ressegurado por vários outros bancos e companhias de seguros.
Bom de ver que quando os coitados dos clientes do malaquias não puderam pagar as suas dívidas o malaquias faliu, traznedo consigo obviamente a desgraça ao mundo da lata finança.
Curioso não é?

Foi apenas uma reflexão que me apeteceu fazer sobre o teu texto!

Peço desculpa pelo espaço ocupado!

Anónimo disse...

Óptima reflexão, proveitosa, eficaz, exemplar. Bem hajas, meu jovem.

Anónimo disse...

Estou muitas vezes de acordo contigo, mas hoje a minha "concordância" ainda é maior, a começar com o título grandioso( como é de bom tom!), a acrescentar a analogia com os objectivos empresariais que a tua esposa te quis transmitir, para acabar na conclusão brilhante e pertinente.
A tua reflexão é de mestre.
Parabéns, também, a esse jovem Luís que, não sendo da profissão, tão bem entende as amarguras da docência.
Um abraço

Anónimo disse...

Hoje o meu beijo comovido vai para o menino que me baptizou de Ibel. Estou orgulhosa Luisinho,Pepo Caleira!
Para o Zé é sempre aquele espanto!!!!