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segunda-feira, julho 28, 2008

Meu querido amigo Borralheiro

Em memória de Rogério Capelo Pereira Borralheiro

(Salto 1952 - Braga 2008)

Nasceu no coração de Salto, concelho de Montalegre, em 10 de Janeiro de 1952, onde fez os estudos do 1º ciclo. Depois estudou no Colégio da Borralha e foi aluno do Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga. Nesta cidade obteve o diploma de professor no Magistério Primário e começou a exercer na Escola de S. Lázaro, depois nas Minas da Borralha e finalmente em Airó, Barcelos, durante duas décadas. Licenciou se em Ensino da História e das Ciências Sociais na Universidade do Minho, onde obteve também o grau de Mestre em História das Populações. Exerceu também funções docentes na escola Superior de Educação de Fafe. Presentemente encontrava-se na situação de professor aposentado, mas envolvido no programa de doutoramento em História, sob a direcção do professor Doutor José Viriato Capela, com o estatuto de investigador da JNICT a tempo parcial. Político empenhado do partido PSD, foi vereador da Câmara de Montalegre e membro da Assembleia Municipal. Actualmente era membro da Assembleia de Freguesia de Salto.

Foram breves os seus dias, mas intensamente vividos como cidadão, apaixonadamente harmonizados na relação familiar com sua esposa e dois filhos, também amorosamente comprometidos no mesmo sonho, festivamente cantados e bailados por recintos, ruas e palcos, intelectualmente satisfeitos em obras de investigação histórica, convictamente participados na sua Assembleia de freguesia, na sua comarca e nas associações de que era membro
: a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga, de que era vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral, a Associação Cultural e Festiva «O
s Sinos da Sé» (Grupo Folclórico de Professores de Braga), a Confraria Gastronómica da Carne Barrosã e os Bombeiros de Salto, de que foi presidente da Direcção.

Morreu cedo, mas em movimento de dinamização contínua da sua vida familiar, cultural e intelectual, entusiasmando-se e entusiasmando os outros, transmitindo nas palavras e na relação pessoal uma curiosidade insatisfeita, uma apetência pela aprendizagem, uma dedicação íntegra às causas e às pessoas, um desejo de cooperação e de bem estar, harmonizando diferenças, relativizando divergências, assumindo princípios e convicções.

É autor e co-autor de mais de uma dúzia de trabalhos referenciados na área da história, os quais resultam da sua integração numa equipa de investigação dirigida pelo professor doutor José Viriato Capela, destacando-se também a sua participação em Colóquios e Seminários.

O seu humor colorido, a sua graça empolgante, proporcionaram a quantos privaram com ele uma dimensão de humanidade sadia, evocativa de uma infância feliz como lugar de regresso futuro, onde a presença de avós, pais, tios, primos, sobrinhos, colegas de escola e de trabalho, amigos, vizinhos, se reflectia nessa representação da Casa enquanto símbolo da unidade pessoal e social.

Foi um homem da sua terra na terra de outros, tudo fazendo para que transportássemos juntos essa arca da aliança que une as tradições e os projectos de desenvolvimento local, regional e nacional, estruturando as suas intervenções a partir de uma matriz cristã, humilde e criticamente receptiva.

Tomou a escola como terra de semente, tomou a terra como escola de virtudes. Fez a casa, plantou as árvores, fez os filhos, granjeou os amigos, escreveu os livros, guardou as histórias e contou-as.

Se dele aproveitarmos o exemplo, aceitaremos a vida como tempo propício de esperança, tomando o trabalho como princípio regulador, procurando sempre novos projectos de envolvimento, novas parcerias, novos desafios.

Morreu precipitadamente, com o mesmo mistério de causas que envolve a génese da vida: essa suspeita de um desígnio de Deus, que ele tomava como Luz do Ser.

Meu querido amigo, a dor rasgou-te o corpo,
Desconcertou-te os braços e as palavras
Ficaram nos teus lábios embargadas,
Mas expostas ao nosso desconforto.

Caiu-te o céu em cima, em fogo posto,
Sem tempo à dispersão das tuas asas
Por terras, por histórias encantadas,
Que garantem à vida o seu renovo.

Mas foi grata a presença dos teus passos,
Intensa foi a marca do teu riso,
Segura a prontidão dos teus abraços.

Entre nós vai agora ser preciso
Que venhas do Eterno Paraíso

Apertar com firmeza os nossos laços.

José Machado, Braga, 2008-07-28

sexta-feira, julho 18, 2008

Actividades folclóricas

Esta foi em Tourém, na festa de S. Pedro, dia 29 de Junho, um domingo cheio de sol, com as calçadas a pedirem sombra e os corpos a desejarem correntes de ar.

As fotografias dão testemunho da nossa participação e do nosso envolvimento, nessa perspectiva de integração no tecido local, tomando parte na procissão com os cânticos, em polifonia popular e em composição instrumental; para o efeito fizemos uma marcha a S. Pedro, com aquele fragmento de texto que é invocado nas orações: que nos feche as portas do inferno e nos abra as portas do Céu!

Depois houve bailarico nas ruas, envolvendo as pessoas e o próprio padre da paróquia que fez jus aos seus pergaminhos.

«Bô» esteve e bem nos correu, que o almoço fora de vitela barrosã, estufadinha a preceito, tenrinha e suculenta, tudo servido na casa de um minhoto que assentou arraiais em Tourém, por coincidência elemento do nosso grupo, caçador, membro também da Junta de Freguesia. A ele, à esposa e ao filho, o nosso agradecimento por tudo, desde logística até ao aconchego de corpo e alma e até às próprias fotografias, que o rapaz esmerou-se e acompanhou-nos bem rua acima e rua abaixo.
Pode tudo parecer de faz de conta e pode tudo ter sido mais real que o que parece, já que a animação cultural que se julga partir da primeira (o parecer) para fazer melhor a segunda (o ser como foi ou como ainda é), neste caso andou ao contrário, de tal modo se viveu a situação que não se conseguiu reproduzir um passado, mas iniciar um presente que agora se vê com vantagem em continuar e em ser repetido no próximo ano.

Tudo bem, enquanto houver este ciclo de energia e esta vontade de estar nas coisas com uma tradição de as renovar.

Os pretextos da festa são sempre os mesmos e os costumes reforçam-nos, mas que hoje se assiste a uma acentuada reposição da memória já não tanto por razões de ensinar os novos, mas sobretudo para que fique mais aliviada a solidão de envelhecer sem eles, é o que me parece estar a verificar-se.
A desertificação das terras requer uma animação de sobrevivência, mas outra também de integração, criando raízes e alargando contactos, apoiando iniciativas e concretizando estados de alma: nessas pequenas coisas que podem ser as cantigas, os livros, as viagens mais frequentes.

Quando se acaba e se ouve o «hão-de cá voltar» fica-se com outra ideia de nós, carentes e cúmplices deste modo de estar que tem de ser de ir e vir, mas também de criar raízes.

segunda-feira, julho 14, 2008

Em vez da terra, a casa

Cumpriu-se o ritual de içar a bandeira e cantar o hino na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga, no sábado dia 12, posto que de véspera se começassem as celebrações do 22º aniversário com uma tertúlia cultural para invocar Miguel Torga e conversar sobre o livro de Viriato Capela, Rogério Borralheiro, Henrique Matos e Carlos Prada - «As Freguesias do Distrito de Bragança nas Memórias Paroquiais de 1758» - livro pesadão, mas consistente e bem organizado, que se dispõe como «miradouro» privilegiado sobre as nosas terras: de lá para cá é só fazer as contas e pensar nos futuros que fizemos e aos que chegámos hoje: desde património construído a património virtual de crenças e narrativas, desde bens da Igreja aos rendimentos dos párocos, desde rios e serras à caça e à pesca, desde pessoas às instituições; o que lá falta foi o que o progresso fez e agora pode ser uma boa ocasião para nos surpreendermos. O professor Viriato Capela fez uma comunicação de clareza singular e tudo deixou explicado, mesmo nesse insinuar de que hoje não responderíamos tão rápido a um inquérito sobre nós, mesmo nesse insinuar de que podemos estar perto de esquecer as paróquias como «organizadores» do tecido social.

A Casa substitui as terras de origem, até quando consome os bens que ela produz e até quando se fecha em reuniões, colóquios, jogos de cartas, romagens ao cemitério, e até quando se esquece como lugar de frequência regular.

Depois, o mês foi de balanço para o ano escolar que findou, quase sem saldo positivo, tal foi a persistência das arritmias legislativas do ME, mas também foi de saídas para animação cultural, folclórica ao fim e ao cabo, que tem sido com este jogo de figurar quem fomos que temos andado a mostar como estamos. Neste passado próximo foram duas saídas para terras de montanha e de serra, Tourém no S. Pedro e Castro Laboreiro no S. Bento, a primeira a 29 de Junho e a segunda a 12 de Julho. As festividades religiosas ainda são pontas de lança da animação cultural e ainda se constituem como espaços de narratividade oral: quem está e quem não está, o que foi e o que é, quanto se fez e disse e mais quanto se escondeu e provocou: ele há padres que falam bem do mundo e outros que o fustigam, ele há pobreza e tristeza, mas ele há também progresso e desenvolvimento, há por aí corredores de ar puro e há por aí gargantas espantadas: tudo se vê e tudo se mostra. Mas quer não que há por aí sinais de fuga e de solidão.

A música popular quer-se gaiteira, o baile quer-se de fôlego e a madrugada continua a ser hora de viração.

sexta-feira, julho 04, 2008

Para um casamento especial














Quem de vós espera
Um cantar de amor,
Há-de querer ouvi-lo
Seja quando for:
Nas manhãs claras,
Nas manhãs sombrias,
Nas horas amargas
E nas mais festivas.
Há-de querer do tempo
Peso e medida,
Para encantamento
Ao longo da vida.


Quem de vós espera
Um fruto de amor,
Há-de querer tocar-lhe
Com uma flor,
Cheia de sorrisos,
Rica de esperanças,
Rubra de improvisos,
Áurea de lembranças.
Há-de querer do tempo
Ousadia e calma,
Para provimento
Do corpo e da alma.


José Machado
Braga. 2008